DIALOGUS

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Pra deixar a segunda-feira um pouco mais feliz! Vocês precisam entender que são duas cabeças teimosas, ok? O que não vai faltar é bate boca.
Comentem muito e não esqueçam de usar #AICTUS no bluesky.

Beijos e até breve.
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Caroline e Rosamaria desembarcaram no aeroporto de Confins, trazendo no corpo e na alma o peso suave de um final de semana que transcendeu as barreiras do comum. Não eram apenas dois dias ao sol carioca, mas uma imersão profunda em uma sintonia rara. Sol, amor e sexo. No Rio de Janeiro, o horizonte se abriu para elas como quem reconhece o que está além das palavras. Era como se cada momento tivesse um significado oculto, velado pelo brilho do mar, pelo toque de pele e pelo entrelaçar de sentimentos que, embora intensos, não pediam explicações.
Ao deixarem o aeroporto, a dinâmica fluía naturalmente: Caroline carregava a bolsa de Rosamaria, um gesto que parecia insignificante, mas, para quem sabia observar, dizia muito. Dizia sobre uma troca de cuidados, sobre uma harmonia tácita entre as duas. Um Uber as esperava, e o caminho para casa de Caroline foi um silêncio carregado de compreensão mútua. Palavras eram desnecessárias. Depois de um fim de semana assim, o silêncio tornava-se a voz do entendimento, o intervalo entre as notas de uma melodia que só elas sabiam tocar.
Chegaram ao apartamento. Não havia tempo para prolongar o devaneio que pairava no ar, mas nem por isso o momento era menos significativo. Um banho rápido, a rotina que volta a tomar conta da vida, as roupas sociais que escondiam por fora o que ainda borbulhava por dentro. Cada peça de roupa vestida era uma camada de volta à realidade, à fachada exigida pelo mundo lá fora. Mas, entre as paredes do apartamento, ainda havia espaço para o íntimo, para o calor de um último beijo na garagem.
Rosamaria deixou o carro ali antes da viagem, e agora era o momento de retomar o curso individual, cada uma para o seu respectivo destino. O beijo que selou a despedida não era de adeus, mas de continuação. Um beijo quente, quase uma promessa velada de reencontro, de que aquilo que viveram no Rio ecoaria nas horas e dias que viriam. Era como se o próprio tempo se curvasse à intensidade daquele momento, à força de um encontro que, ainda que curto, tinha um peso próprio.
E então, cada uma entrou em seu carro, seguindo para o trabalho. O cotidiano as chamava de volta, mas a verdade é que, depois de um fim de semana como aquele, o cotidiano nunca seria o mesmo. Há coisas que transformam, e o que foi vivido entre elas, à beira-mar, sob o sol e nos lençóis, era dessas coisas. Rosamaria e Caroline seguiam, mas a vida que carregavam consigo já era outra. Porque o amor, quando verdadeiro, inscreve-se nas entrelinhas dos dias e das noites, nas escolhas silenciosas e nos olhares furtivos. E mesmo à distância, no trabalho, nas demandas do dia, elas sabiam: algo nelas havia mudado.

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ROSAMARIA MONTIBELLER ON

Rosamaria saiu do elevador no andar da sua sala com o carisma e a felicidade de quem por muito tempo esteve perdida. O brilho nos olhos, que antes havia se apagado, renascia como uma chama alimentada por um fogo interno que ela não sabia mais se poderia um dia controlar. Era a mistura da liberdade recém-descoberta com o peso das responsabilidades que haviam ficado para trás, mas que, naquele momento, batiam à sua porta com a força de quem exige respostas.
Ao cruzar o hall, cumprimentou Helena, sua secretária, com um "bom dia" que soava mais autêntico do que qualquer palavra que já havia proferido nas últimas semanas. Mas essa autenticidade, ainda que rara, escondia camadas de emoções contraditórias. O desejo de viver plenamente e o dever de encarar as consequências de seus próprios atos.
Seguindo para sua sala, a pilha de documentos que a aguardava sobre a mesa era um lembrete cruel de que a realidade não esperava. Ela pensou, por um breve momento, na ironia da vida: enquanto transava com Caroline, esquecendo-se de si mesma no êxtase dos seus corpos unidos, seus clientes eram tragados para o abismo de suas prisões e de suas desgraças. O mundo seguia girando, mesmo quando sua vida pessoal parecia ter encontrado um raro momento de suspensão.
Eu me sentei à frente da mesa, com os papéis entre as mãos, sabendo que os próximos dias seriam longos. Por mais que eu desejasse voltar ao calor dos braços de Caroline, à sensação de perder-me naquele encontro entre pele e alma, sabia que seria obrigada a vê-la mais cedo do que imaginava — e, desta vez, não pelos motivos que ansiava. O substituto dela, aquele que viera temporariamente assumir sua função, teria que dar explicações. O caos que me aguardava não podia ser ignorado.
Entre os papéis, encontrei um flagrante de tentativa de homicídio. Gabriela, minha fiel colega, provavelmente se encarregara do caso na minha ausência. Ela sabia que eu não trabalhava em crimes contra a vida, mas, ao que parecia, o destino tinha decidido de forma diferente. Estava ali, inserida no olho da tempestade, e sabia que não poderia fazer outra coisa a não ser o que sempre fizera: mergulhar de cabeça e dar o meu melhor, como sempre.
O tempo pareceu parar enquanto analisava cada linha, cada detalhe. Quando a porta da minha sala se abriu, levantando meu olhar, não me surpreendi ao ver Gabriela entrando acompanhada de Roberta. Sabia que, de alguma forma, aquele encontro traria novos desafios. Sentia no ar o cheiro de incerteza, mas também algo mais: um sopro de mudança, de algo que eu, por mais que tentasse, não podia controlar.

Aberratio IctusOnde histórias criam vida. Descubra agora