Ana Flávia povs
(Contém um mini hot e um gatilho....)
Observava o chão, mas de relance via a Boo discutir com a sua mãe. A mulher que Boo me apresentou como Ruth, é insuportável. Ela quer controlar até os pensamentos da Boo que fica irritada a cada palpite dela. Eu as escutava tentando me distrair do fato que minhas pernas ainda tremem mesmo eu estando sentada. Não me recuperei do impacto disso tudo. O pior é ter todos me olhando de segundo em segundo. Como nunca fui de sair e interagir com tantos desconhecidos juntos e, ainda por cima ser o centro das atenções, isso me deixa constrangida, intimidada e nervosa.
- Com licença! - olho para cima vendo umas cinco mulheres vestidas impecavelmente idênticas como Boo.
Elas estão carregando grandes bandejas pratas e, em cada uma, há mais ou menos, uns seis pratos sobrepostos.
- Este é um menu especial que dedico aos noivos. Desejo felicidades, Alteza. - Fala uma das mulheres.
- Obrigado. - Gustavo agradece e as moças vão colocando os pratos diante de cada um que estava sentado no entorno da mesa redonda que acomoda de quinze a vinte pessoas.
Pessoas essas que, por sinal, boo me disse o nome de cada uma logo que me sentei, mas eu não consigo lembrar de todos. Sei que há um homem chamado de Lucas, que é irmão dela, uma mulher chamada de Brenda, ou algo assim, enfim são muitos nomes e rostos para distinguir.
As mulheres vão em direção a outra mesa e todos fazem silêncio para saborearem o prato extremamente aromático deixado ali. A comida está com uma cara ótima, no entanto, eu não conseguiria provar nada com aquelas pessoas me olhando. Não era por vergonha, mas não é muito legal comer enquanto várias câmeras gravam você e pessoas te avaliam.
Gustavo parecia à vontade com aquela situação. Era perceptível em seu semblante o fato que estava - só na sua cabeça - comendo num lugar tranquilo, privado de qualquer incômodo e sem o olhar avaliativo de outras pessoas.
Olhei para o meu próprio prato e suspirei cansada.
Os familiares dele terminaram de comer algum tempo depois e voltaram a conversar. Todos satisfeitos, menos eu. Meu prato continuava intocado.
- Boa noite! - exclama Murilo sentando ao lado do irmão parecendo ter se livrado dos repórteres.
- Boa noite! - todos respondemos em uníssono.
Ele e o Gustavo começam a conversar baixinho e, por isso, não ouço o que dizem. As mulheres vêm retirar os pratos e uma delas parece decepcionada ao ver que eu não comi nada. Ela se aproxima e cuida pessoalmente de retirar o meu prato, enquanto me questiona:
- Não gostou, senhorita? Eu posso te trazer algo...
Arregalo os olhos ao perceber que sua preocupação era referente à minha opinião.
- Na verdade, eu nem provei. - Murmuro envergonhada por fazê-la achar que estava esnobando seu trabalho. - Desculpe, eu só não estava com fome. - Invento e o alívio é visível nos seus olhos. Isso me deixa aliviada também.
- Compreendo. - Põe o prato na bandeja da jovem ao seu lado e segue andando para outra mesa.
Os segundos passam tão devagar que parecem horas e, como se não bastasse a tortura de ficar aqui sem fazer nada, minhas articulações começam a doer pra caramba. Quase choro de dor.
Percebo uma movimentação repentina na mesa e ergo o olhar.
- Vamos fazer um brinde aos noivos. - exclama Murilo animadamente ficando de pé.
Os demais o acompanham e pegam suas taças. Boo e o Gustavo também os segue não me deixando alternativa a não ser levantar.
A mídia se aproxima fotografando o momento. Começo a entrar em pânico porque sei que, se segurar uma das taças, essa vai se despedaçar no chão. Todos me olham e Gustavo pega uma taça e me estende.
- Eu não posso... - digo olhando para todos os lados aflita.
- É claro que pode. - retruca. - Toma, segura. Não tem álcool. É só suco de uva. Nem precisa beber se não quiser. - sorri de lado.Murilo escuta a conversa e me avalia como se entendesse o que está acontecendo comigo.
- Ela não precisa brindar, irmão. - diz. Ele sorri compreensivo pra mim e retribuo em agradecimento, pois minhas pernas fraquejam e eu tento me recompor.
- Claro que precisa. - contradiz o outro demonstrando estar impaciente.
Minha visão fica turva e eu me apoio na mesa, mas minhas mãos doem muito para suportar meu corpo.
Duas mãos rodeiam minha cintura me segurando em pé.
- Ana Flávia, qual o problema? - indaga Gustavo.
- Ela está passando mal, você ainda pergunta. - escuto a voz da boo.- Leve-a ao quarto. Eu e bruna cuidamos de explicar o ocorrido à mídia e aos convidados e, realmente, precisamos conversar depois. - Murilo se manifesta.
- Consegue andar, princesa?. - questiona Gustavo e eu afirmo. Ele começa a me guiar, enquanto, praticamente, me leva flutuando, uma vez que, retém todo o meu peso ao me puxar pelo quadril. Me sinto numa névoa entre a consciência e a perda dela, entretanto, forço minhas pernas a andarem.
Num certo ponto ele para de andar e me força a fazer o mesmo. Sinto um braço rodear minhas pernas e outra por baixo do meu braço.
- Os repórteres já não podem nos ver, porque estamos em um lugar que poucos conhecem, por isso vou te levar no colo. - explica e me ergue do chão.
Encosto minha cabeça entre o vão de seu ombro e pescoço e fecho os olhos tentando controlar a vertigem. Ele anda rapidamente e fico ainda mais tonta.
Após o que pareceram horas, escuto o barulho da chave girando e, logo depois de alguns passos, meu corpo é colocado no colchão macio. Deitada tenho a sensação de que estou girando em
círculos.
Gustavo não disse nada, entretanto, ouço os passos dele circulando pra lá e pra cá. Depois de algum tempo, o colchão afunda. Um pano gelado é colocado de repente em minha testa e eu tremo com o contato do frio com minha pele quente.
- É uma compressa. Não sei o que tem, mas acho que vai ajudar, . - fala. -
Também te trouxe um copo de água. - coloca o copo contra meus lábios e eu a bebo. A água realmente parece ser milagrosa, pois, sinto um pouco da neblina em minha cabeça se dissipar.
Ele acaricia minha bochecha suavemente e eu suspiro por mais inacreditável que possa parecer em apresso à carícia.
- Está melhor? Ou quer que eu chame Felipe para lhe examinar? - questiona após instantes de silêncio.
- Não precisa, está passando. Foi só uma vertigem. - murmuro em resposta.- Certo, então, descansa. Eu vou tomar um banho. Qualquer coisa grita. - concordo com a cabeça.
A cada minuto parece que minha visão vai abrindo lentamente e as coisas vão tomando foco. Abro os olhos e me vejo num quarto desconhecido. Ele é muito lindo, mas a decoração é um pouco infantil, uma vez que, há carros por todos os lados, desde o papel de parede até uma coleção de miniaturas de carros de corrida.
Há também uma lareira e, sobre ela, um quadro de um menino lindo sorrindo, enquanto segura um carrinho. Ele é tão fofinho que dá vontade de apertar. Olhando com atenção, descubro que
aquele sorriso e linhas faciais me remetem a alguém que conheço.
Os passos do Gustavo atraem minha atenção. Ele vai até um pequeno armário com uma toalha no quadril e outra no pescoço que ele enxuga os cabelos molhados... e sim ele é a criança da foto. Gustavo retira uma camisa branca do cabide e caminha até onde estou.
- Aqui, você pode vestir isso. Esse vestido que está usando é deslumbrante, mas parece ser um tanto desconfortável para dormir. - me estende a camisa aberta de mangas longas. - Precisa
de ajuda? - nego. - O banheiro é por ali. - aponta quando levanto e pego a camisa entre os dedos sem fazer força, afinal minhas mãos ainda doem.
Ele demora a soltá-la e eu o encaro. Olhamo-nos intensamente, suas íris negras estão focadas no fundo das minhas, quando sua mão ergue e ele coloca uma mexa do meu cabelo atrás da orelha.
Minha respiração falha.
Ele desce a palma por minha mandíbula até seus dedos passarem por meus lábios, onde seu olhar recai. Entreabro os lábios e Gustavo me olha nos olhos desejoso. Ele diminui o espaço entre
nós e sua mão desliza por trás da minha nuca, enquanto a outra envolve minha cintura.
A respiração aquecida em minha pele demonstra que estamos muito próximos quando voltamos a nos fitar. A intensidade do instante misturado com o brilho das suas esferas me fazem
fechar os olhos. De repente sou puxada pelo quadril e nuca com força em sua direção e nossas bocas se unem famintas. Sua língua, agora já não mais desconhecida, luta contra a minha loucamente, e eu correspondo do jeito que dá e eu entendo ser o certo.
A sensação do meu sexo pulsar aparece e isso parece me deixar gulosa por mais. Ele abre o zíper e o vestido cai deixando os meus ombros desnudos. Ele o puxa mais pra baixo e o tecido cai livre nos meus pés quando sua mão solta minha cintura. Agarro-me em seus ombros e meu outro braço abraça seu pescoço.
Logo ele aperta minha nádega descoberta com força antes de puxar minha coxa pra cima me
convidando, sem palavras, a subir em seu quadril. Com um pulo que fez nossas bocas se desgrudarem
um instante apenas e sua toalha cair, subo em cima dele e ele segura minha bunda.
O beijo se torna voraz, a respiração é ofegante. Sinto sua ereção contra meu sexo encharcado, ambos separados apenas pela calcinha. Assim também como seu peitoral morno está
separado dos meus seios franzidos apenas pelo meu sutiã.
Gustavo solta meus lábios para trilhar beijos e mordidas pelo meu pescoço me fazendo arrepiar. Sua boca sobe e suga o nódulo da minha orelha.
- Aaah, humm. - gemi baixinho diante das sensações luxuriantes que senti.
Puxo seu cabelo macio e sinto minhas mãos doerem, por isso, solto. Os rastros de fogo que ele trilha em minha pele sensível não me deixa pensar muito na dor. Ele anda comigo enquanto voltamos a nos devorar com a boca, apreciando o sabor um do outro. Seu joelho afunda no colchão antes dele nos deitar nos lençóis da cama.
Gustavo ergue o tronco e eu deixo minhas pernas caírem abertas soltando seu quadril. Ele abre o fecho frontal do meu sutiã e eu não consigo sentir vergonha quando meus seios são revelados.
- Lindos e suculentos, gatinha. - sussurra antes de circular o bico com a ponta da língua.
Jogo a cabeça pra trás quando sua boca quente e aveludada suga um deles por completo. Tento fechar as pernas para diminuir a pulsação ali, mas como ele tá em cima de mim, só consigo sentir seu membro bem perto da minha intimidade e isso faz uma quantidade consideravel de líquido quente escorrer pela minha intimidade. Gustavo continua chupando meus seios sem pressa, enquanto eu me estico, gemo e remexo embaixo dele.
Ele olha pra cima e seu olhar cruza com o meu, enquanto ele beija meu ventre pouco acima da minha calcinha preta. Gu se ajoelha e então eu me dou conta de que estou quase nua bem diante dos seus olhos e, por isso, meu rosto esquenta. Cubro meus seios com um braço e fecho as pernas. Ele sorri antes de acariciar meu joelho e separar minhas pernas novamente me fazendo
engolir em seco.
- Você é perfeita, gatinha! Porém não posso negar que ver todo seu corpo corado te deixa uma coisa de outro mundo. - fala me fitando e, então, baixa o olhar e a cabeça antes de depositar um beijo sobre minha calcinha.
- Oh, Deus! - deixo todo o ar sair dos meus pulmões.
Gustavo passa os quatro dedos sobre minha calcinha e esfrega numa lentidão agonizante.
Tira os dedos e abaixa a cabeça para morder levemente meu púbis me fazendo gritar em êxtase. Em
seguida lambe a minha calcinha e eu sinto o tecido úmido pela saliva contra minhas carnes quentes.
Ergue-se e segura as laterais da minha calcinha puxando-lhe pra baixo. Ergui meu quadril para facilitar a tarefa, pois tudo que queria era que me proporcionasse um alívio desconhecido que já vi que ele pode me dar.
A calcinha é descartada em algum lugar do quarto e o ar sopra a pele úmida e desnuda do meu sexo. Gemo atraindo o olhar dele pra mim. Gustavo aprecia minhas carnes hipnotizado e leva o
nariz até ali, cheirando antes de abrir a boca e morder suavemente meus lábios vaginais. Eu grito quando a agonia em meu ventre aumenta pedindo libertação.
Sua língua varre até um ponto que me faz tremer e retorna entrando em outro que pede por uma invasão mais profunda. Ele intercala até meu corpo se recear, porque, quando o faz, ele foca no ponto que agora é um pontinho duro.
Meu coração fica descompassado. Tento apertar as pernas, mas Gustavo segura-lhes afastadas. A outra mão dele belisca meu seio e apalpa. E a língua diminui a tortura me deixando
maluca e, por isso, rebolo contra sua boca. A sua mão solta minha perna e um dedo dele entra pela metade em mim.
- Preciso de mais. - me vejo dizendo.
Gustavo sorri contra meu sexo encharcado e pulsante socando o dedo em mim vagarosamente e, então, sua língua gira de um lado para o outro me fazendo apertar os dedos dos pés
nos lençóis.
Mais líquido fumegante escorre para fora melando seu dedo. A dor se torna insuportável e ao mesmo tempo incrívelmente prazerosa.
Uma mão está em meu seios, outra ajudando seu dedo a estocar em mim e sua língua quente sugando meu brotinho. Tudo isso em uma sintonia insuportavelmente perfeita que me deixa sem ar. - Derrama-se em minha boca, gata, goza pra mim, quero te sentir. - diz isso e intensifica as carícias.
Meu corpo se estica subindo em busca de sua boca antes de voltar a cair no colchão em uma convulsão destrutivamente deliciosa. Meus ouvidos piam e parecem que minhas forças foram arrancadas de mim e, por isso, deixo minhas pernas caírem abertas.
- O melhor sabor que já provei em toda minha vida, princesa. - fala Gustavo ainda me chupando.
Estava lânguida e sonolenta quando senti seus lábios pressionarem contra os meus num selinho doce.
- Se não tivesse doente, juro que te faria minha. - diz esfregando seu membro em mim.
O colchão se remexe e afunda quando Gustavo se deita ao meu lado. Sem saber porque, eu me aproximo dele e deito sobre seu peito. Ele fica petrificado por um instante antes de espalmar a mão em minha nádega.
O dedo dele traçando círculos na minha pele me fizeram dormir com um sorriso bobo nos lábios. Deveria me arrepender de ter deixado ele me tocar tão intimamente, entretanto, não consigo e
nem quero me arrepender.
Acordei sozinha e aquilo, por algum motivo, me deixou decepcionada. No fundo eu queria que Gustavo estivesse comigo, não sei... talvez me aninhando em seus braços. Minha cabeça anda
muito confusa, afinal, ele não é o homem que eu sonhei durante anos, mas meu coração parece não se
importar com este fato.
Me apoio nos cotovelos com o intuito de levantar, entretanto, ao ver um bilhete no travesseiro que ele dormiu, apenas me sento recostada à cabeceira da cama. Pego o papel e o deixo de lado por um instante, para antes trazer o travesseiro que ainda continha seu cheiro másculo até meu nariz. Em seguida deitei a cabeça sobre ele e li o bilhete que dizia que Gustavo precisou sair cedo, mas que estaria de volta para me buscar antes do almoço porém, se eu sentisse fome tinha biscoito no baú e suco no frigobar.
Procurei o tal baú e o vi ao lado de uma coleção de miniaturas de soldados. Afastei as cobertas, peguei a camisa que ele tinha me estendido antes de acontecer quilo tudo, essa ainda estava
jogada de forma displicente no chão, a vesti. Fui até o tal baú para pegar o biscoito, como não jantei, estava com muita fome.
Passei pelos carrinhos e não resisti e parei para dar uma olhada. Tirei alguns da mesinha de vidro com todo cuidado, pois devia custar uma fortuna aquele pequeno brinquedo pesado e
reluzente. Admirei o objeto e devolvi ao seu lugar. Fiz o mesmo processo com os soldadinhos que pairavam em outra mesa em filas bem estruturadas.
Depois de matar minha curiodidade terminei o percurso até o pequeno baú banhado em ouro - ou ao menos era o que parecia - e abri o objeto que portava um verdadeiro tesouro. Ali
tinha biscoitos, chocolates, bombons, bolinhos industrializados, ou seja, todo o tesouro que uma criança queria achar...
Por que será que Gustavo armazena tudo isso aqui? Me perguntei mentalmente, antes de
sorrir e, gulosa, pegar dois bombons, uma barra de chocolate, o biscoito e um bolinho. Não devia comer esse monte de besteira a essa hora da manhã, mas eu nunca vi tantas coisas gostosas juntas e
não consigo resistir. Fecho o baú antes de fazer um malabarismo para carregar todas as embalagens nos braços.
Joguei tudo no colchão e fui pegar o suco no frigobar. Achei muito mais que suco, peguei iogurte e o suco de limão. Coloquei as garrafas e latinha no chão e fechei a porta antes de pegar todas
as embalagens nos braços.
Andei depressa e acabei derrubando tudo no chão perto da parede. Acabei me escorando nela e tomei um susto quando essa afastou. Com o coração saindo pela boca, virei depressa e o que vi me deixou admirada. Era um compartimento secreto. Achei que isso só existisse em livros e filmes...
Dentro dele tem um monte de livros de capa preta, muito bem empilhados em duas fileiras.
Fico indecisa em ver do que se trata ou tentar arrumar uma forma da parede voltar ao normal. Agachei para juntar as coisas que derrubei e, sem jogar nada no chão dessa vez, coloquei tudo na cama. Voltei depressa até a parede e procurei alguma forma de ajustar aquilo. Observei minuciosamente a parede e vi um pequeno botão como um controle remoto, bem pequeno.
Estava quase pressionando meu dedo nele, quando olhei os livros novamente. Desisti de resistir e peguei um deles, antes de apertar o botão e fechar o compartimento.
Voltei para cama com o objeto que parecia queimar em minha mão. Sei que é errado mexer nas coisas dos outros, entretanto, é só uma olhadinha, ninguém vai saber... Sento no colchão e me arrasto até a cabeceira.
Aliso a capa preta antes de abri-la com cuidado...
Na primeira folha tinha risco pra todo lado - percebi que não se tratava de um livro, e sim, algum tipo de caderno - os traços demostravam raiva e fúria, pois os riscos eram grossos, pesados e sem sentido. Passei a página e encontrei um pé de árvore desenhado.
Na página seguinte estava escrito em uma letra quase ilegível - talvez letra de criança -essa letra foi usada para repetir a frase: Eu não sou um monstro. É tudo culpa dele. Eu o odeio.
Franzi o cenho imaginando por que uma criança escreveria algo tão penoso e ao mesmo tempo tão rancoroso!
Intrigada folheio a página. Nessa havia um pequeno parágrafo: "Queria poder ser um menino normal como meus primos e irmãos. Queria poder brincar sem ter flashes do que fiz no
treinamento".
As outras folhas estavam em branco, porém manchadas como se o dono do caderno não soubesse o que escrever, ou talvez, por onde começar.
Parei de folhear quando vi resquícios de manchas de sangue em uma página. Engoli em seco antes de seguir para a próxima. Essa estava enrugada como quando se derrama água no papel e, ao secar, ele encolhe. Passei mais algumas antes de ver uma foto colada numa delas. Era Gustavo pequeno como no quadro e um outro garotinho que deduzo ser Murilo.
Eles estão abraçados a uma mulher linda. Seus longos cabelos castanhos fazem cascata sobre seus ombros e emoldura seu lindo rosto corado e sorridente.
Virei o caderno aberto e deixei descansar no colchão quando minha barriga roncou.
Peguei o bolinho e abri a embalagem com os dentes, deixei no colo para abrir o iorgute.
Comi e bebi com gosto e, quando saciada, juntei toda sujeira que fiz e limpei as mãos na camisa que vestia antes de voltar a pegar o caderno.
A folha seguinte continha um verdadeiro texto: Hoje é meu aniversário de oito anos. Gostaria de poder passar esse dia tranquilamente,
brincar com meus carrinhos e terminar o dia ouvindo uma história de duendes e gigantes contada pela mamãe. Ela e meu irmão são as pessoas que mais amo na vida, apesar de que Murilo só tem quatro anos e rouba toda a atenção da mamãe e quebra meus brinquedos. Mas ele é tão engraçado e pequenino que eu não me importo.
Tinha planejado um dia feliz, mal sabia eu que papai já havia agendado todo meu dia...
Tudo começou quando eu fui ao quarto deles chamar a mamãe. Ela chorava e eu não entendia o porquê, por isso eu me aproximei e lhe abracei apertado como ela faz comigo quando estou chorando. Ela me abraçou também antes do papai me puxar dos seus braços e me levar consigo.
Ele me levou de carro ao lugar onde ele me mandava arremessar facas. Não gostava de ir ali, pois tinha um monte de homens grandes e feios. Eles caçoavam de mim cada vez que eu errava o alvo ou me feria na lâmina da faca. Hoje tinha um velho sentado no lugar do alvo, que eu costumava ter que acertar.
- Toma. - foi o que meu pai disse, enquanto eu observava o homem amarrado.
Meu pai pôs a faca na minha frente e eu olhei pra ele sem entender o porquê do velhinho estar ali.
- Hoje você está mais velho e por isso vamos passar para a próxima fase do seu treinamento. Você terá que acertar a cabeça dele no lugar do alvo. - mostra com a ponta do objeto pontiagudo na direção do velhinho e eu arregalo os olhos.
Nego com a cabeça e ganho um tapa na nuca fazendo-me cair pra frente.
- Levante e, como um homem que você está prestes a se tornar, faça o que eu mandei sem mais negações. - engoli as lágrimas e levantei, pois, se ficasse ali por muito tempo, meu castigo ia
ser doloroso.
Engoli em seco e peguei a faca que me era estendida.
Lancei-a no ar e fechei os olhos com força. Não queria ver onde ela acertaria. Mas ainda tive que ouvir o grito e o sangue espirrar da cabeça do velhinho. Não contente com aquele show de horror, meu pai me segurou pelo braço e me arrastou.
Abri os olhos e me vi diante do furo no centro da cabeça do idoso agora morto. Eu o matei...
Caramba! Eu o matei!
- Você vai cortar cada membro dele até conseguir colocar nessa mala. - disse e me apontou a mala preta que só caberia meu tronco.
Eu implorei... Eu chorei.... Eu gritei... Eu me debati... E implorei novamente para não fazer aquilo, entretanto, ele me bateu e mandou andar logo porque não tinha o dia todo, como se tivesse me
dado uma ordem natural no estilo que um pai dá ao seu filho como um simples "vai brincar garoto..."
Porém não era simples: eu tinha que cortar um homem em pedacinhos.
Eu fiz ainda implorando, eu fiz entre vômitos...mas eu fiz.
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Garota traficada-miotela
FanfictionAna Flávia, uma jovem menina cheia de sonhos e objetivos na vida, tem uma vida feliz ao lado dos seus pais até que um dia vê seu mundo se desmoronar de uma hora pra outra e no meio dessa catástrofe que é sua vida ela encontra o amor em alguém que el...