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GUSTAVO POVS

Cheguei ao palácio estressado, com uma enxaqueca dos infernos, cansado, cheio de problemas e, como se não bastasse tudo isso, agora tenho a certeza de que, em pouco tempo, serei o novo rei da Arábia Saudita, pois além de ser o sucessor do meu pai, ele confessou-me ontem estar com uma doença terminal.
Meu pai é um homem respeitado, apesar dos pesares e dos problemas sociais da população.
Também pudera, afinal, ninguém tem conhecimento dos seus negócios clandestinos. Ele não só trafica
mulheres para aquele clube, como também faz parte da máfia da Arábia. Pois é, a Arábia tem uma máfia! Não é igual à Cosa Nostra, a Bravta, a Chicago Outfit e às demais máfias poderosas. A máfia da Arábia é pequena, com poucos integrantes, mas, nem por isso, menos influente. Com a morte do meu pai, passarei a ser o chefão dela, Capo, Don ou como desejar chamarem. Ou seja, o homem à frente dos "negócios". Porém isso não me preocupa, já que desde os meus cinco anos fui treinado para exercer os dois papéis: tanto de chefe da máfia, como o de rei da Arábia.
Meus irmãos, assim como o povo arábe, nem desconfiam das facetas do nosso pai, também não confio a todos os meus irmãos esta informação. O único dos meus irmãos a quem confiaria a
minha vida é Murilo. Ele é meu irmão tanto por parte de pai, como de mãe. Nossa mãe faleceu muito cedo. Ela era uma brasileira, como a maioria das esposas que vivem no palácio. Talvez por estarmos rodeados delas, temos o português como nosso segundo idioma. Retomando o assunto confiança,
preferi não destruir a visão de herói que meu irmão tem do nosso pai, por isso, nem mesmo Murilo tem conhecimento de tais fatos repugnantes apesar dele frequentar o clube vez ou outra nem desconfia que nosso pai é o responsável por ele existir.
A verdade é que as quatro esposas do meu pai, incluindo minha mãe, deram-lhe dez filhos, sendo três mulheres e sete homens, uma marca considerada pequena na nossa sociedade. Porém o que quero salientar é o fato que meu pai, mesmo com mais seis filhos, escolheu a mim para substituí-lo e isso me revolta. Digo escolheu, pois ele vem influenciando todos ao redor para aceitarem que serei
eu a lhe substituir após sua morte. Pedro, meu irmão mais velho, parece querer me destruir por isso. Mal sabe ele que, se pudesse, simplesmente cederia esta responsabilidade maldita.
Tiro meu terno perdido em pensamentos. Percebo estar parado no meio do salão. Volto a andar e subo as escadas com a certeza de que vetuche cumpriu minhas ordens e tenho minha futura esposa me esperando
- Gustavo!? - e por falar no meu irmão Murilo, eis que o dito cujo aparece.
- Sim, irmão. - respondo impaciente. Estou louco para ver minha futura esposa detalhadamente. Afinal não tive tempo, além, é claro, de tomar algo que me livre dessa maldita enxaqueca.
- Irmão?!... Já não sei se somos tão fraternais. - diz com um tom de voz doloroso.
Viro-me para olhá-lo e o que encontro no seu rosto em nada me agrada.
- O que quer dizer? - questiono intrigado com sua atitude pouco convencional.
Murilo é do tipo descontraído, de bem com a vida e, no entanto, no momento ele parece derrotado.
- Quero dizer que o meu irmão mais velho, o meu herói, aquele que me protegia dos sermões do papai, aquele que me aconselhava a respeito das mulheres, brincava comigo, meu
espelho de vida, não existe mais. Ou talvez exista, mas esteja sem rumo, aprisionado a sete chaves nesse coração de pedra. - fico congelado no lugar e, pela primeira vez, em muito tempo, fico sem saber o que falar.
Encaramo-nos em silêncio por alguns consideráveis segundos. Minha mente tenta entender sobre o que ele se refere.
- Como você pôde degolar aquela mulher de forma tão fria? - cospe estas palavras quando o silêncio começou a pesar.
- Você, como... - surpreso não consigo concluir a pergunta.
- Se eu vi? Sim eu... - sacode a cabeça. - Nem quero lembrar.
- Murilo, eu... - tento me explicar, mas ele levanta a mão em sinal para que me cale.
- Não quero ouvir suas explicações até porque não há como voltar atrás. Irmão, eu só quero te pedir que reflita sobre os seus atos e... veja o que vai fazer àquela pobre moça que Vetuche trará pra cá a mando seu. - com isso ele atravessa o salão principal de cabeça baixa.
Encaro suas costas até perdê-lo de vista. Com um suspiro, sento no degrau da escada. Não consigo entender como Murilo soube o que aconteceu. O que ele presenciou. Inferno! Meus homens
são uns incompetentes.
Consegui magoar uma das únicas pessoa que me importa no mundo.
Murilo e eu sempre fomos inseparáveis e, após a morte da nossa mãe, nós passamos a ficar ainda mais próximos como unha e carne. Talvez por isso que ele seja o único capaz de me trazer
algum tipo de sentimento. Temo decepcioná-lo ainda mais quando souber tudo o que já fiz ou ainda vou ser obrigado a fazer.
Meu pai me transformou num monstro sem coração ou sentimentos. Reconheço, eu fui uma marionete nas suas mãos. Quer dizer, ainda sou. Para exemplificar tal fato, há uma garota no meu quarto agora. Foi ele quem me mandou ao clube escolher uma mulher para fazê-la minha esposa, pois, segundo ele, uma mulher ao meu lado vai me dar mais credibilidade perante a sociedade.
Exigiu que esta fosse uma brasileira, uma vez que, segundo ele, essas são quentes na cama. Meu pai tem fascínio pelas brasileiras.
Eu, como sempre, segui seu "conselho" e fui ontem à noite ao clube.
Logo na entrada, fui informado de que aquela noite haveria um leilão de virgens e que, inclusive, uma delas tinha nacionalidade brasileira. Então pensei: "Se é pra casar, que seja com uma mulher inocente e intocada, assim me divirto um pouco." Seguindo esta decisão, entrei no salão cheio
de homens das mais variadas nacionalidades e faixas etárias.
O leiloeiro estava anunciando a venda da última candidata a um senhor. Quando olhei para o palco, eu a vi. Seus cabelos pretos, sua pele clara, boca moderadamente carnuda, seu corpo
delicado trajando um vestido verde... De onde estava não dava para ver muito, mas consegui destinguir o terror estampado em seu semblante quando o velho se aproximou.
Sem pensar duas vezes, fui até a direção do clube deixar claro que eu queria aquela garota pra mim pura e intocada.
Em alguns minutos, vi a Lavinia, amante do meu pai e, também, brasileira, fazer o possível e o impossível para atender minha ordem. Ela sabia que se fracassase eu acabaria com sua vida.
Depois de algumas ligações, seu semblante aliviado sorriu em minha direção.
- Pronto, Alteza, já temos sua brasileira virgem. - declarou se levantando. - Eu mesma vou levá-lo até ela. - disse rebolando em direção à porta.
- Não! Espere! - falei ainda sentado. - Se a moça está trancada no seu quarto, ela não vai fugir, não é mesmo? - fiz uma indagação retórica, mas ainda assim a vi assentir. - Se chegamos a um consenso, então sabemos que temos tempo para nos divertir. - declarei e ela mordeu os lábios prevendo o que estava por vir.
Chamo-a com os dedos e, sem qualquer excitação, ela veio ao meu encontro e sentou-se no meu colo com as pernas abertas, uma em cada lado do meu quadril.
Lavinia é uma mulher bonita, morena, olhos negros, cabelos curtos, encaracolados, pretos e bem cuidados, seios abundantes, cintura fininha, resumindo em uma palavra, ela é gostosa. Em uma coisa tenho que dar crédito ao meu pai, o velho sabe escolher suas amantes.
Segurei sua nuca rudemente e trouxe sua boca à minha. Excitada, ela devora minha boca com voracidade. Prendi seu lábio inferior entre os meus dentes e ela gemeu. (O resto vcs já sabem....)
- Vou me limpar. - avisei indo até o banheiro. - E quando voltar espero que esteja pronta pra me levar até minha futura esposa.
Poucos minutos depois, estávamos parados em frente à porta do quarto que deveria ser o da moça tristonha do palco. Devo confessar que estava ansioso para vê-la de perto.
Lavinia abriu a porta e nós entramos.
Observo o quarto e meu olhar encontrou-lhe em meio a uma bagunça, quase uma zona de guerra. No chão havia travesseiros rasgados e cobertores. Foquei na cama e encontrei uma garota nem um pouco parecida com aquela que vi anteriormente. Minha futura esposa estava encolhida em posição fetal, os cabelos emaranhados, sangue coalhado pairava no seu rosto.
O monstro que há em mim acordou furioso. Essa puta da Lavinia não cumpriu o combinado. Acabei matando-a.

Garota traficada-miotelaOnde histórias criam vida. Descubra agora