Viagens longas de carro sempre me deixou nauseada, particularmente não gosto desses deslocamentos tão extremo sobretudo para visitar parentes que pouco se importam, no entanto o motivo era desprimoroso: um velório.
Em toda minha vida, nunca tivemos tanto contato com a família do meu pai e por isso pouco sei sobre eles. Estava na minha casa após chegar do trabalho quando minha mãe ligou para dar a noticia, meu tio Romeo Gioacchino sofrera uma parada cardíaca e infelizmente não suportou. Em memoria, não me lembro dele, só tenho uma noção da sua aparecia por fotos antigas de quando eu ainda tinha cinco anos. Por essa falta de proximidade eu preferia não comparecer ainda mais ao saber da distancia porém fui convencida pelo meu pai, é importante para ele.
Eu moro sozinha fará dois anos e possuo meu próprio meio de transporte mas preferi vir com meus pais e minha irmã em seu carro tanto pela questão financeira como pelo trajeto em si, a família do meu pai mora em uma cidade chamada Cruz'malione que é tão antiga, pacata e pequena que não aparece nos GPS modernos, apenas em mapa impresso. Já estávamos percorrendo por seis horas seguidas e a expectativa é mais meia hora de estrada, todos nós sentíamos cansados, doloridos e estressados por isso fizemos uma pequena pausa para sair do carro e esticar as pernas.
Paramos o carro próximo a um lago de cor turva de um verde escuro e repleto de musgo, o gramado ao redor é seco e marrom e o lugar possui um cheiro ruim mas que não consigo descrever ao certo. Meu pai e minha mãe ficaram próximo a um tronco cortado a metade, eles pareciam discutir com o mapa na mão, acho que estão em duvida de qual estrada é a melhor escolha mas estou tão exausta que não consigo ajuda-los sobre qual escolher. Minha irmã catou um galho seco do chão e passou a brincar na margem do lago. Quanto a mim, escolhi andar um pouco ao redor e fazer meu sangue circular um pouco.
Toda vegetação está seca e quase morta, as copas das arvores estão praticamente sem folhas mas em contra partida o ar está úmido, tão úmido que na altura dos tornozelos existe uma capa densa de uma neblina fria. Respirei fundo, era esquisito esse lugar mas um esquisito convidativo, do tipo que você sabe se sente bem aonde a maioria das pessoas não sentiria.
O céu também está fechado, não existe um único clarão de sol, há apenas nuvens e mais nuvens. Foi ai que algo incomum aconteceu, um feixe de luz atravessou minha visão, o que era estranho pois não há nenhum foco de claridade justificável.
Espremi os olhos para tentar ver além, realmente havia uma luminescência vindo do chão, bem ao lado de uma roseira morta. E então, eu aproximei.
E era um colar, um colar prateado com um medalhão.
Agachei para pega-lo. Ele esta frio como se estivesse dentro de uma geladeira e está molhado também, provavelmente pela neblina ao redor. O medalhão é na verdade um relicário oval de duas faces, não consegui abri-lo nas primeiras tentativas pois seu fecho é rígido e muito penoso, parece que estava fechado a muito tempo, todavia, com o auxilio de uma pedra pontuda e demasiado esforço finalmente consegui romper a trave e seu interior foi deprimente, aonde deveria ter fotos ou frases há apenas dois vidros escurecidos, nada além do preto chato e vazio. Mas a peça é linda em si, ela possui lindos arabescos em seu exterior juntamente com uma pedra cor de rubi e apesar de perdida esta muito bem cuidada e polida.
Por estar limpa e tão bem conservada, deduzi que foi perdida a pouco tempo e por isso deixei-a aonde encontrei para que seu dono possa resgata-la e por fim partimos, tínhamos mais estrada para percorrer.
❍❍❍❖❍❍❍
Cruz'Malione é o exemplar de uma cidade de interior. Ao passarmos pelo o que imagino ser o centro, observei pequenos negócios como uma peixaria, uma lanchonete exalando cheiro de ovos fritos e um mercadinho de flores. Também havia uma casa pequena escrito "delegacia", um parquinho com brinquedos infantis velhos além de uma escola num edifício extremamente duvidoso. Seguimos pela estrada principal e após passarmos por algumas casas e uma pequena floresta com arvores grandes e volumosas finalmente chegamos na casa dos meus tios, e que casa!
Existe um muro médio de arbustos com um portão de grades envelhecido que se abre em duas folhas, o quintal possui um gramado parcialmente verde além de varias plantas e algumas flores espalhadas. A casa é enorme, são dois andares com janelas grandes e varandas particulares, e isso que ainda nem entramos.
Mas é estranho, até aonde meu pai falou morava apenas meu falecido tio Romeo e seu filho, Bento. Então por qual motivo duas pessoas viveria numa casa tão grande? Seria um patrimônio tão bom assim ou não conseguiram vender? Sinceramente, não me vejo morando em uma cidade tão pequena e simples como essa.
É unanime o cansaço, descemos do carro todos mole e apanhamos nossas coisas, no meu caso uma mala e uma mochila grande. Meu pai disse que Bento havia pedido para ficarmos um pouco mais que uma semana para ajuda-lo nas preparações não só do funeral mas como a missa do sétimo dia, por este motivo trouxe uma bagagem suficiente para dez a quinze dias.
───── Tito!! ─── A voz masculina grave soou atrás de nós.
O rapaz é um pouco maior que meu pai, ele possui um corpo magro, cabelos ondulados e algumas sardas no rosto. Ele veio pela porta principal andando rápido e quando encontrou meu pai seu abraço foi forte e sentido. Após isso, Bento cumprimentou todos nós, ele se mostrava prestativo e atencioso mas tinha uma tristeza no olhar que é profundo.
Segundo Bento, o corpo do seu pai estava sendo preparado, que o velório aconteceria amanhã de manhã e que pretendem fazer o enterro antes do horário do almoço. O rapaz também contou que Romeo teve uma morte tranquila apesar da situação, disse que o homem estava no jardim cuidado das plantas como de rotina quando sofreu o ataque mas que não prolongou muito e morrera rapidamente, sem muita dor. O corpo do meu tio foi levado para o instituto medico legal da cidade para uma investigação, depois ao centro cirúrgico para doação de órgãos e tecidos e agora estava sendo preparado para o velório.
Depois da pequena explicação dos fatos, fomos convidados para entrar e cada um de nós teríamos um quarto para essa hospedagem. O interior da casa é rustico mas bonito, eles possuem energia elétrica mas o sinal de internet é fraco. Subimos para o segundo andar aonde nossos quartos já estavam prontos para nos receber, o meu era o penúltimo do corredor e irei ficar entre o quarto de Laura ─ minha irmã ─ e dos meus pais. O quarto é bem aconchegante, ele possui um pequeno guarda roupa de duas portas e um armário ao lado, a cama é de casal, possui duas escrivaninhas ao lado com abajures de cor clara, o piso é de madeira escura, tem dois quadros renascentistas na parede e por fim um banheiro além de uma varanda privada apenas para mim.
Estou muito cansada para desfazer a mala, tão cansada que poderia dormir agora no entanto fomos convidados para jantar na presença de Berto e era muito bom pois estávamos com fome, não comemos durante a viagem. Apenas deixei a mala e a mochila ao lado do guarda roupa e fui em direção a porta para encontra-los no andar de baixo.
Mas ao abrir a porta quase morro de susto, havia uma mulher parada, me olhando.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Beijo da Noite | Lesbico +18
Vampiroღ CATEGORIA: Dark romance, vampiresco, mistério/suspense e lesbico. ღ SINOPSE: Após a morte de seu tio, Ágata Gioacchino viaja para a pacata cidade de Cruz'malione, ela passará alguns dias na enorme casa de seu falecido tio junto com sua...