Capítulo 43

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A pilha de papéis sobre a escrivaninha de Jonas estava na altura do peito do homem, sendo possível ver somente sua cabeça e pescoço saindo por detrás da parede de papel. O aposento apertado acomodava seu dono e mais dois Corvos que ele havia chamado.

Naomi e Gabriel esperavam seu líder, falar o motivo daquela convocação tão repentina. Gabriel mais cedo encontrou Naomi no pátio de treino, usando aquela cota de malha estranha, enquanto praticava movimentos usando um bastão para simular sua katana. Quando contou o estranho acontecimento, ela quase o arrastou para a sala de Jonas, foi preciso convencê-la a esperar, e por fim lá estavam. O silêncio chegava a pesar no pequeno aposento.

A dupla estava ansiosa, porque antes de chegarem, teorizaram que a conversa seria sobre a S.L e quem era a pessoa por trás disto. Os segundos pareciam minutos, e Gabriel abriu a boca para falar, mas fora cortado prontamente por Jonas.

— Chamei os dois aqui porque recebi um pedido do Bunker. — Jonas deu uma entonação específica quando falou "pedido", era claramente uma ordem. — Vamos começar pelo início.

— O Bunker, senhor? — indagou Naomi surpresa.

O Bunker foi junto a Civilização Além Mar, que sobreviveram à Terceira Guerra dos Antigos, o local onde todos os recrutas de Corvos vão para seu treinamento. Se a maior cidade pediu ajuda para a Cova Trinta e Quatro, uma comunidade de médio para pequeno porte, era motivo de estranheza. Isso explicava a situação precária de Jonas e sua cara de extremo cansaço.

— Entendo sua estranheza, Naomi — respondeu Jonas enquanto arrumava uma das pilhas de papel. — A mensagem é urgente, e seu conteúdo preocupante.

— Senhor — interrompeu Gabriel. — O Bunker tem o maior Ninho de Corvos das quarenta e oito Covas, o que eles iriam querer conosco!

— Me deixe falar primeiro, sei que é algo atípico. — Então deu um sorriso cansado a dupla. — E tenho plena ciência que tanto você Gabriel, quanto nossa Víbora Negra.

— Quem? — indagou o rapaz perdido.

— Não te contaram? — disse Jonas sorrindo. — Temos nosso primeiro Corvo com alcunha. — articulou em direção a Naomi para demonstrar de quem estava falando.

Gabriel se virou para sua parceira estarrecido, a boca parcialmente aberta e os olhos esbugalhados. Olhou novamente para Jonas, porque aquilo poderia ser somente uma brincadeira, mas o rosto dele estava sério.

— Naomi! O que eu perdi?

— Somente uma brincadeira boba que começou na sala de treinamento — respondeu Naomi dando pouca importância.

— É por causa da sua cota de malha esquisita?

— Sim é por causa dela, e não, não é esquisita.

— Cota de malha? — indagou Jonas.

— Sim, senhor — respondeu Gabriel sem dar tempo para sua parceira. — Parece pele de cobra.

— Interessante.

— Sobre o pedido do Bunker, senhor — cortou rispidamente Naomi, já incomodada com o assunto.

Um pouco sem jeito Jonas se arruma em sua cadeira, fazendo todas as pilhas de papel balançarem, algumas quase caindo.

— Que pena ser apenas uma brincadeira — Gabriel murmurou, e ninguém mais teria escutado se o quarto não fosse tão pequeno.

— Naomi está certa — continuou Jonas. — O Bunker entrou em contato comigo há alguns dias. Tem alguma coisa errada com a Cova Dois.

A dupla trocou um olhar confuso, ambos sabiam que tal Cova era a segunda maior das quarenta e oito, perdendo somente em tamanho e população para o Bunker. E por conta desse fato cinco Ninhos foram colocados nela para a proteção. Lógico que o motivo não era somente pela proteção dos moradores da Cova, este era o motivo oficial, a verdade era que a Cova Dois fora uma cidade costeira na época dos Antigos, uma metrópole. Fora pouquíssimo afetada pela guerra que disseminou radiação no planeta. Por ser uma cidade portuária ela conseguiu criar laços com a Civilização Além Mar, que era a fornecedora de petróleo do Bunker e por consequência das cidades a ele ligadas.

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