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— Querida é a Eliza. Desconfio de que chorou a noite toda, então vim acordá-la. Você precisa estar pronta para as tarefas de limpeza. — murmura do outro lado. — Vá depressa! Eu vou
voltar ao meu quarto antes que me peguem. — fala tão rapidamente que acho que nem respirou.
— Obrigada! — agradeço e corro para o banheiro onde escovo os dentes, tomo um banho e me desespero ao lembrar que não tenho o que vestir.
Retorno ao quarto de toalha e vejo uma mala próximo à janela que, em meio à agonia de ontem, nem tinha visto. Caminho até lá e, ao abrir, encontro roupas. Escolho um short jeans e uma
blusa branca. Encontro as langeries e pego a mais confortável, afinal, vamos fazer a limpeza. Visto tudo, penteio meus cabelos e prendo em um nó improvisado no topo da cabeça.
Organizo a bagunça que fiz enquanto espero alguém vir me buscar. Estou dando o último retoque quando no tempo exato a porta abre.
— Vamos. — é tudo que o homem diz e eu lhe sigo. Quando saio pela porta surpreendo-me
com a quantidade de mulheres atrás dele. São umas oito, inclusive, contando com a Eliza. — O grupo de vocês vai ficar responsável pelo salão. — avisa o homem.
Andamos até o dito cujo e recebemos o material necessário. Umas receberam aspirador de pó, outras baldes e rodos. Eu recebi a última opção, o que significa que fiquei responsável por lavar
o piso. Olho pra Eliza e vejo que segura um rodo também. Menos mau, assim não ficarei sozinha no meio dessas mulheres desconhecidas.
Passamos a manhã inteira limpando o piso. Foi cansativo! Aquele lugar é imenso! Porém conheci algumas mulheres, conversamos, contamos histórias. Fiquei sabendo que a hora da limpeza era a única em que elas podiam interagir entre si. Aquele momento descontraído foi a única diversão
que tive desde a morte dos meus pais.
Em uma oportunidade, fiquei a sós com a Eliza e perguntei como ela conseguiu sair do seu quarto para me chamar se ficamos sempre trancadas. Ela me disse que tinha seus meios adquiridos ao
longo dos anos, ou seja, tinha roubado a chave de um cliente bêbado.
Logo após seu relato, as meninas voltaram a se reunir conosco. Fomos almoçar, mas nossa festa acabou quando fomos trazidas de volta para nossos respectivos quartos.
Agora estou novamente na minha prisão. A cada segundo que passa, o meu destino cruel se aproxima. Quando estava fazendo a limpeza, nem estava recordando desse detalhe pavoroso. Meus olhos lacrimejam mais uma vez e choro de novo implorando por um milagre. Passo muito tempo assim e, quando olho pela janela, percebo que já é bem tarde, pois o sol está desaparecendo no horizonte.
Sem ânimo, levanto da cama, tomo banho e visto a roupa que me trouxeram mais cedo.
Estou arrumada para meu próprio funeral. Digo isso porque nunca vou deixar que me toquem. Eu prefiro cometer suicídio. Pensei muito e cheguei a essa conclusão. Eu nunca vou conseguir seguir em frente depois de ser estuprada porque é isso que vai acontecer. Porém enquanto tiver forças, vou lutar bravamente contra meu comprador. Como prometi, vou ser forte, mas se por um acaso não alcançar
meu objetivo...
— Anda garota! — dou um sobressalto, pois estava tão submersa nos meus pensamentos
que não vi aquele homem entrar até ouvir sua voz.
A passos comedidos, sigo-lhe. Dessa vez, ele não me leva pelo braço e eu fico tentada a correr, mas como iria sair, se até a janela do quarto em que durmo é gradeada? Além disso, o lugar é tão alto que se alguém tentasse pular morreria pela queda... Tento me distrair, pensar em qualquer outra coisa, mas nada está funcionando. As minhas pernas estão a ponto de dobrar. Meu corpo treme
como um liquidificador. Meu coração bate descompassadamente. Já não sinto mais minha respiração…
A cada passo que dou é como se fosse ser morta por enforcamento em praça pública. É como se fosse entrar num lugar repleto de leões famintos ou indo em direção à minha condenação de
morte. Estou tão mal que tudo ao meu redor não passa de um borrão. De repente, sou arremessada como um saco de batatas naquele mesmo palco de ontem. Interpreto isso como o fim da linha pra mim e que daqui eu só vou sair com um homem asqueroso. Sem controle, começo a chorar, mas meu
cabelo é puxado e o homem rosna ameaçadoramente bem perto do meu rosto mandando eu parar.
Com muito esforço, engulo o choro e me encolho.
No meu torpor, não sei quanto tempo se passa até que ouço:
— Boa noite, cavalheiros. Esta noite teremos dois sortudos. Sim, meus caros, dois. Eu disse dois sortudos. Essas belas jovens virgens podem ser defloradas por um de vocês. Basta que deem seus lances. Começaremos nosso leilão por essa loura gostosa com a quantia de cinco mil dólares. Alguém se interessa? — Ele parece repetir isso em mais duas línguas antes de ouvirmos:
— Eu dou seis mil dólares. — procuro a voz em meio o aglomerado de homens e quando encontro, engulo em seco, pois o cara é um velho cheio de rugas.
— Dez mil. — diz outro homem, mas esse é jovem, talvez, tenha uns vinte e cinco anos. Ele é alto, branco, musculoso, usa aquelas roupas que mais parece um vestido e carrega um sorriso
sombrio, seu semblante remete perigo.
Os valores continuam a subir. Agora a quantia é de trezentos mil, que passa a ser quinhentos, logo seiscentos e, então, ela é arrematada por setecentos mil dólares pelo mais jovem.
O brutamontes continua a falar:
— Um de vocês já está com a festa garantida. Parabéns pela aquisição de hoje, senhor.
Agora vamos descobrir quem será o sortudo a levar pra cama essa brasileirinha virgem.
— Lance inicial de vinte mil dólares, afinal, estamos falando de uma brasileira e nós sabemos o quanto elas podem ser quentes e escandalosas.
Meu sangue ferve. Fulmino o maldito desgraçado. Ele nunca deve ter ouvido aquele ditado que diz nunca julgue o todo pela metade porque se tivesse ouvido saberia que nem toda brasileira é a prostituta que eles procuram além do mais...
— Nunca comi uma brasileira. Dou cinquenta mil dolares para ter essa belezinha na minha cama. — não consigo completar meus pensamentos, pois escuto essa frase e sinto um arrepio percorrer meu corpo. Não é um arrepio bom. É aquele que te diz pra fugir, pois você corre perigo.
Procuro rapidamente quem deu o primeiro lance e vejo um homem que aparenta ter uns quarenta e cinco anos, cabelos grisalhos, porte atlético. Ele não é um dos que usa saia, pelo contrário, ele veste um terno preto feito sob medida. Seus olhos negros são ferozes. Seu olhar exala perigo.
— Eu dou oitenta mil. — retruca um moreno, de uns vinte e cinco anos, mas nem por isso deixa de ser forte, alto e ter a mesma seriedade no olhar como o do seu oponente.
— Duzentos mil. Eu dou duzentos. — grunhe o mais velho, bem irritado, porém, não se deixa intimidar pelo jovem que volta a confrontá-lo.
— Quinhentos mil. — assim eles iniciam uma espécie de confronto. Para meu desespero, os
lances vão aumentando cada vez mais.
— Um milhão de dólares. — rosna o mais velho com o semblante decidido. Parece que não aceita perder. O jovem suspira e senta.
— Um milhão! Alguém dá mais? — ninguém diz nada e o brutamontes continua. — Dou-lhe uma, dou-lhe duas...dou-lhe três. A noite com a brasileira foi vendida ao senhor. Para os
compradores, peço que venham buscar as chaves do quarto das suas aquisições. Por favor, deixem nas trancadas quando saírem pela manhã e devolva a chave ao segurança da entrada. Boa noite a todos e aproveitem.
Fecho os olhos com força reprimindo o choro. Esse é o último decreto. Eu vou ser obrigada a dormir com esse homem.
Quando volto a abrir meus olhos, o comprador da minha ingenuidade está ao meu lado.
Encolho-me aterrorizada. Minha respiração fica presa. Ao ver meu medo, ele sorri sombrio e pega uma coleira igual as que se usa em cachorro. Só respire, Ana Flávia, digo internamente tentanto obter calma.
— Estou louco para comer seus buracos. — puxa meu pescoço e um grito de terror escapa da minha boca. — Não faz assim que isso só aumenta minha ereção princesa. — ele prende a coleira
no meu pescoço e volta a falar. — Agora levanta e me leva até seu quarto. — ordena.
Tento levantar, mas minhas pernas não obedecem e o homem gargalha alto.
— Caramba, princesa, vejo que te comer será inesquecível. Você está fazendo valer cada centavo.
Ele puxa meus cabelos me obrigando a ficar em pé. Meus joelhos fraquejam.
— Agora me obedeça ou será bem pior pra você. — fala com seriedade. Ele muda de humor muito rápido.
— E-eu n-não sei c-como chegar ao q-quarto. — gaguejo.
O homem exala fortemente.
— Então venha, pois vou exigir que alguém nos acompanhe até ele. — rosna furioso e puxa a coleira no meu pescoço.
Sigo-o em meio ao salão tropeçando nas pessoas que dançam.
Ele conversa com um homem que nos guia. Eu vou atrás, no piloto automático. Minha vontade é de correr. Minhas mãos estão lavadas de suor. Meu coração palpita. Meus olhos estão
marejados. Queria poder escolher o homem com quem vou perder a virgindade. Sonhava com um
príncipe encantado que me amaria incondicionalmente antes de me tomar, mas nada na minha vida é como sonhei, nada.
— Finalmente a sós, princesa! — pulo assustada ao ouvir a voz rouca do homem próximo ao meu ouvido.
Ele retira a coleira e me manda tirar o vestido. Busco uma brecha por onde possa fugir, mas estamos trancados no quarto. Eu não tenho para onde correr.
— Eu disse para tirar a porra do vestido! — esbraveja e eu me assusto deixando as lágrimas caírem.
Ele vai tirando a roupa e fica nu na minha frente.
— Você não vai querer me desobedecer da próxima vez, princesa, porém, vou relevar essa.
Você é virgem e deve estar apavorada. Não vou mentir e dizer que isso não me excita pra caralho.
Também não vou prometer ser cuidadoso, pois eu gosto de ver o medo, a dor e a angústia nos seus olhos. No entanto, vou lhe dar um conselho: quando eu mandar você fazer alguma coisa, me obedeça ou será bem pior.
Ele se aproxima e eu, instintivamente, dou um passo pra trás.
— Ah. — grito ao cair na cama.
Ele aproveita para subir em cima de mim. Tento chutá-lo, mas ele me enforca com as duas mãos. Tento tirar suas mãos do meu pescoço. Eu estou sufocada. O pior de tudo é que minhas mãos doem e eu não consigo afrouxar seu aperto. Desesperada, me agito. Luto em vão. Esse vai ser meu fim, mas talvez isso não seja tão ruim, pois, inconsciente, não vou vê-lo usufruir do meu corpo.
Contudo, quando pensei que fosse desmaiar, estremeci ao escutar o som do meu vestido
rasgando. O ar frio passa pela janela que esqueci aberta e entra em contato com meus seios expostos deixando-os arrepiados. Chuto tudo que posso para me defender e, ao acertá-lo, ele range de dor e liberta um pouco o aperto em meu pescoço.
Consigo gritar e me debater, porém, logo ele se recupera e volta a me enforcar.
Meu corpo já está entre a escuridão e a lucidez. Esgotada de tentar em vão lutar por minha vida, permito-me ficar à mercê dele. Uma lágrima quente desliza pelo meu rosto. Ela representa a
minha vida não vivida, o meu sofrimento, o encerramento dos meus sonhos. Talvez esse seja o meu
destino sendo cumprido. Meus pulmões queimam. Sinto que meu fim está próximo e eu não tenho
forças para ir contra a corrente. Fecho os olhos e me entrego.
Quando estou quase inconsciente, uma rajada inesperada de ar enche meu peito. Encaro isso como a vida me dando uma nova oportunidade de lutar. Preparo-me para bater nele, mas o ouço
berrar:
— Mas que porra é essa! — grita o homem em cima de mim, soltando-me totalmente.
Continuo focada em respirar. Ainda não tenho forças para abrir os olhos e ver o motivo do seu grito ou da minha liberdade repentina.
— Sinto muito, senhor, mas essa moça não poderá ser sua por esta noite e acredito que em noite alguma. — fala alguém até então com a presença despercebida pra mim. Tomo algumas
respirações com uma série de questões rondando minha cabeça: Será que uma pessoa invadiu o quarto para me salvar? Quem faria isso? A única amiga que tenho aqui é a Eliza… E de quem é essa
voz masculina?
— O caralho que não! Eu paguei por ela. — xinga e eu sinto seu corpo pesado sair de cima de mim.
Suspiro aliviada.
— Devolveremos seu dinheiro com um acréscimo pelo inconveniente. — prossegue o meu anjo da guarda enviando por Deus.
Eu me ponho a chorar e agradecer a Ele por me ouvir.
— Isso é o cúmulo! Eu deveria arrancar sua cabeça fora! Saiba que acabam de perder um cliente assíduo. — grita meu comprador furioso.
— Senhor, quero que compreenda que apenas seguimos o que nos ordenam. Agora, por favor, queira nos acompanhar. — diz outra voz, o que significa, que tenho dois anjos da guarda.
— Isso não vai ficar assim! Quando encontrar-me com o dono desse estabelecimento, vocês
vão se arrepender amargamente. — escuto a voz asquerosa brava se distanciando e, em seguida, o
som da chave girar na fechadura.
Um pouco mais recomposta do susto e, principalmente, do enforcamento, abro os olhos.
Tudo que encontro é um quarto vazio. Minhas emoções foram abafadas pela adrenalina que ainda não deixou meu corpo e que logo implora por descanso. Mesmo com receio de que ele possa voltar e me estuprar, permito-me adormecer, pois estou esgotada tanto fisicamente como emocionalmente.
— Eu me lembro bem de dizer que a queria totalmente pura e, pelo que vejo, ela esteve nos braços de outro homem. — acordo assustada com essa voz potente, máscula e rouca falando
gelidamente a julgar por seu timbre de voz. É como se nada o atingisse.
Permaneço de olhos fechados e dessa vez não é por falta de condições físicas, e sim, por não ter coragem de ver o que se passa.
— Entendo, alteza, mas, ela ainda é virgem. Nós conseguimos evitar que o ato fosse consumado. — essa voz eu reconheceria em qualquer lugar. É daquela mulher bem vestida que me
recebeu aqui duas noites atrás dizendo que seria uma prostituta bonita. — Conseguiram evitar que o ato fosse consumado. — repete o homem em tom de escárnio, puro deboche. — Isso é uma falta de respeito para comigo. — minha espinha arrepia com a
intensidade do seu tom calculista.
— Nunca! Por Alá, príncipe! Realmente, não sabiamos que... — ela parece aflita, nervosa e com vontade de agradar ao homem, tanto é que sua voz some no final da frase.
— Sabe o que eu não tenho? — indaga ele com um tom de voz diferente, muito mais ameaçador, duro como aço. — Vou lhe dizer. Eu. não. tenho. paciência. ou. tempo. para. incompetência. — fala compassadamente.
Ouço um osso estalar e minha respiração falha.
— A-alteza m-me...
Procuro coragem para abrir os olhos e observo o que está acontecendo para a mulher gaguejar daquela forma. Imediatamente, meus olhos saltam fora de órbita ao ver o homem mais
bonito que já vi na vida, puxar uma longa faca do coldre abaixo de sua jaqueta, movimentando-a em
sua mão com um olhar calculista em seu rosto. Mas a pior coisa era o rosto dele. Não havia nenhuma piedade, misericórdia, nada. Não havia excitação ou ansiedade.
Ele virou e agarrou os ombros da mulher por trás.
Ela gritava temerosa. Os olhos dilatados olhavam diretamente em minha direção quando, de repente, ele passa a faca em seu pescoço e a solta. Seu corpo, sem vida, cai inerte no chão em um
baque horripilante.
Um grito de terror escapa da minha garganta. Estou aterrorizada. Meu queixo treme incontrolavelmente. Imediatamente aqueles olhos gélidos focam em mim. Ele me avalia
demoradamente. Suas sombrancelhas erguem-se em desafio.
Meu corpo treme ainda mais. Sinto pavor pelo que ele acaba de fazer de forma tão cruel e, principalmente, pelo que ele pretende fazer comigo. Instintivamente encolho-me. O cheiro acobreado de sangue paira como névoa no ar entupindo minha garganta e nariz, parecendo afundar-se na minha
pele e enterrando no fundo do meu corpo, as imagens horríveis que pareciam se repetir em minha
cabeça.

<💫>

1- Ai ai, isso ficando cada vez mais pior, mas daqui a pouco vai mudar tudo pra nossa pitica.....

2- próximo pov é do Gustavo...

3- votem e comentem bastanteeee😭

Garota traficada-miotelaOnde histórias criam vida. Descubra agora