Saíram de baixo da cachoeira quando o sol descia trazendo a noite. As luzes começaram a ser acesas por todos os lugares, e Livya entendeu o porquê de Gabriel dizer que parecia uma fogueira de longe. Luzes de todas as cores brilhavam pelas casas e ruas, algumas redondas, outras cumpridas, colocadas de um jeito que formassem alguma imagem ou palavra.
Bares e restaurantes escreviam seus nomes com elas, alguns deixavam piscando enquanto outros somente as mantinham acesas. E diferente de antes, quando a cidade já parecia estar muito movimentada, agora o movimento parecia ter dobrado.
Som de garrafas e copos sendo quebrados, com gritos de bêbados e apostadores, competiam com as quedas da água. O grupo seguiu pela lateral do muro, ignorando os pedaços de roupa que ficavam molhados e entraram novamente nas ruas.
— Qual era o real motivo de estarem aqui? – indagou Gabriel, assim que foi possível ouvir novamente, para Bia e Samuel.
— Estavam atrás dessa Hylari, por quê? – perguntou Naomi.
— Era uma missão de Jonas – respondeu Bia, parecendo culpada por enganá-los. – A ideia era virmos e descobrir quem controla esta cidade.
— Não tivemos a intenção de enganar ninguém – complementou Samuel. – Realmente achávamos que viríamos somente para fazer as patrulhas de sempre, mas ficamos sabendo desse objetivo na última hora.
Continuaram andando até atingir uma das ruas. Michel teve que pular uma poça de vômito e Livya aquele que a fez.
— Seria um assassinato? – perguntou Gabriel, naturalmente.
— Não – prosseguiu Bia. – Era para somente sabermos que era, não faço ideia do que Jonas está pensando.
— Mas nunca imaginei que ela iria se revelar para a gente tão facilmente – sussurrou Samuel. – Se soubesse disso, teria trazido vários Corvos comigo desde o começo.
— Isso não é importante agora. – Michel cortou. – Se a informação for verdadeira, estamos diante de uma crise muito maior.
— Chegou a outras Covas então – resmungou Gabriel.
— O bom é que nosso objetivo acabou ajudando o de vocês, que agora é o de todos nós – falou Samuel. – E amanhã podemos ir ao metrô averiguar.
— Acredito que sobre isso ninguém tem dúvidas – disse Naomi. – Mas seria bom descansar um pouco até amanhã cedo.
— Estamos hospedados numa pousada perto da entrada – começou Bia. – Nada de outro mundo, mas barato.
— Só nos mostre o caminho então – pediu Gabriel.
O grupo continuou entrando nas ruas que piscavam, onde pessoas bebiam e jogavam sem pudor algum, outras pessoas nuas em uma casa gritavam os preços de seus serviços, o que deixou Livya vermelha, arrancando risadas sonoras de Samuel.
Copos com bebidas coloridas passavam de mão em mão. Gabriel viu duas crianças batendo carteiras de dois homens desacordados de tanto beber. Sentiu uma nostalgia estranha de sua época de rua ao vê-las.
Bia os guiou até um sobrado de três andares onde havia um neon formando o desenho de uma cama. Perto da porta escancarada, um cartão escrito: "quarto para uma noite, quatro moedas". Entraram pegando mais dois quartos, com um atendente mal-encarado.
Os alojamentos realmente eram precários, mas as camas eram macias. Todos os sons atrapalharam Naomi de dormir. Ela teve que mudar de posição por diversas vezes, já seu parceiro apagara ao seu lado.
Acordaram com Michel batendo à porta. Desceram encontrando os outros na recepção e partiram em direção à saída da cidade. As luzes haviam sido apagadas e bêbados estavam caídos pelos cantos. A noite fora animada. Quando não era?, pensou Livya chutando uma garrafa.
— Onde deixaram o carro? – indagou Naomi.
— Muitas pessoas vêm para cá com os próprios carroções. Viram o nível de algumas ontem no estabelecimento da Hylary – falou Samuel. – Deixamos o carro junto deles.
Saíram da caverna em formato de pote, pularam o córrego que descia para o deserto, mantiveram-se rente à rocha, até uma entrada aparecer. Era como se fosse uma caverna menor, cheia de carroças e um carro.
Livya olhou com os olhos brilhantes para o veículo. Um carro com duas portas e pneus maiores do que deveriam ser. Pelo menos, era o que parecia para ela.
— Vai ficar um pouco apertado – constatou Bia.
Bia ficou com o volante, seu parceiro foi como copiloto e os outros quatro conseguiram se apertar na parte de trás. Gabriel precisou sentar no colo de Naomi.
Assim, o grupo saiu em direção ao metrô.
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Corvos
Science FictionA Terceira Guerra dos Antigos fez a humanidade perder toda a glória, obrigando os sobreviventes a se esconderem no Bunker. Setecentos anos passaram desde o acontecimento, e para manter a ordem o grupo armado Corvos foi criado.