Aberratio Ictus

NOX

Vocês tão ansiosos né? Pois eu também tô, mas eu juro que tá vindo aí! Comentem muito, votem e usem #AICTUS no bluesky, até breve.

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O dia passou serenamente, como uma onda que quebra na praia sem alarde. Nenhuma surpresa permeou o ar, especialmente entre aquelas duas figuras entrelaçadas no mistério que as cercava. Caroline, meticulosa como de costume, encerrou suas atividades do dia dentro de sua sala trancada, em companhia de Nathalia. Elas conversavam, envoltas em palavras que ninguém além delas mesmas poderia compreender. Ali, naquele pequeno espaço, se partilhavam segredos que o mundo lá fora jamais conheceria.
Do lado de fora, Naiane aguardava, com uma paciência inquieta, por cerca de uma hora. Estava em frente à porta da delegada, esperando uma chance de entregar o recado de Daroit. A mensagem era simples, quase trivial: um convite para jantar na casa da promotora. Contudo, o tempo foi se alongando, e a porta permaneceu fechada, o silêncio insistente. Naiane, cansada da espera, decidiu desistir. Recolheu suas coisas, resignada com a ideia de que Caroline provavelmente perderia a oportunidade de um jantar gratuito na casa de Daroit. Enquanto caminhava para fora da delegacia, pensava em como o acaso pode modificar planos aparentemente simples.
Alguns quarteirões adiante, Rosamaria, metódica como sempre, organizava documentos importantes para o dia seguinte. Uma audiência de custódia pela manhã e um parlatório à tarde. O trabalho se amontoava, mas ela mantinha o foco, calculando cada movimento, cada detalhe. O único momento em que se permitiu uma pausa foi para responder a mensagem de Priscila, que a aguardava para o jantar. "Vou demorar, mas chego," respondeu Rosamaria, consciente de que seu dever, naquele instante, vinha antes de qualquer outro prazer.
E assim, a noite se instalava, trazendo consigo o manto da continuidade. As ações do dia, tão distintas e interligadas, ecoavam silenciosamente nas ruas da cidade, como se fossem parte de uma engrenagem maior, movida por propósitos ocultos e desejos inconfessos. Em meio à calmaria, o destino de todos parecia se entrelaçar em fios invisíveis, aguardando o momento certo para revelar seus mistérios.

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ROSAMARIA MONTIBELLER ON

Eu estava realmente cansada. Esse cansaço, tão profundo e silencioso, não se refletia apenas nas olheiras que manchavam meu rosto, mas também no meu humor, adulterado e frágil. Já não era apenas uma questão física; era como se minha mente estivesse esgotada de sustentar o peso de tantas responsabilidades que se acumulavam como montanhas no horizonte. Passava das 19:20, e eu ainda estava presa na sala, lado a lado com Helena, separando as tarefas importantes, como se isso pudesse me salvar de um amanhã desastroso.
Sabe, há momentos em que o corpo pede uma pausa, mas a mente sussurra que há mais a fazer, que o dever ainda não foi cumprido. E assim, o tempo se arrasta. Eu estava atrasada para o jantar na casa de Priscila, algo que deveria ser um momento de leveza, mas que agora parecia um compromisso distante, ofuscado pela necessidade de manter a ordem no caos da minha vida. Eu me perguntava: que preço pagamos por tentar organizar o amanhã enquanto sacrificamos o presente? O atraso para o jantar seria uma pequena vitória ou um prenúncio de um novo fracasso?
A escolha era clara, embora amarga. Se eu deixasse tudo para trás naquele momento, amanhã seria um pesadelo. Se ficasse, comprometia o pouco de vida social que ainda me restava. Era um dilema que se repetia como um eco constante: o que vale mais, o presente ou a antecipação do futuro?
Pouco depois das 19:40, tomei minha decisão. Desliguei tudo. O som do desligar não era apenas o fim de um dia de trabalho, mas a liberação de um fardo que eu vinha carregando desde cedo. A sala mergulhou em um silêncio quase absoluto, e por um breve momento, senti como se o mundo tivesse parado. Saí do escritório acompanhada de Helena, em silêncio. Não havia necessidade de palavras. Ambas estávamos envoltas na mesma exaustão, cada uma lutando contra seus próprios fantasmas.