Capítulo 25

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O sangue escorria até metade de seu antebraço. Livya sentia o líquido quente descer pela ferida causada pela faca do adversário. Diante dela, um homem com a aparência decadente segurava uma faca junto à espada curta, a ponta da lâmina curta estava vermelha.
Foi pega de surpresa, mas conseguiu desarmar o estranho, o que custou um corte e o seu revólver que voou longe. Segurando a machadinha, sentia as mãos suarem de nervoso e de dor.
Felizmente, todos os pedestres conseguiram fugir sem nenhuma casualidade. Preparou-se para o embate, analisando qualquer movimento brusco do inimigo, e então, com passos rápidos, a espada foi estocada em direção a ela.
Livya não quis arriscar desviando, então recebeu o golpe com sua arma, mas se arrependeu no momento do choque de aço, que fez seu corte sangrar ainda mais. Ao perceber a dor dela, o atacante fez chover golpes.
Estavam próximos demais para conseguir desviar, obrigando-a a rebater e aparar todos os golpes. A cada um deles, sentia lágrimas encherem os olhos. Foi então que um sentimento de ódio explodiu em Livya. Ela estava cansada de ser sempre salva pelos outros, cansada de se sentir fraca. Rebateu com toda sua força um golpe que tinha como intenção rasgar sua barriga.
O homem não esperava por aquilo e sentiu o braço ser jogado para trás com o golpe cheio de brutalidade. Viu a garota colocar um dos pés para frente e tomar uma base sólida. Atacou-o com um corte na diagonal, mirando onde seu braço ainda se recuperava do golpe. Usando peso da arma que ia para trás, ele conseguiu desviar por centímetros da machadada que cortou o ar. Retomou o equilíbrio e estocou sua faca, aproveitando a brecha que o golpe da outra abriu.
Livya vendo a aproximação do objeto cortante, jogou-se à direita de qualquer jeito, caindo pesadamente no chão. Sentiu o ar saindo dos pulmões com a pancada. Havia evitado o golpe. Ainda no chão, viu o adversário vindo e preparando um corte de baixo para cima.
Esperou o momento certo para aparar o ataque. Assim que a espada pegava altitude, ela varreu o ar com sua machadinha, rebatendo a lâmina. Pegando distância de alguns passos, sentia o suor escorrer por todo o corpo.
Conseguia se defender, sabia que não tinha como vencer somente na defesa, e então a lembrança da brutamonte coberta por ferro, segurando uma marreta descomunal, passou em sua mente. Como ela pretendia matar Irmãzinha se não estava dando conta de um homem esquelético? Mordeu o lábio inferior até uma linha de sangue descer por seu queixo. Deixou o ódio que sentia tomar conta de si e atacou.
Avançou, preparando um ataque de cima para baixo, facilmente lido pelo homem que desceu a lâmina para a cabeça de Livya, mas ela sorriu vitoriosa, levantou a machadinha que recebeu o golpe inimigo, e com o braço livre, desembainhou sua faca, cravando-a profundamente no peito do pé dele.
O homem fez uma careta de dor e a Corva aproveitou para girar o corpo, fazendo um semicírculo com a arma. Sentiu a resistência do ar logo em seguida de uma das mãos dele, que foram decepadas pelo machado e, por fim, o aço atingiu a têmpora do homem, entrando profundamente no crânio e no cérebro, consequentemente.
Livya soltou o cabo que travou no osso. Cambaleando, voltou a ficar em pé enquanto o outro tombava. Seu coração martelava em seus ouvidos e a dor voltou violentamente para o ferimento. Havia esquecido dele em certo momento por causa de toda a adrenalina.
— Livya!! – gritou Naomi, que apareceu correndo pela rua, segurando a katana.
— Estou aqui – respondeu, com um sorriso orgulhoso.
Naomi se aproximou da colega e vendo o moribundo caído com metade da machadinha cravada na lateral da cabeça, voltou a atenção para Livya, percebendo o rasgo em seu braço.
— Tudo bem? – indagou, sinalizando para o corte no braço da outra.
— Sim, dói um pouco, mas já passei por coisa pior – respondeu, dando um tapinha onde a aranha atacou. – Por que demorou?
— Fui atacada também.
Livya se manteve calada, sua mente trabalhava a todo vapor. Quem em sã consciência atacaria Corvos? Só que a aparência do homem não era a de alguém com a mente clara.
Distanciando-se da novata, Naomi analisou o corpo, as vestes e as armas, parecidas com as do que a atacaram. Uma brisa fez o cheiro de doença e fluidos baterem em seu rosto. Fazendo uma careta, abriu um espaço maior entre eles.
— Finalmente achei vocês! – gritou Gabriel.
O rapaz subia correndo pela rua deserta, seguido por uma mulher baixa com óculos que aumentavam seus olhos e segurando uma espingarda de tamanho desproporcional a seu corpo. Naomi reconheceu Hylari, mas vê-la andando, e não atrás de uma mesa, causou-lhe certa estranheza.
— Como achou a gente? – questionou Livya.
— Foi só ir contra a correria. – Parou próximo a Naomi e viu que ela não sofreu nenhum ferimento, o que não era surpresa. – Só ele que atacou vocês?
— A algumas ruas daqui eu encontrei um também – respondeu Naomi, com curiosidade crescente.
— Entendo – disse o rapaz, perdendo-se em pensamentos. A preocupação crescia em seu rosto.
Hylari ignorou todos e foi direto ao caído. Ficou de joelhos e pegou a mão do cadáver, abaixando a cabeça enquanto retirava algo preso ao membro. Levantou-se e limpou os joelhos com tapinhas. Disse:
— Ele tem um.
Livya percebeu a cena, vendo que quando a velha falou, o rosto de Gabriel se contorceu em preocupação. Não foi a única, sua companheira reparou também.
— O quê? – indagou a novata.
— Isso – respondeu Hylari, levantando o anel negro. – Eles são ou eram Corvos.
— Naomi – chamou Gabriel, tirando a parceira do estupor. – O que você combateu tinha o anel?
— Não sei – disse enquanto sentia o chão desmoronar sobre si. – Isso não pode ser verdade.
— Me diga onde está o corpo, preciso ver isso.
Naomi informou o lugar para Gabriel, e foi então que Hylari se intrometeu.
— Vamos nos encontrar no estacionamento, precisamos conversar.
Assim, Gabriel partiu onde jazia o último corpo enquanto as três iam para o estacionamento. Tanto Naomi quanto Livya sentiam algo ruim no peito.


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