Aberratio Ictus

INIMICA

Círculo começando a se fechar, vamo começar a resolver os problemas e não criar mais? Pois bem! COMENTEM MUITO, VOTEM E NÃO ESQUEÇAM DE USAR #AICTUS.

Beijos, até domingo.
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Voltar à realidade é sempre um ato de coragem, especialmente quando a realidade se revela mais cruel do que os piores pesadelos. Caroline sabia disso muito bem. Havia uma estranheza em voltar, como se o tempo fora do mundo real oferecesse uma pausa para a dor, mas não uma solução. E quando Rosamaria relatou com minúcia o reencontro com o pai, cada palavra carregava o peso de anos de feridas mal cicatrizadas. Nos primeiros 45 minutos, ele parecia um pai carinhoso, o homem que um dia ela conhecera. Mas logo depois, o amor se desfez em rancor e, finalmente, ódio. As horas passaram como lâminas cortantes, revelando uma verdade amarga: algumas feridas nunca se fecham.
Caroline, sempre prática, decidiu que era hora de ir. Ela adiantou as passagens, tanto a dela quanto a de Rosamaria. Sabia que não havia mais o que ser feito naquele lugar, naquele momento. Enquanto aguardavam o voo, o silêncio entre elas era quase palpável. Rosamaria estava quebrada, tentando segurar os cacos de uma dignidade que lhe escapava pelos dedos. Caroline, por outro lado, lidava com um sentimento estranho, um relacionamento que não sabia muito bem como definir. Era complicado, confuso. A vida amorosa de Caroline sempre fora uma montanha-russa: mulheres desequilibradas, paixões intensas, amores que beiravam a loucura. E sua única experiência de um amor verdadeiro havia sido interrompida pela morte, deixando um vazio que parecia impossível de preencher.
Agora, ali ao lado dela, estava Rosamaria, uma mulher que, na mente inquieta de Caroline, poderia muito bem cravar uma faca em suas costas enquanto ela dormia. E, no entanto, havia algo que as mantinha unidas, algo que ia além do medo ou da insegurança. Havia uma conexão silenciosa, construída no espaço entre a dor e a confiança, onde o toque suave nos cabelos de Rosamaria parecia ser a única forma de comunicação.
Ao chegarem ao aeroporto de Confins, em Belo Horizonte, o destino já estava traçado. Caroline foi direto para o seu apartamento, onde o gato de Rosamaria as esperava, como um guardião silencioso daquela relação peculiar. Lá, naquele espaço familiar, não havia mais palavras. Apenas o silêncio e a companhia uma da outra. E, por fim, o descanso, profundo e pesado, que veio não como uma fuga, mas como uma trégua temporária da cruel realidade que as aguardava, sempre à espreita.
A verdade sobre a realidade é que ela não perdoa, mas, às vezes, oferece pequenos momentos de alívio, mesmo que seja apenas por uma noite.

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CAROL GATTAZ ON

Acordei na manhã seguinte com o corpo bem descansado, como se o universo tivesse decidido, em sua sabedoria silenciosa, que eu merecia esse momento de paz. Dormimos cedo, e o corpo, sábio em sua quietude, ocupou-se de regenerar o que precisava. Senti uma energia revigorante, como se cada célula estivesse pronta para enfrentar o novo dia com um brilho renovado.
Levantei-me devagar, respirando fundo, apenas para perceber que a cama estava vazia ao meu lado. E mais do que isso, toda a casa parecia um eco do silêncio. Chamei por Rosamaria pelos cômodos, mas a ausência dela ressoava em cada canto que eu explorava. Com ela, também faltava o gato, Pipoca. Era estranho como a presença de alguém — ou a ausência dela — pode transformar a casa em algo totalmente diferente. Tudo era o mesmo, mas sem eles, era como se algo essencial estivesse em falta.
Na cozinha, encontrei o que parecia ser um pequeno altar de carinho. Um café da manhã cuidadosamente preparado, disposto de forma quase cerimonial, e um bilhete deixado com amor. Sorri antes mesmo de pegar o papel, já sentindo o gesto impregnado de uma ternura que só Rosamaria sabia demonstrar.

"Bom dia amor, deixei tudo preparado pra você e saí mais cedo! Precisava deixar Pipoca em casa e me preparar para trabalhar. Tenho algumas reuniões importantes e, finalmente, me conseguiram uma estagiária — vou entrevistá-la hoje! Passo pra te buscar na delegacia mais tarde, já que ainda estou com o seu carro! Beijos com amor, Rosamaria."