Capítulo 40

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A fogueira era a principal fonte de luz na caverna, e nos lugares mais distantes das chamas tochas foram colocadas estrategicamente. O espaço dentro da caverna comportaria facilmente cento e cinquenta pessoas, não era profundo se perdendo dentro do paredão de pedra, lembrava um bolsão de água gigante. Almofadas estavam espalhadas pelo chão esperando pelos integrantes da gangue que iriam se banquetear em breve.

Gabriel estava sentado ao lado da entrada do local, olhava o céu noturno cheio de estrelas, ouviu em sua época de treinamento para ser um Corvo que os Antigos poluíram tanto o planeta a ponto de ser impossível ver todas as estrelas como ele, os pontos brilhantes enchiam a vista não importava para onde olhasse, e a lua estava cheia fazendo a noite ficar clara.

Ajeitou as costas que doíam contra a pedra, o anel símbolo dos Corvos estava escondido na sola de seu tênis, e diferente das habituais roupas pretas, usava as mesmas que os membros da gangue usavam, ou seja, qualquer coisa que ele quisesse. Foi enviado em uma missão para se infiltrar em um grupo que estava atacando caravanas com frequência, isto foi há seis meses. Ele junto a Otto, e Wesley estavam encarregados de pôr um fim nisto.

Dois meses estudando o grupo, e então se juntaram a eles passando por pessoas insatisfeitas como a vida que tinham. No começo faziam trabalhos sem importância, como cuidar das roupas ou limpar os banheiros, uma lembrança que o rapaz lutava com todas as forças para esquecer. Ao perceber que ganhara confiança ele entrou em contato com a cidade que vivia a Cova Trinta e Quatro usando pombos, o modo de comunicação mais prático e rápido naquele tempo, dando o sinal para os outros Corvos da cidade preparassem um comboio falso, e usando esta informação a gangue fez sua jogava roubando-o quase na mesma hora, precisou de somente mais dois saques para serem considerados um achado para o grupo.

Aquela era a noite para celebrar tudo o que conseguiram roubar, dariam um banquete para todo o grupo, os três estavam esperando por uma oportunidade desta. Otto e Wesley, seu parceiro, ajudavam na cozinha, já Gabriel somente esperava pacientemente os acontecimentos da noite começarem. Movimentos no escuro chamaram a atenção dele, que viu as primeiras pessoas indo em direção ao local que estava, mais se juntavam a eles fazendo o grupo somente aumentar.

— Boa noite Gabriel — Disse uma mulher baixa na frente dos outros. — Noite agradável para uma festa não é mesmo?

— Noite! — Respondeu o Corvo que não fazia ideia de quem era a mulher. — Exato, vou te falar, estou ansioso para que todo mundo chegue logo. Falando nisso você viu o Patrick?

Patrick era o líder da gangue, um homem jovem de temperamento estourado e cabeça quente, não era muito inteligente, compensando este defeito com ousadia, que chegava a ser estúpida em algumas situações. Com o passar do tempo o rapaz se apegou bastante a Gabriel, afinal o Corvo estava dando muito lucro para ele.

— Sabe como ele é — respondeu a mulher que não parou de andar em nenhum momento enquanto entrava na caverna junto aos outros. — Deve estar se arrumando, e vai fazer questão de ser um dos últimos a chegar.

— Espero que não demore muito — disse Gabriel com um tom de brincadeira. — Estou morrendo de fome.

— Nem me diga, esta noite quero me matar de tanto comer!

Gabriel sorriu de volta a outra que entrou no lugar que seria realizado a festa, e quando não a viu mais seu sorriso ficou mórbido. Mesmo conhecendo aquelas pessoas a quatro meses, passando o dia e noite com elas, ele não sentia a menor empatia por nenhum, era um Corvo do círculo do Infiltrador, e estava realizando seu trabalho sem maiores problemas.

Os Corvos tinham três círculos, que nada mais era onde seu treinamento iria ser focado, os Infiltradores eram sociais e conseguiam se passar por outra pessoa muito fácil, tendo aulas de teatro e improviso junto as de assassinato. Os Ponta de Lança eram aqueles que nasceram para o combate corpo a corpo, sendo mortais armados ou com as mãos nuas. E finalmente Sombra, que eram assassinos silenciosos, usavam lâminas ocultas e venenos, eram bons em passar despercebidos na multidão.

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