RUIN

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No aguardo dos meus biscoitos! Comentem muito e usem #AICTUS, é só isso que eu tenho pra falar hoje.

Beijos e até a proxima.
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O final de semana parecia ter sido tirado de um sonho ou de um filme com aqueles amigos que você tem certeza que serão para sempre. Celebrar a vida de Thaisa nunca era apenas uma reunião casual, mas um verdadeiro ritual de alegria e de celebração. Era como se o tempo desacelerasse em torno deles, e tudo que restava era o riso compartilhado, os olhares cúmplices e o prazer de estar vivo, juntos. Não havia espaço para preocupações cotidianas; a vida naquele momento se resumia àquela euforia comum, ao brinde de cada copo que subia em sintonia.
Caroline e Rosamaria, por sua vez, estavam entregues a algo que transcende o tempo. A conexão que elas começaram a construir estava cheia de nuances: o toque de uma mão, o silêncio que falava mais que palavras, as gargalhadas ecoando na madrugada. Era curioso como Caroline, por um instante, pôde esquecer os pesos do mundo real — as desconfianças, as investigações, as obrigações. Ao lado de Rosamaria, tudo se tornava fluido, natural. Era quase irônico que, apesar de todo o plano que Caroline traçara, seu coração encontrava repouso nos braços da mulher que, em outro contexto, deveria ser apenas um alvo.
As noites se tornaram intensas. Risos, conversas e, quando os corpos se uniam, havia uma sintonia tão visceral que qualquer tensão entre elas se dissolvia na paixão. Caroline sabia, no fundo, que aquilo não duraria — mas o agora, o aqui, era impossível de negar. Sentir, viver, entregar-se. Cada toque carregava algo além do desejo; era como se, por um momento, o mundo conspirasse para que elas existissem juntas, mesmo que a razão dissesse o contrário.
E então, a segunda-feira chegou, como sempre chega, implacável e pronta para retomar o curso das vidas. Deixando para trás as colinas e belezas de Ibitipoca, as mulheres, com sorrisos ainda nos lábios, partiram para Belo Horizonte. A viagem, que poderia ser cansativa, foi leve. As horas de estrada não pareciam longas com tantas lembranças frescas e a leveza de um final de semana bem vivido.
Pararam em Nova Lima, um restaurante aconchegante para um almoço que selava o final daquele capítulo. Mas a vida continuava. Caroline, após o almoço, deixou Naiane e Carolana na delegacia. As responsabilidades estavam à espera, e a máscara de Caroline precisava ser recolocada, ainda que seu coração, teimoso, resistisse à ideia de despedir-se de Rosamaria. Decidiu, então, seguir para a casa da loira, como se o tempo que haviam passado juntas não fosse suficiente, como se mais alguns momentos pudessem esticar o prazer, retardar o inevitável.
Mas o destino, sempre brincalhão, estava prestes a intervir. As malas, que mal haviam sido desfeitas, não precisariam ser tocadas. O que estava por vir exigiria uma nova viagem, novas resoluções, novas tramas. No entanto, o que ficava no ar, pairando sobre tudo isso, era uma dúvida quase poética: seria essa nova partida a última chance de Caroline de se redimir — ou de cair de vez na armadilha do que sentia por Rosamaria?
A vida, com toda sua imprevisibilidade, parecia estar testando os limites do que cada uma poderia suportar.

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CAROL GATTAZ ON

Deitada na cama de Rosamaria, meu corpo cedia à suavidade do colchão enquanto meus dedos deslizavam lentamente sobre o pelo de Pipoca, o gato que havia se instalado, em busca de afeto, ao meu lado. Sentia o peso da sua confiança, e, em meio a um silêncio confortável, minha mente vagava, cada toque ritmado sendo uma pausa para o turbilhão de pensamentos. Rosamaria, ao fundo, desfazia sua mala com a calma de quem chegou ao lar. Seus gestos pareciam tão ensaiados quanto os meus. O quarto estava em perfeita ordem; um espaço familiar que, de certa forma, eu estava invadindo. Meus olhos corriam pelas paredes, escrutinando com precisão, à procura de algum traço, algum deslize dos meus policiais. Mas nada. Eles tinham sido cuidadosos, profissionais até demais.
A cada ronronar de Pipoca, eu me sentia mais distanciada da realidade que, até então, pesava sobre meus ombros. O calor do gato, o perfume leve dos lençóis de Rosamaria, a atmosfera acolhedora – tudo isso conspirava para me puxar para um sono, um breve descanso que eu sabia não poder me permitir. Havia sempre algo no horizonte, algo esperando para ruir a paz de um momento.
E foi então que ouvi o som que quebrou o encanto. O toque seco e agudo do meu celular, aquele que, por cautela, nunca deveria ser usado, ressoou como um alarme interno. Era um lembrete: o perigo, sempre à espreita, agora batia à porta. Meu coração acelerou. O conforto que me envolvia desfez-se num instante. Sentando-me com um movimento rápido, Pipoca protestou baixinho, mas eu já estava em outra frequência.
Levantei-me com cuidado, deslizando para fora da cama, meus pés tocando o chão com a suavidade de quem teme acordar o silêncio. Rosamaria, ainda absorta em sua tarefa, não notou minha agitação. Peguei minha bolsa, afundei a mão até encontrar o celular, e uma única olhada na tela foi suficiente. Eu sabia. Isso não podia esperar. Movi-me em direção à sala, passos controlados, deixando Rosamaria para trás.
Cada parte de mim estava em alerta. A certeza de que eu estava sozinha se misturava com a incerteza do que estava por vir. Essa era a vida que eu tinha escolhido, ou talvez, que havia me escolhido. Entre a tranquilidade ilusória de um carinho em um gato e a urgência de uma chamada que, na maioria das vezes, trazia apenas problemas.

Aberratio IctusOnde histórias criam vida. Descubra agora