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Ana Flávia povs

Estávamos deitados vendo na televisão um filme que eu nem estava prestando atenção. O grande relógio na parede marcava pouco mais de uma hora da tarde. O homem que estava atrás de
mim me fazia cafuné, enquanto sua outra mão repousava em minha perna. Tínhamos acabado de tomar o café da manhã e, por isso, não tinhamos fome.

Eu estava exausta do prazer que ele me proporcionou ao acordarmos. Meu sexo também ardia como se estivesse assado por causa dele. Mas é claro que eu
não ousei dizer isso a Gustavo.
— A médica que Felipe me indicou vem te consultar às três. — anuncia suavemente enquanto brinca com meus cabelos.
— Hoje? — indago virando para ficar cara a cara com ele.
— Sim, quanto mais cedo você voltar a se tratar, melhor. Não quero ter uma esposa doente.— acaricia minha bochecha. Sorrio encarando-o.
— Mas eu já sou doente, Gu. — expresso e ele faz uma careta adorável.
— Sim, mas antes eu não tinha conhecimento dos fatos, porém agora eu tenho. — retruca e aproxima o rosto do meu. — Além disso, você é minha mulher agora. — completa e me beija.
A centelha que há entre nós surge nos deixando ávidos para tirar tudo que der um do outro através daquele gesto. Colocando-me em cima dele, Gustavo segura meu cabelo em punho fechado e
rodeia minha cintura com o braço musculoso. Meus seios estão amassados diante da firmeza que ele aplica no toque.
Nos beijamos com fúria pouco contida, porém, segundos depois, as coisas foram ficando mais lentas, menos agressivas, e também, mais intensas.
Conseguia sentir seu coração pulsar junto ao meu. Sua língua acariciar a minha. Seu sabor, sua respiração, sua pele, seus toques... Me vi perdida nas sensações… Quando ele beijou meu
pescoço… Quando ele olhou dentro dos meus olhos... Gustavo sentou comigo enganchada nele e me depositou nos travesseiros que ele mesmo tinha jogado no tapete há pouco.
— Você é irresistível! — murmura me fitando, então, se abaixa colando seu corpo ao meu e volta a me beijar.
Correspondo ao ato enquanto grudo em seu pescoço, puxando-o pra perto.
Estava hipnotizada com o deslize e encaixe perfeito dos nossos lábios quando ele colocou a mão em minha intimidade dolorida. Tentei segurar, entretanto, o gemido de dor escapuliu por entre meus lábios. Gustavo se ergue imediatamente com o cenho franzido. — Você... — apertou meu sexo e eu mordi os lábios com força segurando o grito, mas inevitavelmente fiz careta. — Merda, Ana Flávia. — respirou fundo e sentou puxando em seguida meu
quadril para ele. Com as pernas escancaradas diante dele, Gustavo afastou minha calcinha e olhou minhas
carnes sensíveis soltando um longo suspiro.
— Você está completamente assada, linda. — rosna e eu engulo em seco. — Devia ter me dito. Ficou sentindo dor sem necessidade. — ele me encara. Parecia furioso.
— Eu só senti o incômodo durante o café. — argumento e ele levanta. — Aonde você vai? — indago baixinho.
— Vou ver se encontro uma pomada no quite de primeiros socorros. — explica. — Não saia daí. Eu já volto. — ordena em seguida.

Fechei as pernas e olhei pro relógio novamente. Nossos beijos duraram muito mais tempo do que imaginava, uma vez que faltavam três minutos para as duas. Sentei para organizar as
almofadas e, minutos depois, Gustavo regressou. Ele parou suas pernas torneadas bem próximas a
mim e sentou em seguida.
— Deite-se e abra as pernas. — manda e eu obedeço hesitante.
Ele me puxa pela perna e abre a pomada colocando um pouco no dedo indicador. Depois levando suas mãos até minhas dobras, ele aplica com cuidado e eu sinto um alívio enorme quando a
pomada fria é posta na minha pele sensível e ardente.
Concentrado, Gustavo aplica um pouco mais e, quando satisfeito, larga a pomada no chão e segura as laterais da minha calcinha forçando-a pra baixo. Levanto meu quadril para ajudá-lo.
— Você não vai poder usá-la por um ou dois dias. — afirma cheirando minha calcinha. Senti minhas bochechas queimarem de vergonha. — vamos nos vestir. A médica chega daqui a pouco.
— completa ficando de pé e desliga a televisão com o controle remoto que estava largado no sofá.
Em seguida, me estende a mão.
Levantei com sua ajuda e fiquei de frente pra ele.
— Desculpa, eu não consegui te dizer, por favor, não fica chateado. — sussurro e toco sua bochecha com uma das mãos, Gustavo a segura e beija a palma dela.
— Quero que confie em mim. Você pode me comunicar ou pedir qualquer coisa. Quero que perceba que somos marido e mulher.
Concordo e sorrio de leve.
— Eu sei... E estou tentando te oferecer o meu melhor. — digo. — Mas às vezes é
complicado pra mim. — completo e ele concorda com a cabeça.
— Vamos nos vestir. — propõe e eu o acompanho.
Fomos para o nosso quarto. Sentei na cama e ele foi para o closet. Num dos cantos, quase caindo, estavam meus presentes, inclusive, o álbum da minha mãe.
Coloquei o álbum no colo e olhei as fotos acariciando vez ou outra o rosto deles ou sorrindo boba relembrando os momentos em que foram tiradas.
— Você fica linda sorrindo. — tenho um sobressalto quando ouço o Gustavo. — Deveria fazer mais vezes. — ele estava vestindo uma calça jeans azul colada ao corpo e uma camisa de botões branca. Segurando em um dos braços, um vestido florido e uma sacola. — Você realmente gosta de voltar ao passado... — caminha e senta do meu lado. — Só tenta não se perder tentando voltar no tempo. Isso não vai te fazer bem.
— Não vou. Só gosto das boas lembranças que as fotos me trazem. Entretanto, por mais doloroso que seja, tenho plena consciência de que não irei mais vê-los, pelo menos, não nesta vida.
Ele assente e me entrega o vestido.
— Vista-se. Já são quase três e a doutora chegará a qualquer instante. — recolho meus presentes e os coloco sobre a cama. Pego o vestido das mãos dele e coloco. Era difícil me acostumar a nudez diante de outra pessoa, mas tornava-se menos embaraçoso a cada vez que ficava nua, afinal, como Gustavo mesmo
disse, ele conhece cada pedacinho do meu corpo intimamente.
Ele calçava o sapato quando eu voltei a me sentar no colchão.
— Tem um par de saltos pra você na sacola. — avisa e aponta.
Peguei a sacola e puxei um dos saltos e depois o outro. Gustavo tirou-os de minha mão e fez um gesto para que eu lhe estendesse o pé. Encarando-o acatei o pedido. Ele colocou os sapatos em meus pés, levantou me oferecendo a mão e eu aceitei.
Seguimos de volta pra sala e a campainha tocou. Gustavo atendeu e mandou a pessoa do outro lado da porta entrar. Uma loira alta e robusta agradeceu e passou por ele, após uma longa reverência, claro. A médica de idade não muito avançada,  acredito que uns 30 por ai me deu um sorriso educado, enquanto Gustavo caminhou
até onde eu estava e rodeou meu quadril com um dos braços.
— Essa é minha esposa Ana Flávia Castela Mioto e, se tudo ocorrer bem, sua paciente. — apresenta-me à médica que se curva diante de mim.
Olho para Gustavo atordoada e vejo ele contendo um riso. Minha expressão deve ter sido de surpresa, susto, incredulidade.
— Oi... — cumprimento-a tímida.
— É uma honra conhecê-los, altezas. — responde a mulher já ereta. — Sou a Dra. Bruna raquel alves. — apresenta-se e Gustavo indica o sofá.
— Vamos nos sentar. — faz um sinal pra mulher ir na frente e logo a segue ainda me abraçando de lado.
Após o curto percurso, a mulher esperou sentarmos no sofá oposto, para poder fazer o mesmo colocando sua maleta no colo.
— Soube por Felipe que tem artrite reumatóide.
— Sim, desde criança. — confirmo enquanto olho de relance pra Gustavo que ouvia com atenção.
— Você tem exames recentes? — questiona. — Vamos ter que refazê-los para avaliar seu quadro atual, mas seria importante tê-los para poder compará-los, uma vez, que já tem um longo histórico.
— Eu não os tenho, porém, sei o nome da minha antiga medicação. — digo distraída, perdida em lembranças.
Recordei do roubo, de meus últimos pertences que estavam numa mochila que, inclusive, continha os exames. Naquela noite chorei e implorei por ajuda aos meus pais, enquanto dormia
congelando no frio daquela praça.
Ela sorri ternamente.
— Ajuda, entretanto, fica mais evidente que precisamos fazer novos exames. — a médica fala e eu ouço atenta.
— Quando poderíamos fazê-los, doutora? — Gu se manifesta colocando a mão em minha perna.
— O quanto antes, assim, poderei receitar medicamentos que aliviará as dores da Ana.— explica. — Por enquanto algumas respostas serão o suficiente, coisas sobre os sintomas que sente ou se notou alguma coisa diferente nos últimos tempos, uma dor mais intensa, essas coisas. —conclui tirando um caderninho da maleta.
Ela me perguntou sobre várias coisas e eu respondia com sinceridade. A doutora anotou algumas observações e eu comecei a ficar temerosa com a possibilidade de meu estado ter piorado.
No final, ela disse que, de acordo com o que eu relatei, não via mal no fato de voltar a tomar meu antigo remédio e acabou prescrevendo-o e dando o horário que devia tomar.
Ficou decidido que eu faria os exames para ela prescrever a medicação definitiva, pelo menos, foi o que entendi. Quando a médica disse que seu trabalho estava temporariamente concluído, Gustavo que se metia na conversa a cada instante fazendo indagações e mais indicações sobre a
doença falou:
— Se é assim, eu ligo assim que possível para agendarmos uma data.
Ele fica de pé e a médica levanta também passando por ele em direção à porta.
— Até logo. — despede-se e eu sorrio murmurando um tchau. — Eu vou aguardar sua ligação, alteza. — fala saindo pela porta que Gustavo segurava aberta.
— Irei ligar logo, afinal, a saúde da minha esposa é prioridade. — meu marido fala e ela concorda antes de ir embora. Ele fecha a porta e caminha até onde estou sentada, pensativa e com receio de que minha doença tenha se agravado. Gu senta ao meu lado e me puxa pra ele. Aconcheguei-me contra seu peito sem hesitar. Estava precisando de carinho.
— Não se martirize, princesa. Se ela passou seu antigo remédio é porque as coisas não evoluíram. — ele me acalma.
— Eu espero que você tenha razão. — suspiro cansada. Ficamos em um silêncio confortável e acho que acabei pegando no sono, pois despertei
quando senti Gustavo me levar nos braços. A verdade é que já tinha dormido bastante, mas ainda estava um pouco exausta de tudo que havia me acontecido nesses últimos quatro dias. Primeiro, o sequestro, depois o casamento, em seguida o sexo e, por fim, esta consulta.
Gustavo percebeu que eu estava acordada quando resmunguei remexendo a cabeça em seu
peito.
— Quer comer alguma coisa? Não comemos nada além do café da manhã. — oferece. — Posso pedir para trazerem algo leve pra você. — conclui atencioso.
— Não precisa. Eu não estou com fome. Só preciso descansar um pouco. — bocejo.
— Muito bem, então somos dois. — me colocou na cama e logo deitou por trás de mim abraçando minha cintura.
Me aconcheguei a ele e voltei a dormir rapidamente.
Acordei com o barulho de um celular tocando e rolei na cama percebendo que Gu já não estava mais onde dormiu. Procurei por ele e o vi do outro lado do quarto, mais especificamente, na sacada, já atendendo o telefone.
Livrei-me das cobertas e fui até ele sem me importar em pôr meus pés descalços no chão extremamente gelado. Gu estava de pé diante da barreira de proteção olhando ao longe distraído, mas em sua face pairava um sorriso contido.
— O que aconteceu? — pergunto baixinho para não atrapalhar a conversa que ele estava tendo no celular.
Ao me aproximar reconheci a voz da pessoa do outro lado do telefone. Era Boo e sua voz estava chorosa. Não entendi porque a irmã dele estava chorando e ele, sorrindo.
— Calma, princesa, nós estamos indo pra aí. — anuncia. — Pode deixar que eu vou cuidar de todo o necessário para o velório. Faço questão. — conclui e desliga.
— Meu pai acaba de falecer. — minha boca se abre em choque pelo modo frio como ele falou.
Olho pra ele sem saber o que dizer então simplesmente falo:
— Eu sinto muito. — digo triste por ele. — Sei bem como é a dor da perda.
— Não sinta, pra mim ele já foi tarde. — meu queixo cai e eu olho pra Gustavo completamente atordoada.
— Ele era seu pai! Como você pode falar uma coisa dessa? — pergunto incrédula.
— Não, princesa, ele não é e nem nunca será o meu pai. — afirma. — É apenas um homem qualquer, ou melhor, um homem que merece queimar no fogo do inferno. — fala isso com tanta
propriedade, tanta mágoa que dou alguns passos pra trás temerosa por não reconhecer o homem à minha frente. Ele não é o mesmo que desde ontem me trata com carinho.
— Vamos! Eu prometi à Boo que cuidaria do velório e da imprensa. — passa por mim trajando uma cueca box branca.
Vi-o começar a se vestir, mas eu continuava ali parada, sem saber como processar tudo aquilo que ele disse e menos ainda o que fazer para lhe ajudar. Todavia de uma coisa tinha certeza.
Gustavo não podia carregar esse rancor e ódio do seu pai. Isso seria prejudicial a ele e às pessoas ao seu redor.
Caminhei até o quarto sem saber realmente o que fazer e optei pelo óbvio que era me arrumar para ir com ele. Prendi meus cabelos no alto da cabeça e arrumei meu vestido que estava
amassado. Fui até o banheiro escovar os dentes e lavar o rosto.
Ao regressar para o quarto, Gu também já tinha se aprontado e me esperava de
braços cruzados com as costas recostadas na porta.
Caminho até ele decidida a dar-lhe conforto. Talvez aquela fosse uma barreira de proteção que ele tivesse criado. Diante dele abraço sua cintura. Ele não hesita em me abraçar de volta. Porém quando menos espero, ele me ergue e rodopia comigo nos braços antes de me beijar com fúria.

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