FOEDUS

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Tardei? Sim! Falhei? Jamais! Vocês já ouviram falar que quando uma pessoa experimenta repetidas frustrações e descobertas de mentiras, pode ocorrer um processo de endurecimento emocional? Isso é conhecido como 'desilusão' ou 'desinvestimento emocional'. Acho bom a Carol tomar cuidado...

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Beijos até breve.
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O sentimento de impotência que habita o coração humano pode, paradoxalmente, ser o ponto de partida para o extraordinário. Quando alguém é forçado a encarar sua própria fragilidade, é nesse abismo que pode surgir a possibilidade de transcendência. No caso de Rosamaria, essa batalha era diária, e não se tratava apenas de resistir às pressões externas do mundo, mas também de lutar contra as forças internas que ameaçavam sufocar sua essência. Ela buscava reestabelecer a si mesma, reorganizar as peças fragmentadas do seu ser, tentando se erguer mais forte do que antes.
Fabio, a sombra constante, era seu demônio particular. Ele insistia, com a precisão cruel de quem sabe onde golpear, em exigir algo de Rosamaria que ela não podia — ou melhor, não queria — oferecer. Havia algo de visceral nessa rejeição, uma afirmação de sua autonomia e de sua luta para não se perder nas demandas alheias. O poder que Fabio almejava estava além de seu alcance, porque o que Rosamaria tinha dentro de si não pertencia a ele.
O que a mantinha de pé, o que a fazia respirar fundo em momentos de exaustão, era o sentimento profundo que nutria por Caroline. Na figura de Caroline, Rosamaria encontrava a força que lhe faltava e a certeza que o caos de sua vida tantas vezes lhe negava. Com Caroline ao seu lado, o impossível parecia possível. No entanto, até mesmo esse refúgio não estava isento de sombras. Carol, por mais que amasse Rosamaria de corpo e alma, carregava dentro de si a dúvida incômoda. No fundo, perguntava-se se era apenas um alvo para Rosamaria, um porto seguro em um mar tempestuoso, ou se o sentimento era, de fato, recíproco. A desconfiança corroía, silenciosa, impedindo-a de se entregar plenamente, mesmo quando já estava profundamente envolvida.
Ainda assim, os momentos de ternura que compartilhavam eram como respiros em meio à tempestade. Naquela noite em Nova Trento, após um dia de intimidade e conexão, Rosamaria e Caroline encontraram a irmã de Rosamaria para um jantar que foi leve e descontraído. Pela primeira vez, Caroline sentiu-se verdadeiramente acolhida por alguém da família de Rosamaria. Era como se, por um breve instante, o peso da desconfiança se dissipasse, e Carol pudesse vislumbrar a promessa de um amor genuíno e compartilhado.
No entanto, no dia seguinte, essa tranquilidade foi substituída pela tensão de um novo encontro. Um almoço marcado com a mãe e irmã de Rosamaria trazia de volta a ansiedade. Rosamaria, inquieta, não sabia se seu pai estaria presente, mas sua mãe havia confirmado. A preparação para o encontro era um reflexo dos sentimentos de cada uma: Rosamaria entrelaçada em sua ansiedade, e Carol com um receio profundo e persistente.
Elas saíram juntas, em direção ao restaurante, cada uma carregando seus temores e esperanças. O que encontrariam naquela mesa não era apenas a presença física da mãe e irmã de Rosamaria, mas também um espelho para seus próprios corações. Seriam elas capazes de atravessar essas camadas de insegurança e entregar-se completamente ao que o futuro reservava?

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CAROL GATTAZ ON

Mesmo com a insegurança queimando no meu peito, lá estava eu, encarando a mãe dela como se, de alguma forma, fizesse parte daquele conjunto familiar. Rosamaria havia me dado um aviso simples: "qualquer sinal de desconforto, me avise, e saímos daqui." Mas como eu poderia dar o sinal de desconforto quando o primeiro "oi" da mãe dela já carregava um peso que me esmagava? Não havia tempo para ensaiar uma fuga, nem ao menos para respirar. O momento chegou e eu estava ali, imóvel, presa ao chão por uma mistura de medo e curiosidade.
Quando Rosamaria percebeu que a presença de seu pai era mais uma ausência marcada por uma desculpa vazia, algo dentro dela se quebrou. Vi isso em seus olhos, em sua postura que antes estava ereta e confiante. Seu ânimo murchou como uma flor que, ao perceber a sombra, já não busca mais a luz. A mãe de Rosamaria, Adelir, tentava remendar a situação com palavras cortantes, mas frágeis: “Seu pai ainda não está pronto para o diálogo, para entender o que você fez com a sua vida.” Aquela frase pairou no ar como uma sentença ambígua, deixando-me em dúvida. Era um ataque direto a mim? Ou uma crítica velada a toda a situação?
A verdade é que Adelir e o pai de Rosamaria haviam criado uma filha com expectativas muito claras: a menininha perfeita, obediente, que jamais sairia debaixo das asas protetoras do pai. Para eles, Rosamaria deveria ter ficado naquele vilarejo pequeno e sufocante, vendendo miçangas ou plantando grãos, resignada a uma vida sem grandes ambições. Mas Rosamaria tinha outros planos. Ela se tornou uma mulher forte, independente, dona do próprio destino. E isso, eu percebia, aterrorizava seu pai. A coragem dela não apenas o incomodava, mas o deixava sem chão. Afinal, como lidar com uma filha que ousa ser mais do que foi permitido sonhar?
Adelir parecia ansiosa por quebrar o gelo, talvez por medo de que o silêncio pesasse ainda mais. Ela então se dirigiu a mim, a estranha naquela mesa. Sua voz soava mais amigável, talvez curiosa. Era um convite disfarçado, uma tentativa de conhecer quem era a pessoa ao lado da filha que agora desafiava todas as expectativas. Meus pensamentos, antes voltados para o desconforto, subitamente mudaram de direção. Eu me preparava para encarar as perguntas de Adelir, mas, ao mesmo tempo, sentia que algo maior estava em jogo ali. O silêncio entre mãe e filha falava mais do que qualquer palavra trocada. E eu estava no meio desse confronto de gerações, de expectativas, de amores que pareciam distantes, mas que ainda estavam vivos, embora quase irreconhecíveis.

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