Capítulo 36

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— Por que está com essa cara? – indagou Naomi para sua colega mais jovem.
Um grupo voltou para o acampamento com os feridos, enquanto os que sobraram ficaram responsáveis por queimar todo o estoque de S.L. Livya e Gabriel voltaram para compartilhar as notícias do sucesso no ataque e para tratar as feridas nos braços de Livya.
— Esse gosto amargo na boca – respondeu. – Me senti ótima lidando com a Irmãzinha até olhar para os lados, vendo toda aquela matança. Eram pessoas.
— Normal. – Cortou Gabriel, que mascava uma folha. – Criamos em nossa mente uma imagem do inimigo que em nada retrata a realidade. No final das contas, não passavam de uma quadrilha como qualquer outra.
— Isso não explica o porquê de terem máquinas e pólvora – pontuou Naomi enquanto se ajeitava na cama, fazendo caretas de dor. – Principalmente o que ele te disse em seus momentos finais.
Gabriel repassou dezenas de vezes em sua cabeça a breve conversa que teve com Grande Irmão. Não havia nada de extraordinário nele. Era somente um homenzinho comum, mas o que disse sobre o futuro, deixava um peso estranho em seu peito, algo maior acontecia nas sombras.
Luís fazia um ensopado de carne seca e legumes que achou na mata a poucos metros do trio que conversava. Trocou as ataduras de Naomi mais cedo, lambuzando-a de pomada outra vez. Preparava os pratos para distribuir o alimento.
— Não faço ideia – respondeu Gabriel, que prestava atenção na panela com comida. – Infelizmente acredito que falou a verdade.
— Preciso melhorar rápido, então – disse Naomi, que aceitou um prato. – Obrigada. Não devia ter matado ele.
O Corvo concordava com isso, mas se deixou levar pelo momento e deu fim à vida do outro. Poderiam extrair muitas informações, além de entender a mensagem macabra que o homem disse. No fundo, não se arrependeu em nada pelo que fez, mas deveria ter sido em algum momento futuro.
Mais dois pratos chegaram para os dois outros que secavam o de Naomi. Livya encheu a boca com o líquido quente e nem assim aquele sentimento amargo sumia. Vencer Irmãzinha não foi difícil como ela imaginava, e isso levantou uma questão a qual ela compartilhou:
— Não entendo – falou, chamando a atenção da dupla para si. – Como Irmãzinha matou três companheiros nossos, sem dificuldades? Cheguei a ver um pouco deles em ação e eram todos mais fortes do que eu.
— Isso é algo que fiquei pensando – disse Naomi, colocando o prato vazio de lado. – Ficar aqui me deu bastante tempo para colocar os pensamentos no lugar, Livya. A resposta é bem simples: exaustão. Passamos por tanta coisa em um curto período, o que deixou todos desgastados e machucados. O lugar apertado não ajudou nenhum pouco.
— Falei que a venceu em campo aberto – complementou Gabriel, dando uma piscadela para Livya.
— Ainda teve o choque da emboscada e a quantidade deles.
— Está me dizendo que tudo seria diferente se não estivéssemos cansados? – indagou Livya.
— Provavelmente. – Foi a resposta de Naomi.
— Criamos um bicho-papão – falou Gabriel, rindo. – As aranhas e a tecnologia estranha deles nos deixaram fascinados, mas no fim, eram só bandidos.
Não tardou para Sandy e os Corvos que ficaram para trás chegarem. Contaram como todo lugar queimou com satisfação. A líder não falou em nenhum momento, deixando toda a glória para seus homens e mulheres.
— Oi, Naomi – pronunciou-se Nahara, que veio em direção ao grupo. Estava com os que destruíram o forte. – Sentimos sua falta lá.
— Pelo que ouvi, duvido ter feito alguma diferença.
— Sim – falou satisfeita a mulher alta. – Foi um exagero mandar o Ninho todo, a princesa às vezes é meio impulsiva.
Sandy se distanciou dos companheiros, que contavam os acontecimentos para os outros, indo falar com Luís sobre a situação dos feridos. Escutou atentamente tudo o que ele falava, somente concordando algumas vezes.
Os ânimos no acampamento estavam muito bem, o Corvo o qual Naomi salvou mais cedo de uma hiena, trouxe de seu carro uma caixa de madeira lotada de garrafas com destilado, sendo cada uma delas de uma cor distinta.
— Quando pretendem ir embora? – indagou Sandy, que se aproximou sem ninguém ver.
— Assim que possível.
— Vou mandar Nahara e Ana juntas, só por segurança.
Nahara não falou nada, mas parecia satisfeita com a decisão de sua líder. As garrafas passavam de mão em mão enquanto os Corvos comemoravam o massacre.


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