Ana Flávia povs
O quarto está iluminado pela luz amarelada que vinha naturalmente do céu, a luz mais perfeita que existe para enamorados, segundo as histórias que minha mãe me contava, aquelas onde
os casais separados pela distância conversam com a lua como se ela fosse capaz de juntá-los ou transmitir a mensagem. Havia também as histórias onde eles se beijam sob ela, selando promessas e mais promessas de amor, ou aquelas que simplesmente ficam um dentro dos braços do outro
compartilhando o calor corporal, a ternura e conforto.
E por mais inacreditável que pareça, aqui estou eu vivenciando o último dos contos românticos que citei. Neste instante um sorriso besta paira nos meus lábios. Minha cabeça repousa no
peito de Gustavo, minhas pernas envolvendo as dele, um conduzindo calor humano ao outro,
emaranhados... E senti-lo acariciar meus cabelos, enquanto a luz da lua nos envolve, faz com que me sinta confortável.
O fato é que o dia de hoje foi inteirinho regido a relações sexuais e Gustavo conseguiu acabar comigo. Nem ao menos demos uma pausa para um lanche, só tomamos banho porque
podíamos transar no chuveiro.
É estranho dizer que nem sei mais o que é ter vergonha de expor meus desejos a meu marido? Acho que não, afinal, já pedi pra ele me comer. Sim, disse essa frase várias vezes descaradamente. Também implorei pra ele me penetrar mais forte... enfim me tornei uma
desavergonhada. Não que o Gu se importasse, porque, pra falar a verdade, acho que era esse seu intuito desde o princípio.
Me aconchego melhor em seu peito, pois seu cafuné já está me deixando com a cabeça pesada, louca de sono, quase cochilando. E a verdade é que o calor humano e o conforto do colchão
só pioram as coisas... Acabo de desistir de lutar contra a corrente e me permito dormir.Não saberia dizer que horas eram quando acordei, entretanto, dizer o porquê o fiz é simples. Meu estômago revira, a ânsia de vômito é horrível e, pra completar meu mal estar, tem a
sensação de amargo na boca. Levei as mãos à boca e ergui a cabeça do peito de Gustavo. Foi um único movimento, mas já o despertou.
— Sem sono, linda? — indaga com a voz mais rouca que de costume, consequência do sono.
De repente meu estômago contrai e num pulo salto da cama antes de sair em disparada rumo ao banheiro. Gustavo acendeu as lâmpadas antes mesmo que eu conseguisse alcançar o banheiro,
perguntando o que estava acontecendo.
Me agachei diante do vaso e coloquei pra fora tudo que tinha no estômago. Me sinto um caco. O enjôo está destruindo minhas forças. Dou a descarga e sento em cima do vaso com os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos na cabeça. Nem percebi quando começei a chorar e menos ainda quando meu marido entrou no banheiro. Gustavo se abaixou diante de mim e segurando meu queixo ergueu meu rosto.
— Você está bem? Quer que pegue alguma coisa? — questiona prestativo enquanto me fita com atenção e limpa minhas lágrimas com o polegar.
— Eu não sei... me sinto mal. — respondo fracamente, então, respiro fundo algumas vezes.
— Acho que vou escovar meus dentes. — falo me levantando e ele faz o mesmo. Fiz minha higiene bucal sobre seus olhos de rapina e quando terminei que virei pra olhá-lo, minha visão ficou turva. Se ele não tivesse segurado minha cintura rapidamente, teria caído.
— Merda, gatinha! — exclama me pegando no colo levando-me em seguida de volta ao quarto onde me colocou na cama. — A que horas foi sua última refeição? — pergunta colocando a
mão espalmada em minha testa.
— Não lembro, talvez ontem na hora do almoço. — reflito de olhos fechados, mas ouço quando ele respira forte e levanta da cama, pois sinto o colchão mexer.
— Vou buscar alguma coisa para você comer na cozinha. — fala. — Volto logo.
Apenas concordo concentrada em controlar aquele mal estar horrível. Escuto quando a porta bate. Tento voltar a dormir, pois meu corpo ainda sofre pelo sono interrompido, mas é em vão tentar descansar nessas condições, então, fico ali focada em não vomitar ou chorar. Poucos minutos depois Gustavo se senta ao meu lado e me põe sentada, colocando alguns travesseiros por trás das minhas costas.
— Consegue comer ou vou ter que te dar na boca? — pergunta humorado talvez querendo me animar, entretanto, fracassa.
Me ajeito naquela posição e abro meus olhos encarando Gustavo. Sua mão descansa na lateral oposta do colchão deixando meu corpo preso a ele.
— Eu consigo sozinha. — respondo e ele pega a bandeja na mesa ao lado da cama e coloca no meu colo sobre um travesseiro.
— Então coma, linda, e desculpe por não ter me preocupado com sua alimentação antes. — ia colocar um pedaço de torta na boca, mas este ficou parado no ar quando parei para responder.
— Não foi só culpa sua... — argumento e enfim saboreio a torta.— Além de que isso deve ser consequência da bebida que ingeri ontem. — lembro mastigando. — Humm isso está divino!
Aceita um pedaço? — questiono pegando outro pedaço levantando o garfo à altura de sua boca, mas ele nega com a cabeça. — Vai aceitar sim. Você também não comeu. — retruco chateada.
— Sou mais resistente do que imagina, Naflávia. Passei muito mais que um dia e meio sem me alimentar. Meu corpo já está acostumado, mas não o seu. — diz e abaixa minha mão segurando meu pulso, entretanto, não desisto.
— Também já passei dias sem comer ou tomar banho. Acha que viver na rua é fácil? Acha que tinha comida sempre que meu corpo reclamava? — inquiro e ele me olha por vários segundos. — Custa abrir a boca, droga! — exclamo exaltada e ele ergue as sobrancelhas antes de dar uma gargalhada baixa.
— Gosto do seu lado estourado. — declara, mas apenas o ignoro e volto a lhe oferecer a torta. Dessa vez ele aceita.
Comi tudo que tinha na bandeja dividindo com Gustavo. Depois ele desceu até a cozinha para deixar a bandeja e retornou com uma xícara de chá pra mim. Já estou bem melhor em
comparação ao que sentia anteriormente. Minha cabeça estava normal e a ânsia de vômito foi
embora.
— Sente-se melhor ou devemos chamar uma médica? — questiona deitando e puxando meu corpo pra ele.
— Não precisa, estou melhor. Só quero dormir um pouco. — bocejo me ajustando ao corpo dele.
— Boa noite, linda! — diz antes de beijar minha testa e desligar a luz.
— Boa noite ursinho! — respondo de olhos fechados. Sinto ele se reerguer e me olhar
—ursinho?—pergunta
—é que vc parece um ursinho, não gostou?— ele me olha com um sorriso— e também vc me chama de linda, gata, princesa, queria ter um apelido pra você
—me chame do jeito que vc quiser, pra mim ta bom, e gostei de ser seu ursinho—dei um beijo nele e me aconcheguei me permitindo assim
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Garota traficada-miotela
FanfictionAna Flávia, uma jovem menina cheia de sonhos e objetivos na vida, tem uma vida feliz ao lado dos seus pais até que um dia vê seu mundo se desmoronar de uma hora pra outra e no meio dessa catástrofe que é sua vida ela encontra o amor em alguém que el...