O Beijo da Noite | Lesbico +18

Regra 2 - Feche as janelas

            Mas ao abrir a porta quase morro de susto, havia uma mulher parada, me olhando. Ela é bem rechonchuda, pequena e possui cabelos grisalhos apesar de não aparentar ter mais que cinquenta anos. Ela está vestida como uma empregada domestica padrão de filmes americanos, um vestido marrom com um avental escuro amarrado em sua cintura, meias de canela alta juntamente com sapatos fechados e uma touca na cabeça.

     ─────  O jantar está pronto!  ──  Anunciou ela ao me ver, sua voz é rouca e grave.  ── , a sala de jantar fica no piso principal, no primeiro corredor.

     ─────  Obrigada!  ──  Falei com gentileza e um grande sorriso mas ela simplesmente fechou o rosto e seguiu para o ultimo quarto, o quarto de Laura.

            Deixei que minha irmã lidasse com a bondosa senhora sozinha e desci as escadas rumo a sala de jantar. Não precisei nem procurar muito, pois o cheiro de assados estava no ar e praticamente me puxou. Na mesa, apenas meu primo estava presente, ele estava brincando com o garfo na comida provavelmente pensando em seu falecido pai. Me aproximei em silêncio, não queria deixa-lo constrangido, apenas peguei meu acento e comecei a me servir com a comida na mesa.

     ─────  Ah, Ágata! Não percebi que era você, desculpe.  ──  Disse ele, finalmente me olhando.  ──  , estou tão acostumado com essa casa fazendo rangidos sem motivo que pensei que seus passos eram apenas o ar entrando.

     ─────  Não se preocupe, eu poderia ter me anunciado  ──  Ri fraco.  ── , a comida cheira muito bem, parece estar uma delicia.

     ─────  Tina cozinha muito bem mesmo, precisa provar sua torta de frango, nossa aquilo é um espetáculo.  ──  Seu sorriso era simples mas verdadeiro, ele ainda tinha aquele velho olhar triste mas eu não o julgaria, nem imagino a dor de perder um pai.  ── , o que achou do seu quarto?

     ─────  É ótimo, de verdade! Só não entendendo por qual motivo de uma casa tão grande com tanto quartos...  ── Ao escutar o que eu própria falei, vi que soou indelicado  ──  , desculpe por isso, é só uma curiosidade, não é um julgamento.

     ─────  Ah não, está tudo bem! Eu entendo esse espanto, é bem comum.  ──  Seu comentário parecia verdadeiro, ele não demonstrou estar chateado com o que eu falei.  ── , a verdade é que até pouco tempo essa casa era cheia, até seus pais já moraram aqui mas como sabe Cruz'malione é uma cidade pequena e não é todo mundo que gosta disso.

     ─────  Pretende se mudar?

     ─────  As vezes cogito mas estou preso por uma revelação que uma cartomante me fez, estou esperando o destino se cumprir.

           Esperei que ele terminasse com algo "é brincadeira" ou uma frase do tipo mas não, Bento realmente acreditava naquilo. Antes de qualquer outra conversa meus pais se juntaram na mesa então o assunto mudou para os preparativos com o velório. Após o jantar, ficamos mais um pouco na mesa discutindo sobre nossa estadia, meu pai queria ajudar Bento financeiramente mas o rapaz foi relutante, disse que Romeo deixou uma herança volumosa e que era o mínimo que ele poderia fazer em troca da nossa ajuda nesse momento tão delicado.

     ─────  Ah, apenas um lembrete, aqui não abrimos a janela enquanto o sol não raiar então peço que permaneçam as ventanas fechadas até amanhã de manhã.  ──  Disse nosso primo.

     ─────  Por qual motivo?  ──  Questionou Laura.

     ─────  Criaturas noturnas.  ──  Ao responder, Bento fez um sorriso sem graça e meus pais se entreolharam como se soubessem do motivo mas a conversa acabou ali.