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Ana Flávia povs

Ontem quando saímos do cemitério, Gustavo me trouxe em casa onde tomei um banho e acabamos indo a um restaurante jantar. Ele não me deu o seu “eu também te amo” em nenhum
momento, mas dizem que os árabes não são de demonstrar sentimentos, embora a mistura brasileira com árabe que a família dele carrega deturpa algumas dessas tradições... Enfim, o importante é ele demonstrar como fez ontem ao voltarmos do restaurante e como vem fazendo sempre. Pode parecer o fim do mundo eu amar um mafioso, assassino, porém, eu não acho. O Gu cuida muito bem de mim desde que me tirou daquele clube. Claro que ele é possessivo e, muitas vezes, limita minha privacidade como fez ao me vigiar durante aquela viagem. Entretanto, ele nunca levantou a mão pra me bater ou fez algo contra minha vontade. Ele nunca me maltratou. Então eu te
pergunto, é absurdo amar uma das únicas pessoas que se importa com você, que presa por sua segurança, que é responsável pelo bebê que carrega em seu ventre, que te faz feliz, que te aconselha, que é seu parceiro e amigo e, por fim, que acata seus desejos? Claro que não é aconselhável se envolver com alguém com todos os defeitos dele, mas foi inevitável quando o conheci. Ele sabe separar as duas faces de sua vida. Ele é um bom irmão, um bom marido, já demonstra que será um bom pai e eu tenho certeza de que será um bom rei. Claro que sua outra face é, sem dúvida, fria, horrenda, desumana enfim, monstruosa. Todavia também é triste e
traumática, principalmente, para alguém que sonhava com uma vida diferente como ele mesmo deu a
entender algumas vezes. Mas voltando ao aqui e agora, já são quase quatro e meia da tarde e eu estou procurando
uma roupa adequada para nosso passeio. Para o dia de hoje combinamos de ir à praia e ele já está me esperando na sala, quer dizer, ao menos foi o que ele prometeu depois da nossa tarde de preguiça vendo um filme na cama e bom... Nem preciso dizer que não assistimos nem metade dele. Estou com
as partes íntimas doloridas da intensa maratona de sexo que praticamos.
Reviro as malas que ainda não tinha desfeito e encontro um biquíne branco e uma saída de praia amarela bem comportada que se assemelha a um vestido cheio de buraquinhos. Visto o biquíni, coloco a saída por cima e vou ao seu encontro.
Das escadas já posso ver meu marido de costas olhando pela janela com as mãos no bolso de sua bermuda branca. Gustavo parecia distante, perdido em pensamentos e completamente sexy
com aqueles cabelos bagunçados e ombros largos desnudos. É visível que meu ursinho está menos armado e menos vigilante a qualquer sinal de perigo. Ele parece mais leve. Desço os últimos degraus que falta e caminho até ele. — Estou pronta! — anuncio e ele vira em minha direção com sorriso de arrancar calcinhas. Sorriso que aos poucos vai desaparecendo quando ele analisa meus trajes. — De novo não, por
favor... — imploro assim que ele abre a boca. Gustavo me olha com o cenho franzido.
— De novo não o quê? — pergunta confuso.
— Você ia reclamar das minhas vestes e antes que o faça, quero que saiba que não vou trocar. — falo e ele estreita os olhos. — Ontem disse que te amo e nenhuma roupa ou olhar de outro
homem sobre mim vai mudar isso. Além do que, foi você mesmo que me aconselhou a ser mais decidida, forte e madura, então, é o que estou fazendo. Não vou trocar nada e ponto final. — concluo e cruzo os braços.
Ele me olha sorrindo e ergue as mãos.
— Eu não disse nada esposa. Mas gosto de te ver emburrada. — declara enquanto caminha em minha direção. — Sua pele adere a um tom de vermelho, se bem que eu acho que prefiro seu sorriso tímido. — para diante de mim e afaga meu queixo antes de descruzar os meus braços e me puxar pela cintura colando assim nossos corpos. Ele é um pouco mais alto, por isso ergo a cabeça para fitá-lo.
— Ursinho... — murmuro quando sinto sua ereção pressionar minha barriga, mas sem me dar ouvidos, meu marido assalta minha boca. Seus lábios dançando contra os meus já me deixam sem raciocínio para argumentar e eu o
correspondo levando a mão à sua cabeça trazendo-o pra mim, enquanto a outra arranha suas costas. Ele por sua vez percorre meu corpo com as mãos e, vez ou outra, aperta minha bunda enquanto varre minha boca com a língua. Gustavo foi me guiando de costas naquela pegação de mãos por baixo da saída de praia, acariciando minha coxa e bunda. Eu estava ficando sem ar. Sinto quando a parte de trás das minhas pernas batem no sofá. Ele me depositou no estofado lentamente e, deitando sobre mim, começou a distribuir beijos molhados pelo meu pescoço. O arrepio que o gesto me causou, além de me fazer gemer, me
influenciou a separar minhas pernas para dar-lhe espaço. A cada mordida no nódulo da minha orelha, eu respiro fundo, a cada apalpanda no meu
corpo eu arfo, a cada beijo eu gemo entregue... Minha intimidade pulsava de tesão e meu biquíni estava encharcado.
Os grunhidos que ele profere, sua respiração acelerada e a evidência do seu desejo por mim me desnorteiam.
Sua língua faz caminho por minha pele até sua boca voltar à minha, mas é perceptível que ele está desacelerando as coisas e o beijo não é mais afobado e feroz, mas sim carinhoso. Uma troca de
afeto e paixão, degustação e amor... Ele não me respondeu em palavras, mas eu sei que ele me ama. Sua mão desliza por minha perna. Sinto seu corpo colado ao meu e as batidas dos nossos corações quando, por falta de oxigênio, encostamos nossas testas para recuperá-lo.
— Se não pararmos agora, a praia terá que ficar para outro dia. — sussurra contra meus lábios.
A contragosto afasto minhas mãos dele ainda ofegante.
— Então vamos parar porque eu quero ir à praia. — murmuro e ele concorda se erguendo e pegando minha mão para me ajudar a levantar também. Alcançamos a porta sem dizermos nada... Não era necessário. Quando chegamos do lado de fora, seguimos a pé, pois estávamos realmente próximos à praia. Era só atravessar a rua. Depois de chegarmos na areia, eu me escorei nele para tirar as sandálias. Adoro andar descalça. Lembro que minha mãe me perguntava se eu não tinha sandálias, mas a verdade é que a sensação dos meus pés na areia me atrai. Quando enfim estou descalça, ergo o rosto e vejo o semblante inquisidor de Gu.
— Gosto de andar descalça. — explico dando de ombros. — Devia experimentar. — instigo e ele parece refletir um pouco olhando de mim para as suas próprias sandálias. —Experimenta. Se não gostar é só calçá-las de novo, além disso, você vai ter que se desfazer delas em algum momento. — falo incentivando-o.
— Tudo bem. — concorda e as retira.
Olho para o mar diante de nós e me perco na sensação de liberdade que é o cheiro da brisa, o calor dos raios de sol contra o meu rosto, o contraste frio e quente da areia. Fecho os olhos e
respiro fundo absorvendo no âmago todos esses detalhes deliciosos.
— Perfeito! — ouço meu marido murmurar e abro os olhos para lhe responder, mas acabo não fazendo uma vez que, percebo que não é do mar ou do sol que ele está falando, mas sim, de mim. Gustavo me admira intensamente e eu fiquei sem graça. Meu marido caminha em minha direção com aquela cara de safado que ele faz quando quer
me possuir, porém eu sou mais rápida e desvio antes de correr dele que vem atrás de mim e logo me alcança pelo quadril fazendo com que perdêssemos o equilíbrio. Ele meio que amorteceu a queda me segurando pela cintura, mas não teve jeito e eu acabei ficando contra a areia e seu corpo.
— Merda, Ana Flávia, você está grávida porra. Não pode ficar caindo. — rosna bravo, mas eu só consigo rir da sua preocupação desmedida e do nosso tombo. Ele se levantou apressado e me pegou no colo como se eu estivesse quebrada. E eu rolo os olhos.
— Não se preocupe, ursinho, nós estamos bem. — digo, entretanto, ele não me escuta e continua a me levar nos braços pra onde quer que ele pretende ir. — Gustavo! — insisto. — Me coloca no chão quero ir até a água. — peço batendo de leve em seu ombro para atrair sua atenção.
— Vamos a um hospital. Nada de praia pra você. — me encara sério.
— Disse pra me pôr no chão. Eu estou bem, já disse. — articulo me sacudindo para sair do seu aperto.
— Gatinha... — murmura me repreendendo.
— Se estivesse sentindo algo, seria a primeira a querer ir, Gu, mas não estou. Aquilo nem pode ser considerada uma queda. — falo com calma. Gu suspira e me coloca no chão a contragosto.
— Tem certeza que está bem? — indaga em desconfiança.
— Tenho, seu bobo. — afago seu queixo e fico na ponta dos pés para dar um selinho em sua boca. — Quero entrar no mar, vem comigo? — peço enquanto nos encaramos.
— Claro. — responde tirando a madeixa do meu cabelo que caiu no meu rosto colocando-a por trás da minha orelha.
Fomos em direção a água de mãos dadas. Paramos na areia um pouco antes do mar ele para ele tirar a bermuda e eu, a saída de praia.
— Alá, princesa! Isso lá é roupa de banho!? — reclama ao ver o meu biquíni. Eu o ignoro entrando no mar, após dar uma boa avaliada nas pernas dele, que agora trajava apenas uma sunga azul escuro.
Percebo que a água está na temperatura ideal para um banho, enquanto sigo até ela ficar um pouco abaixo dos meus seios. Não demorou muito para o Gu chegar por trás de mim me abraçando, ao mesmo tempo em que deposita um beijo em meu pescoço e suas mãos vão para a minha barriga que está imersa na
água. Posso sentir sua ereção cutucar minha bunda e, por isso, suspiro..A praia está um pouco vazia, pois é fim de tarde e o sol também já está se pondo no
horizonte. O silêncio reina enquanto recosto a cabeça no peito dele e cubro suas mãos com as minhas.observando a obra de arte muito bem arquitetada pelo criador se desenvolver no céu, enquanto o dia vai dando espaço à noite. Meu ursinho coloca meu cabelo pro lado e deposita o queixo em meu ombro. Quando o sol desaparece por completo e a lua toma seu lugar, ele sussura em meu ouvido:
Eu também te amo, gata! — um sorriso brotou em meus lábios e uma lágrima caiu pelo meu rosto.
Foi inevitável não lembrar das palavras sábias da minha mãe. Ela tinha razão ao dizer que Deus escreve certo por linhas tortas e que tudo de ruim que nos acontece é uma provação de que somos capazes de lutar, perseverar e vencer para, enfim, alcançar o que realmente o Criador tinha planejado, pois aí saberemos que veio por merecimento. E meu bebê, meu marido, minha felicidade, minha amizade com a Boo, Eliza, Gabi enfim, tudo e o que sinto ao ouvir essas palavras veio porque resisti às turbulências da vida e é claro vou
continuar firme e forte para continuar lutando, mas agora eu não estou mais sozinha e ao relento. Agora eu tenho... meu monstro. Viro-me em seus braços e fitando o fundo dos seus olhos respondo:
— Te amo! — enlaço seu pescoço e beijo seus lábios com todo meu carinho e ternura.

Garota traficada-miotelaOnde histórias criam vida. Descubra agora