Capítulo 38

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As ruas da Cova Dois estavam abarrotadas de pedestres que caminhavam depressa pelas ruas e avenidas da cidade que não parecia nunca dormir. Nahara foi mandada para o lugar investigar o estranho desaparecimento de um número cada vez maior de pessoas, algo que a fez estranhar em um primeiro momento, afinal a cidade possuía cinco Ninhos.

Nahara era uma Corva da Cova Trinta, e fora mandada para uma cidade que não era a sua na missão que se encontrava. A cidade possuía cinco Ninhos, que eram as bases dos Corvos, e lá estava ela, uma forasteira, tentando resolver os problemas dos outros Corvos.

Postes iluminados por lâmpadas flanqueavam a rua em intervalo de quinze metros de um para o outro, geradores os mantinham acessos. E este era um outro diferencial e motivo para a Cova nunca dormir. Em todas as outras quarenta e oito cidades espalhadas somente o Bunker junto a Cova um que cresceu a sua volta, e aquela tinha esta regalia, os Ninhos também possuem, mas nada em tal magnitude. O lugar era responsável pelo combustível enviado para o Bunker, onde navios atracavam e saíam dos portos a cada quinzena.

Nahara ficou atrás de um casal que andava em uma velocidade frustrante a sua frente, obrigando a se espremer por entre um grupo de pessoas para tomar a frente, enviando a eles um olhar irritado, mas foi completamente ignorada pelos dois que estavam entretidos com seus namoricos. Junto ao grupo de pessoas, ela chegou a uma encruzilhada virando a sua direita adentrando em uma rua maior do que a que estava a pouco.

Um vendedor estava no meio da rua em cima de uma caixa de madeira gritando os preços de seus produtos a plenos pulmões, Nahara passou os olhos pelas construções que foram grandes arranha-céus. Toda a Cova fora a centenas de anos uma das metrópoles dos Antigos, antes deles fazerem o feito de sem matarem na Terceira Guerra dos Antigos. Mesmo boa parte das construções estarem em estado decadente, ou simplesmente desabado com o passar do tempo, os habitantes da cidade fizeram o máximo para reconstruir as construções.

Pelo canto dos olhos ela viu um beco estreito entre duas casas, o lugar era escuro onde algumas figuras pareciam conversar encobertas pela sombra, mesmo com o grande número de Corvos a cidade ainda tinha seu lado obscuro igual a todas as outras.

A brisa marítima trouxe ao nariz da Corva o cheiro salgado do mar, junto ao cheiro de peixe que vinha do mercado à beira mar. No começo o cheiro deixava Nahara um pouco enjoada, mas com o passar dos dias foi se acostumando, agora só o sentia quando lembrava de sua existência.

Teve vários problemas quando chegou, como ela e sua parceira Ana estavam disfarçadas não usavam os trajes negro padrões dos Corvos, ou o anel da mesma cor em seu dedo indicador, trajando apenas roupas marrons simples. Inicialmente sempre que sentia alguma coisa perto de sua cintura levava suas mãos na mesma hora para a faca escondida sob a camisa, e quando finalmente perdeu essa mania acabou sendo roubada, um acontecimento que Ana não a deixava esquecer.

Finalmente chegou à praça onde ficava o bar que combinou se encontrar com Ana. Cinco Corvos cuidavam da praça impedindo assim de qualquer briga começar. Uma árvore colossal crescia no centro do local com vários bancos espalhados à volta do tronco para os passantes se sentarem. Do outro lado da rua, em uma das muitas esquinas que acabavam na praça, viu o Bar Lagosta, uma casa dos Antigos que fora reformada diversas vezes, logo acima da porta uma lagosta segurando um copo de bebida piscava em neon vermelho. Foi até o lugar precisando se esquivar de um homem que saia do local claramente alcoolizado, falando para ela algo que na cabeça dele seria um elogio a sua bunda.

Nahara somente ignorou o comentário do outro, abrindo assim a porta dupla do bar sendo atingida por um misto de cheiros, peixe frito, vômito, álcool, suor e outros que não sabia distinguir. Todos pararam por um breve instante analisando a recém-chegada voltando assim às suas conversas ou jogos de baralho ao perceberem que ela não representava perigo imediato. Caminhou rapidamente pelo chão de concreto, desviando das mesas de ferro onde uma mulher comia de forma quase desesperado um peixe frito, e por outra onde um grupo de pescadores pareciam prestes a sair no soco por um jogo de cartas. Viu o barman atrás de um longo balcão de madeira que parecia indiferente a tudo o que acontecia à sua volta. Ela se debruçou sobre a madeira velha do móvel chamando a atenção do homem para si, que abriu um sorriso profissional indo atendê-la.

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