Capítulo novo e peço que leiam a introdução com muita calma e atenção, apenas REFLITAM.
A partir daqui não sabemos o que é ódio, amor ou apenas investigação.
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__________________________O grande "X" da questão talvez não seja sobre Rosamaria estar louca ou lúcida, mas sobre o limite tênue entre a realidade e a ilusão que cada um de nós constrói para sobreviver. Do lado de cá, para quem observa de fora, a vida de Rosamaria pode parecer um quebra-cabeça de fácil solução, uma equação simples a ser resolvida. Mas para ela, do lado de dentro, a matemática emocional seguia leis próprias, confusas e intransponíveis.
A quem cabe julgar o peso de uma alma que se encontra perdida no labirinto dos próprios pensamentos? A loucura é uma sentença ou uma fuga? Talvez seja, na verdade, uma complexa rede de enganos, construída ao longo de uma vida marcada por expectativas frustradas e por respostas que nunca chegaram.
Rosamaria, por anos, foi rotulada como a "má" da história. Uma etiqueta que ela mesma passou a carregar como uma cruz, acreditando que era a soma dos seus erros, sem perceber que o espelho da alma reflete aquilo que a sociedade projeta sobre ela. É fácil ser algoz de si mesma quando todos ao redor apontam os dedos acusadores.
Mas a vida, tal qual uma equação matemática, nem sempre segue a lógica que esperamos. Negativo com negativo dá positivo, mas será que essa mesma regra se aplica ao coração humano? Talvez encontrar Orlando na igreja dele não fosse uma coincidência ou um erro, mas uma chance de se ver, refletida, no outro. Um encontro com o demônio? Talvez. Mas que demônio seria esse, senão aquele que habita dentro dela mesma, alimentado pelas chamas do julgamento, da culpa e da vergonha?
Talvez, ao se juntar com Orlando, Rosamaria esperasse finalmente encarar o que estava queimando por dentro. Talvez o inferno que ela tanto temia fosse, na verdade, a busca por respostas que nunca vieram. O fogo que arde sem se ver, como um mistério que consome lentamente, mas que não destrói — apenas transforma.
O verdadeiro dilema, portanto, não é sobre estar louca ou não. É sobre entender que, por vezes, o caos interno é o único caminho para encontrar algum sentido no que parece ser uma vida desconexa. E quem de nós, em algum momento, não se sentiu perdido no próprio inferno, buscando uma fagulha de compreensão no meio das trevas?
Podíamos nós julgar Rosamaria? Quem seríamos nós para erguer o dedo e apontar as falhas de quem, em sua vulnerabilidade, procurava por respostas num espírito corrompido, uma alma atormentada, um ser que, sob todas as definições da sociedade, era considerado um maluco? Não nos esqueçamos que Rosamaria, durante seu tempo com Fábio, fora rotulada com adjetivos igualmente duros. Diziam-na horrível, ruim de espírito, quebrada por dentro. Que diferença, afinal, havia entre ela e aquele a quem ela buscava?
Rosamaria era uma alma marcada, um espírito carregando cicatrizes invisíveis que apenas o tempo e o sofrimento poderiam desenhar. O mundo olhava para ela e via uma mulher perdida, mas poucos enxergavam a profundidade do seu dilema. Era uma pessoa que, por tanto apanhar da vida, por tantas vezes ser empurrada para os cantos escuros da existência, compreendia intimamente o fino traço que separa o desejo de se livrar da dor e a busca incessante pela verdade. Uma verdade que, ironicamente, poderia ser tão destrutiva quanto o desconhecido.
Sabíamos, sim, que ela não encontraria redenção naquele caminho. Rosamaria seguia por uma trilha feita de espinhos, e tudo o que lhe esperava no final eram mais perguntas e mais feridas. Mas será que ela sabia disso? Será que seu coração partido, sua mente afetada, permitiam-lhe ver com clareza o precipício diante de si?
Não, Rosamaria não podia ser culpada. Ela era o produto de um mundo que constantemente a empurrava para o abismo, psicologicamente afetada por traumas que talvez nem soubesse nomear. Ela era apenas uma alma em busca de algo, qualquer coisa, que a fizesse sentir viva, que a fizesse acreditar que havia mais do que o vazio que consumia seus dias.
E Thaisa nessa situação? Poderia ela ser realmente culpada por tentar proteger duas amigas, uma da outra, em um cenário onde ambas as partes pareciam destinadas a se ferir? A loira se encontrava em um dilema moral, entre o dever de amiga e a clareza da verdade que só ela parecia enxergar. Caroline, há anos, ostentava a máscara de uma mulher fria, impenetrável, incapaz de ser tocada pelo afeto genuíno de qualquer outra que passasse por sua vida. Sentimentos? Para Caroline, eram apenas sombras vagas, detalhes insignificantes. A sua cama era transitória, e os nomes, quando existiam, eram esquecidos com a velocidade de uma noite. Metade das mulheres que Caroline levou consigo para a intimidade não existia para ela no dia seguinte. Rostos sem nomes, corpos sem alma.
Então, por que Thaisa deveria silenciar-se diante disso? Por que ela deveria assistir passivamente enquanto Rosamaria, uma jovem cheia de esperança, caminhava para o mesmo destino sombrio? Rosamaria, com todo o brilho de quem ainda acredita nas pessoas, estava se relacionando com uma Caroline que, para Thaisa, era uma contradição viva. Uma Caroline que ela conhecia bem demais, mas que agora parecia se reinventar mas só diante da Rosamaria. A Caroline que Rosamaria via, de alguma forma, era uma versão renovada, mais leve, talvez até mais vulnerável. Mas seria possível mudar tanto assim? Seria justo Thaisa confiar nessa nova faceta, quando ela já havia testemunhado o oposto?
O peso da verdade repousa em sua perspectiva. Thaisa conhecia Caroline por completo, suas fragilidades e suas sombras, o que fazia de seu papel como amiga ainda mais difícil. Proteger Rosamaria de um destino doloroso não era apenas uma escolha, mas talvez um imperativo moral. E Caroline, com toda sua frieza, não escondia quem era. Por que Thaisa deveria?
Em toda história, a questão da culpa é turva. Ninguém é completamente inocente, ninguém é totalmente culpado. Tudo depende da lente através da qual se observa. Thaisa poderia ser vista como uma traidora ou como uma guardiã. A verdade? Ela reside entrelaçada nas intenções de cada um. E, por mais que se tente definir os papéis, talvez não exista vilão ou herói. Apenas seres humanos, buscando proteger aqueles que amam, ainda que à custa de si mesmos.
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Aberratio Ictus
FanfictionEm um mundo de leis e segredos, uma delegada e uma advogada se confrontam em lados opostos da justiça. Entre o ódio e a paixão, essas duas mulheres terão que lidar com sentimentos inesperados e perigos inimagináveis. Em sua jornada, descobrirão que...