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Ana Flávia povs

Meu corpo inteiro doí, minha garganta está seca, minha cabeça gira e meus olhos ardem pelo tanto que chorei. Não tinha ideia de quanto tempo tinha passado desde que a Boo e eu tínhamos
comprado alguns artigos para decoração da festa de casamento, muito menos quanto tempo passou depois que nós decidimos ir andando a uma outra loja ou quanto tempo levou até sermos
encurraladas por uns três homens mau encarados, quando passávamos por um beco pouco movimentado.
Lembro que enquanto lutávamos para nos soltar, o motorista veio nos socorrer, assim como, um homem musculoso que nos acompanhava também partiu para nos defender. Ambos foram mortos a sangue frio na nossa frente. Um homem segurava a Boo que gritava a plenos pulmões por ajuda e chorava ao mesmo tempo. Quanto a mim, fiquei sem reação naquele instante. Era como se eu
estivesse num filme do qual eu participava, mas que logo a cena acabaria e alguém viria dizer corta.
Agora aqui nesse quarto escuro, nua e com os pulsos amarrados, eu caí na real e me perguntava o que eles tinham feito com a Boo e, principalmente, o que queriam comigo. Será que esta é minha sina? Sempre que a felicidade dá um sinal de vida vem alguém e me sequestra?

E eu que cogitei que esse dia estava sendo perfeito, o mais feliz desde que vi meus pais pela última vez... Sabe quando parece que a linha começa a entrar na agulha e aí vem um vento e
pronto, você tem que lutar para conseguir pôr a linha no buraco novamente? Era o que eu estava
sentindo, como se a felicidade que habitava em mim e o sentimento de que, enfim, a minha linha estava entrando no lugar que lhe era designado fossem bruscamente levados das minhas mãos.

Estou com sede, também estou com fome, pois a última vez que comi foram as besteiras no baú do quarto de Gustavo. Por falar em Gustavo, será que ele ainda é um garotinho cumprindo as
ordens do pai, mas que ainda tem um coração? Prefiro pensar que sim e que ele vem me tirar daqui, que sou importante o bastante para que isso aconteça, ou que venha apenas porque tenho que casar com ele amanhã, quer dizer, se ainda houver casamento.

A porta rangeu antes de alguém entrar e caminhar até onde estou a passos firmes e audíveis.
Sinto meu corpo inteiro arrepiar temeroso. Não me dou o trabalho de erguer o rosto, afinal, esse movimento vai cobrar muito de mim. Um esforço que no momento é pedir muito para as condições em que me encontro.
Sinto-me vulnerável. Eu estou nua na presença de um desconhecido. Estou fraca e amarrada.
— Ora se não é a brasileirinha virgem do leilão! — exclama o homem e eu percebo que aquela voz não é de um desconhecido, e sim, daquele cara asqueroso que me comprou no leilão.
Começo a entrar em pânico. Tudo que penso é que ele vai me matar. Naquele dia ele quase o fez. Minha sorte foi aqueles homens que invadiram o quarto quando alguém ordenou... Oh Deus!
Nunca voltei a recordar tão detalhadamente aquela noite e, por isso, nunca pensei em Gustavo como meu herói até agora, mas ele foi. Foi ele quem mandou aqueles homens. Mas também como eu ia agradecer a um assassino? Deus, eu estou tão confusa… Devo estar começando a delirar.
— Bom, virgem já não deve ser mais... — reflete e eu vejo seus sapatos pretos bem
engrachados entrarem no meu campo de visão.
Ele segura meu rosto e levanta minha cabeça. Sinto o pavor me corroer. Sua outra mão tira o cabelo da minha face e eu temo abrir os olhos e constatar que aquilo realmente é real.
— Sabe, eu quero sentir essa boca bem desenhada contornando minha pica. — engulo em seco ao ouvir as insanidades ditas por este velho tarado.
Ele soltou meu queixo e eu deixei a cabeça cair para o lado. Logo sinto suas mãos frias mexerem nas cordas que estavam me amarrando e, então, eu caio de joelhos cortando-os nas lascas
das madeiras velha do piso. Tento levantar para correr, mas é em vão. Minhas pernas não me obedecem e, muito menos, tenho forças para tal ação.
Escuto o som de um zíper ser aberto seguido por um farfalhar e os batuques dos sapatos contra o piso. Ele se aproxima.
— Meu membro está babando só de ver você tão vulnerável e saber que logo vou usufruir do seu corpo como bem entender, mas antes quero que abra a boca pra eu sentir minha pica entrar e sair da sua garganta. — encolho-me, porém logo sou obrigada a voltar à minha antiga posição, pois sou puxada pelos cabelos.
O puxão dói, mas eu pareço anestesiada e, por isso, não grito.
— Vamos! Abra a boca. — ordena. Entretanto, eu não faço e isso parece irritá-lo. — Estava tentando pegar leve, mas você é uma menina desobediente e meninas desobedientes recebem
punições. A sua vai ser me receber, enquanto eu prendo sua respiração. — diz friamente antes de me dar uma bofetada no rosto que me faz cair pra trás. Em seguida, ele me segura pelos cabelos e eu fico suspensa.
Ele prende meu nariz e me força a respirar pela boca. Ao abrir os lábios para respirar, eu tento gritar, quando sinto seu cumprimento preenchê-los. Tenho ânsia de vômito e, ao mesmo tempo, me engasgo tentando fazer um pouco de ar em meus pulmões. O aperto em meu cabelo fica mais forte.
O velho começou a entrar e sair da minha boca com fúria. Busco estômago para morder aquela coisa nojenta e com as forças que me sobraram, mordo-o com toda a força do mundo.
— Caralho, inferno, vadia dos diabos, puta desgraçada. — xinga e solta meus cabelos e nariz.
Desabo no chão tossindo.
— Vou te ensinar como deve ser um boquete.
Recebo um chute na barriga e quase perco os sentidos com a dor insuportável que se alastrou por todo meu corpo. Ele me puxa pelo pescoço e se coloca em minha boca novamente, enquanto me esgana.
Sinto as lágrimas descerem sem controle pelo meu rosto no mesmo instante que ouço a porta ser aberta e abruptamente ele é arrancado para fora de minha boca. Não consigo abrir os olhos naquele momento. Só vomitar e vomitar. Escuto um grito. Quando forço meus olhos a abrirem, vejo Gustavo
bem ali. Um alívio sem tamanho recai sobre mim naquele instante.
Entretanto, este alívio não dura muito quando olho nos seus olhos. Antes de minha cabeça processar qualquer coisa, vejo Gustavo cortar o pênis do homem, seguido das mãos e de seus pés.
— Não... não, não... para pelo amor de Deus para. — grito vendo o sangue do homem escorrer pelo piso. — Para, para... — Meu corpo inteiro está trêmulo. Meu coração bate
descompassado. Minha visão turva, enquanto eu dobro meu tronco e vomito sem parar em decorrência daquele odor acobreado de sangue fresco.
Gustavo olha pra mim um instante.
— Leve-a daqui, matheus. — ordena com a voz comedida, como se não estivesse mutilando um homem, como se aquilo fosse normal e ele estivesse saboreando a tortura de ver aquele homem que ainda agonizava em vida.
Eu sei que ele queria abusar de mim e me matar, mas há uma grande parte de mim que reluta com as atitudes do Gu. No fundo eu também quero vingar tudo que ele me fez, mas não assim, não lhe matando a sangue frio.
Mãos me erguem me trazendo à realidade.
— Não faz isso... Gu, não o torture... o mate de uma vez, mas não faz isso. — berro quando alguém me leva dali.
— Ele sabe o que faz moça. — o homem musculoso fala.
Ele me ajuda a descer a escada e eu vejo dois corpos jogados no chão da sala. Desvio o olhar para o outro lado. Já não aguentava mais aquilo. Minhas pernas estavam iguais a uma gelatina.
Eu já não me importava com minha nudez.
Podia ouvir meu próprio choro e soluços. Saímos para fora e o vento bate em meu rosto e corpo quando um outro homem sai do mato e eu solto um grito.
— Ele é dos nossos. Não precisa se preocupar. — o cara tenta me tranquilizar.
— E o chefe onde está? — indaga o que se aproximava num português pouco
compreensível. Talvez falando minha língua apenas para me acalmar.
— Ele já deve estar vindo. — diz o que me carrega.
Sem conseguir mais segurar meu peso em pé, eu me solto dele e sento no chão sentindo a pele da minha bunda ser beliscada por gravetos e folhas secas. Não sei quanto tempo demora até
Gustavo sair da casa e vir até nós, mas sei que os olhos dos homens nunca me olharam diretamente.
Olho para Gustavo e não vejo mais resquícios do homem frio e calculista que vi agora há pouco.
— Clareiem o caminho. — Gustavo ordena e se agacha para me cobrir com seu terno e me pegar nos braços.
Recosto a cabeça em seu ombro e me permito relaxar sabendo que, por mais que ele seja um assassino, ele nunca me faria mal ou deixaria alguém fazer, afinal, ele veio me salvar.

Garota traficada-miotelaOnde histórias criam vida. Descubra agora