Capítulo 34

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O motor do trator parecia prestes a estourar pela velocidade que a máquina pegou, deixando Livya surpresa, pois não esperava por tamanha velocidade. Das muralhas, tiros cortavam a noite, os pregos batiam contra a concha protetora sem nenhuma eficiência, mas não paravam.
Ao atingir a porta de madeira, um estalo foi a deixa para o resto do grupo correr em direção à loucura, o trator empurrou os portões, sem nenhuma dificuldade, sendo recebido pelos tiros nas laterais. Os Corvos que seguiam junto a Sandy amontoaram-se na frente do veículo, sendo protegidos pela concha, esperando o momento certo para atacar de volta, e assim o fizeram.
Usavam a concha para se proteger enquanto revidavam os ataques. Naomi corria no meio dos Corvos, não sendo a primeira a entrar, mas era possível ouvir o som de luta, ferro contra ferro, um barulho ao qual Livya acabou se acostumando. A jovem viu que as pessoas tinham todas as idades e lutavam com afinco para proteger o lugar do ataque.
Livya conseguiu distinguir Gabriel lutando perto dos restos da porta. O caos reinava por todos os lados, pregos voavam junto a balas. Foi então que a viu.
Irmãzinha corria com um grupo que levantava uma muralha com mesas. Segurando a machadinha, a Corva correu em direção à outra, que não viu o ataque vindo. Saltou enquanto rodava a arma, que quicou contra a proteção nas costas da outra.
Irmãzinha cambaleou tentando entender o que acabara de acontecer. Aproveitando-se disso, Livya se aproximou fazendo a lâmina descer na coxa protegida da mulher. Novamente, suas mãos vibraram com o impacto.
Finalmente a adversária estava pronta para o combate, havia recuperado o equilíbrio e não sofreu nada com os ataques. Os buracos nas máscaras de ferro olharam em direção a Livya, sendo impossível ver os olhos.
O golpe veio. Desceu a marreta de cima para baixo igual ao ataque que matou Samuel, mas Livya conseguiu girar o corpo passando rente ao cabo da arma, com somente um braço sob o machado que raspou no elmo.
A máscara vibrou e Irmãzinha cambaleou. Vendo isso, Livya fez chover ataques contra, mas um empurrão acertou a barriga da jovem jogando-a dois metros para trás. Ela caiu pesadamente, precisando lutar para fazer o ar voltar a seus pulmões.
Livya teve tempo de ver a arma descer mirando sua cabeça. Rolando para o lado, desviou ouvindo o som da terra sendo esmagada. Colocando-se em pé, desesperada enquanto a marreta voltou a traçar um caminho em direção a ela, segurou o cabo de seu machado com ambas as mãos e rodou o corpo.
O choque das armas parou o movimento da marreta, salvando a vida de Livya, que por sua vez, não sentia as mãos, que tremiam. A lâmina de sua arma trincou um pouco, não era mais possível rebater outro golpe.
Irmãzinha atacou usando a marreta como se fosse uma lança, estocando o pedaço de ferro mirando o peito da Corva. Livya, por reflexo, jogou-se para trás fazendo o ataque passar no ar e desceu o machado nas mãos da brutamontes, sentindo algo sendo cortado.
Gritando, a troglodita levanta uma das mãos que faltava dois dedos. Livya sentia o coração bater nos ouvidos, sabia que o menor erro custaria sua vida.
— Não consegue lidar com Corvos em campo aberto? – provocou Livya. – Você é fraca, estou ficando entediada já.
As provocações surgiram efeito. A mulher pegou o cabo da marreta usando os dedos que restavam em uma das mãos, preparando um golpe em diagonal e deixando Livya preparada para o contra-ataque. Então Irmãzinha parou de forma bruta e rodou em círculo, fazendo a arma vir com velocidade esmagadora.
Livya não tinha tempo de desviar, por isso se abaixou um pouco e levantou a arma. O choque de ambas causou um impacto destruindo a machadinha, fazendo com que alguns dos seus pedaços cravassem nos braços da jovem, mas foi suficiente para levantar um pouco o golpe, fazendo-o passar no ar.
Segurando somente um pedaço de ferro retorcido, Livya caiu sentada. Não sentiu os ferimentos no braço, a adrenalina não permitia. Irmãzinha ficou frustrada com o erro e se preparava para repetir o golpe.
A Corva, trêmula, deslizou a mão pelo cinto com as facas de arremesso, tendo uma ideia. Correu em direção à outra, jogando suas facas. Irmãzinha ignorou os ataques segurando a arma com ambas as mãos, preparando-se.
Livya sorriu vitoriosa, estava próxima o bastante para não errar. Pegou um frasco de vidro na bolsinha presa à cinta e o arremessou contra o elmo da adversária. Assim que se chocou, o vidro quebrou, fazendo o veneno entrar.
Na mesma hora, Irmãzinha levantou as mãos ao elmo, deixando a arma cair a seu lado. Retirou o capacete mostrando um rosto sem nariz e ouvidos, e os olhos anormalmente grandes estavam vermelhos.
A garota gritava enquanto esfregava a pele a ponto de sangrar. Livya, que segurava o cabo de sua arma, avançou estocando o ferro no olho direito da outra. O ferro entrou até bater na parte interior do crânio. Com alguns espasmos, a brutamonte tomba sem vida.
Livya sentiu as pernas fraquejarem e caiu de joelhos. Lágrimas descerem pelo rosto; havia vingado seus companheiros.


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