Gustavo povs
Cruzei os corredores até o último salão onde está acontecendo a recepção para o anúncio formal do meu noivado. Do topo da escadaria que leva até o lugar, tinha uma visão privilegiada das
pessoas e da decoração sabiamente distribuída pelos empregados sob coordenação da minha irmã. O mais impressionante é que foi em tempo recorde.
Havia mesas redondas nas duas laterais deixando um corredor livre formado por luminárias — segundo a Boo para evitar tumulto — mesas bem colocadas, prontas para o jantar que será servido em breve pelos inúmeros garçons. A imprensa agitada está bem próxima à escada.De repente um anúncio da minha presença ecoa pelos salões.
— Senhores e senhoras deem boa noite ao nosso príncipe!
Quase reviro os olhos. Só não faço porque, a esta altura, deve haver centenas de câmeras focadas em mim. Além disso, eu quase, digo quase, me acostumei a esse monte de frescura.A passos confiantes, desço os degraus sendo aplaudido. Assim que alcanço o salão, sou encurralado por uma enxurrada de flashes e perguntas vindas de todos os lados.
— Alteza, qual o motivo deste evento de última hora? — questiona um repórter.
— Alteza, as suposições dos jornais têm fundamento? Estamos mesmo em guerra? — pergunta uma moça de olhos claros.
Os seguranças fazem uma barreira de proteção diante de mim, porém isso não impede das indagações continuarem a vir.
— Príncipe, por que fechar as fronteiras? — questiona um homem de meia idade em inglês.
— Alteza, saíram fotos suas ao lado de duas mulheres esta madrugada. Algo a declarar? — pergunta um jovem em português.
— Alteza.... — falam vários outros deles. Eu perco a conta das indagações a mim dirigidas.
Querendo acabar com o tumulto, ergo uma das mãos e o silêncio reverbera pelo cômodo.
Assim é bem melhor.
— Entendo que precisem de respostas para todas essas indagações, mas, se vocês me permitirem, irei dar atenção a cada uma delas, contanto que falem um por vez. O motivo para ter requisitado a presença de todos, não tem relação nenhuma com as questões administrativas do reino ou fofocas publicadas em jornais e revistas. Entretanto, não me oponho a...
— Oooooh! — todos exclamam observando algo atrás de mim.Os homens parecem ver um pedaço de bife suculento, aqueles de dar água na boca e você ficar louco pra provar. Já as mulheres admiram com devoção, como se apreciasse uma deusa que elas reverenciam. O fato é que eles todos parecem que perderam a capacidade de raciocinar.
Extremamente curioso para saber o real sentido dessa reação pouco comum, giro nos calcanhares e sinto meu queixo cair diante do brilho que cintila da minha gata. Porra. Que. Perfeição! O vestido reflete todo o seu corpo, além de moldá-lo lindamente. Há também luvas
brancas em suas mãos que vão até os cotovelos e que, junto às mangas do vestido, cobrem seus braços. Em seu rosto um batom vermelho escuro quase preto, em sua cabeça um véu extremamente bem colocado e o melhor de tudo, sua beleza natural. Aquela que me fez querê-la desde o primeiro
instante que a vi.
Porém ela está incrívelmente pálida — quer dizer mais pálida do que de costume — e parece que vai desmaiar a qualquer momento.
Preocupado, desvio a minha atenção de sua beleza e foco em ir ajudá-la.
Rapidamente, subo as escadas. Os meus olhos nunca deixando os dela durante o percurso.
Vejo o alívio dela quando me vê ao seu lado. Ofereço-lhe meu braço pra ela colocar o seu. Olhamonos hipnotizados.
Vejo minha gata hesitar. Ela olha intercalando entre meu braço e o salão. Parecendo, enfim, decidir, ergue o braço e envolvê-o ao meu. Sinto sua mão trêmula contra minha pele.
— Ei, gatinha, relaxa. Eu vou estar do seu lado. Eles são todos seres humanos iguais a você. — digo para acalmá-la e ela assente após engolir em seco.A cada passo, olhares curiosos nos seguem questionadores.
No filnalzinho dos degraus, um flash atrás do outro clareia em torno de nós. A minha gata escorrega e eu a seguro rapidamente.
Sorrio de lado olhando em seus olhos. Seu peito sobe e desce ofegante.
— Isso está virando um momento característico só nosso, moça bonita. — falo sorrindo pra ela que ainda se recupera do susto.
— D-desculpe. O-os flashes m-me cegaram. — gagueja piscando rapidamente.
— Eu disse que iria estar contigo. Não permitiria que caísse. — sussurro em seu ouvido uma vez que paramos ali.
Ela afasta meu rosto do seu e nossos olhares se cruzam.
— Quem é a moça, príncipe? — indaga um dos repórteres nos transportando de volta para realidade.
— Ana Flávia Castela. — respondo e todos sorriem encantados.
— Mas e quanto às perguntas anteriores? — instiga um deles retomando o assunto anterior.
Para minha tristeza, penso.
— Nós não estamos em risco. Se as fronteiras fecharam é porque estamos justamente prezando pelo bem estar do nosso povo. Soubemos que estavam entrando produtos ilícitos pelas
fronteiras e decidimos que por um ou dois dias elas ficariam fechadas até resolvermos o caso. Mas a operação já está no final e logo tudo voltará ao normal.
— Se a moça é sua companhia esta noite, o que fazia com duas mulheres em um dos seus apartamentos, hoje, por volta das seis horas da manhã? — o jovem volta a perguntar.
Minha gata fica atenta à minha resposta.
— Eu não acredito que minha vida pessoal vá interessar ao povo, além do mais, não sei de quais mulheres você está falando. Hoje cedo fui a meu apartamento porque estava avaliando qual deles se encaixariam nos meus planos.
— Planos? — indaga esquecendo a questão passada estando, exatamente, onde eu quero que esteja.
— Sim, planos. Como eu dizia antes da beleza deslumbrante da mulher ao meu lado nos hipnotizar, tenho um motivo especial para este jantar. — olho para a Ana sorrindo. — Ana Flávia e eu queremos compartilhar com todos, o nosso noivado e casamento daqui a dois dias.
Assim que falo a palavra noivado, somos atingidos por uma avalanche de indagações e flashes. Nem tenho certeza se compreenderam o que falei depois.
— Por que um casamento tão rápido? — questiona um senhor.
— Onde se conheceram? — questiona outro senhor. Suspiro cansado.
— Por favor, senhores, uma pergunta por vez. Tenho certeza que meu irmão irá explicar. — escuto a voz de Murilo reverberar pelo salão quando ele para ao nosso lado sorrindo.
Encaro-o especulativo e furioso.
— O que diabos acha que está fazendo? Devia estar descansando. — murmuro com impaciência.
— Te salvando desses urubus. — murmura de volta com ironia, sem movimentar os lábios, enquanto sorri para as câmeras.
— Qual sua opinião sobre este casamento, príncipe? — questiona uma mulher estrangeira pelo seu sotaque.
Ele procura a voz em meio à multidão de pessoas e microfones.
— Oh... minha cunhada é simplesmente incrível, tem uma personalidade um pouco frágil, pois teve que passar por momentos difíceis recentemente, mas tenho certeza que ela faz meu irmão
feliz. Eu já a considero como uma integrante da família.
Franzo o cenho. — Murilo, do que diabos está falando? — a minha gata se encolhe.
Ele me ignora e continua.
— Peço a todos que deixem os noivos sentarem em seus devidos lugares para prestigiar esse momento único ao lado de todos os presentes. — passa a mão pela gravata uma vez que hoje se
vestiu com um smoking. — E eu também posso ajudá-los com tudo que querem saber, afinal, sou praticamente o padrinho mágico desse romance.
— Murilo... — rosno contrariado.
Ele continua a fazer charme para as câmeras.
— Preciso te mostrar algo, mas não aqui. — fala disfarçando.
— Certo. — concordo relutante.
Puxo a minha gata pelo braço e desvio de algumas pessoas antes de seguirmos pelo grande corredor.
Ana Flávia parece um robô, já que ela senta automaticamente quando paro diante da mesa que já comporta todos os meus familiares e lhe puxo a cadeira. Eu acabo sentando ao seu lado sem dizer
nada.
Boo cuida de apresentar a minha gata a todo mundo e eu tento achar uma explicação para as ações do Murilo Huff Mioto.
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Garota traficada-miotela
FanfictionAna Flávia, uma jovem menina cheia de sonhos e objetivos na vida, tem uma vida feliz ao lado dos seus pais até que um dia vê seu mundo se desmoronar de uma hora pra outra e no meio dessa catástrofe que é sua vida ela encontra o amor em alguém que el...