Com um chute na barriga, Gabriel desprendeu a espada curta do peito de um dos adversários. Ficou o tempo todo observando Livya. Segurava sua Magnum esperando pelo pior, mas o crescimento da novata era notável.
A situação estava sob controle total dos Corvos, completamente unilateral. Viu um homem entrar no galpão à frente, e sem perder tempo, correu até o lugar e entrou. Caixas enfileiradas tomavam todo o espaço. Ele sabia qual era o conteúdo delas.
O homem segurava um revólver e não prestou atenção nele. Mexia os dedos da mão livre freneticamente, deixando claro que não conseguia acreditar no que ocorria. Virou-se, enfim, fitando Gabriel. Seus olhos estavam assustados.
— Oi, Corvinho – falou, forçando um sorriso.
— Grande Irmão? – indagou ele.
— Em carne e osso.
Levantou a arma no mesmo momento, mirando contra o homem. Gabriel sentia o suor, de nervoso, descer por sua testa, fazendo a antiga cicatriz arder.
— Por que fez tudo isso? – indagou Gabriel, sinalizando para as caixas com S.L.
— Tive que me virar num mundo cruel, menti e matei. E, sabe, Corvo, descobri que moedas são a única coisa realmente importante neste mundo, drogas rendem muito, meu rapaz.
— Fez tudo isso por moedas? – As palavras saíram desacreditadas dos lábios secos de Gabriel. – Criou a S.L. por isto?
Grande Irmão se virou com uma careta.
— Eu não criei a droga, foi um presente. – Vendo a reação do outro, continuou: – Você não sabe o poço de merda que está prestes a entrar, Corvinho. – O terror desapareceu das feições do homem. – Se acha que esta droga ou que eu, foram um problema, então fico ansioso para saber como vai lidar com o futuro, mas em breve, minha irmã vai me salvar e te matar, igual fez com seus amigos.
— Interessante – falou Gabriel, com um sorriso mórbido. – Não sabia que mortos poderiam me ferir.
Grande Irmão parou por um momento. Quando entendeu o que acabara de ouvir, seus olhos estufaram de ódio e frustração. Não conseguia acreditar que tudo o que construiu estava desmoronando tão facilmente. O turbilhão que passava por sua cabeça fez a histeria dominar o homem, que gritou para o Corvo:
— Mesmo que me mate aqui, não tem problema. Em breve, algo muito pior vai acontecer. Pense, Corvo! Como acha que consegui tantos recursos? Eu tenho pena de cada um de vocês, afinal uma morte tenebrosa os aguarda!
Gabriel percebeu uma leve movimentação do outro, e sem esperar, atirou na mão armada do inimigo, arrancando-a junto da pistola. Grande Irmão abraçou os restos do membro, que sangravam torrencialmente.
Mirou a arma em direção à cabeça do outro, mas mudou de ideia.
— Assim é muito fácil – falou para si mesmo.
Desviou um pouco o cano, disparando em uma das caixas, fazendo o pó escorrer para fora. Avançou e deu uma coronhada na boca de Grande Irmão, jogando-o em direção à droga que esparramava.
O homem caiu de joelhos sobre a S.L., sua boca era um buraco vermelho. O pé do Corvo abaixou sua cabeça contra a areia, enfiando sua cara ficar no pó.
O Corvo forçou o pé enquanto Grande Irmão lutava para respirar, soltando-o por fim. A face dele estava branca, e seus olhos demonstravam terror. O pó maldito estava por todo seu rosto.
— Tenha bons sonhos – falou Gabriel, saindo do galpão enquanto o outro colapsava pelo excesso de droga ingerida.
Tudo havia terminado. Existia somente Corvos no meio dos corpos. Eles não perderam ninguém, já o inimigo foi completamente erradicado. O que o lembrou das palavras de Sandy: "trazer um massacre para ele".
— Gabriel – chamou Livya. – Acabou?
— Sim – respondeu, simplesmente.
— Mas este gosto amargo na garganta – falou Livya, olhando para os mortos. – Achei que ia ficar satisfeita.
— Eles nunca tiveram uma chance – respondeu Gabriel, com um sorriso triste. – Isso, Livya – falou, abrindo os braços para a cena. – É ser um Corvo.
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Corvos
Science FictionA Terceira Guerra dos Antigos fez a humanidade perder toda a glória, obrigando os sobreviventes a se esconderem no Bunker. Setecentos anos passaram desde o acontecimento, e para manter a ordem o grupo armado Corvos foi criado.