QUAERE VERITATEM

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O retorno da mami! Uma terça-feira com um capítulo bombástico SIM!!!! Comentem muito, votem e usem no bluesky ou no x #AICTUS.

Beijos até breve.
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Naquela noite de segunda-feira, Rosamaria passou pela porta do culto de Orlando. O brilho dos vitrais e o eco suave das vozes em oração pareciam chamá-la, mas seus pés hesitaram. O que a impelia não era a busca por respostas divinas naquele momento, mas a simplicidade do cotidiano: as pizzas e o vinho que prometiam a alegria do encontro com Roberta e Gabi. Era curioso como pequenas escolhas traçavam grandes rumos, e naquele instante, ela decidiu que a noite pertencia às amigas, às risadas e à leveza de estar entre aquelas que conheciam seus segredos mais profundos.
Caroline, por outro lado, observava a noite de uma perspectiva distinta. No alto de sua cobertura, com os pés imersos na água fria e o calor do vinho subindo-lhe o rosto, ela refletia sobre o curso de sua própria vida. A presença de Rosamaria havia se tornado um farol silencioso, iluminando áreas que ela antes ignorava. Havia algo na juventude e no entusiasmo de Rosamaria que a fazia sentir-se viva novamente. No entanto, o receio de mergulhar mais fundo, de permitir que esse sentimento se expandisse para além do presente, ainda a mantinha em um estado de contemplação. Era como se uma parte de si desejasse, mas outra resistisse, criando um conflito interno que a deixava alerta e vulnerável.
Enquanto Caroline mergulhava em seus pensamentos, a noite de Rosamaria fluía com naturalidade. Naquela pequena reunião, entre pizzas, taças de vinho e conversas triviais, o tempo parecia se dissolver. Roberta e Gabi eram mais do que amigas, eram companheiras de alma, e o afeto entre elas transbordava em risos e olhares cúmplices. Havia uma sensação de pertencimento ali, como se tudo estivesse no lugar certo, como se não houvesse pressa, apenas o agora.
Mais tarde, ao recolher-se em seu quarto, Rosamaria não deixou de pensar em Caroline. A conexão entre elas era um fio delicado, que não rompia, mesmo à distância. Pegou o telefone e, com um sorriso discreto, discou o número de Caroline. As duas conversaram até que o sono, inevitável, tomasse conta de Rosamaria. Caroline, no entanto, ficou por mais algum tempo, ouvindo a respiração suave da outra. Havia uma paz inesperada naquela troca silenciosa, algo que acalmava suas incertezas, ainda que por um breve momento. Logo, ela também se deixou levar pelo sono, sem a necessidade de respostas imediatas.
Amanheceu, e com o sol vieram as responsabilidades. Caroline se preparava para enfrentar o que prometia ser um longo e exaustivo dia. Thaisa, sua colega de trabalho, estava prestes a chegar, e elas sabiam que o caso em que trabalhavam exigiria mais do que apenas esforço; demandaria paciência, estratégia e, acima de tudo, resiliência. Caroline, já acostumada com o peso de suas escolhas, sabia que dias como aquele moldavam não apenas sua carreira, mas a própria essência de quem ela se tornava. Enquanto enchia sua bolsa com tudo o que julgava necessário para a jornada, um pensamento cruzou sua mente: a leveza da noite anterior seria o antídoto para a dureza das horas que viriam.
Assim, com a serenidade de quem sabe que o caos é passageiro, Caroline saiu para enfrentar o mundo, levando consigo não apenas documentos e expectativas, mas também a sensação, sutil e persistente, de que a vida, em sua imprevisibilidade, ainda reservava surpresas que o coração, hesitante, poderia acolher.

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CAROL GATTAZ ON

Sentada na minha sala, o peso da responsabilidade me esmagava silenciosamente. A cada suspiro, a linha tênue entre o certo e o errado se desvanecia, enquanto eu, delegada, lutava para manter minha sanidade. O crime parecia florescer como ervas daninhas em um terreno fértil, e, no fundo, me questionava se o mal realmente era algo a ser contido ou simplesmente parte inerente da existência humana. Hoje, era um daqueles dias em que a justiça parecia um conceito frágil, vulnerável à manipulação e à força.
As ordens de busca já tinham sido assinadas, as equipes despachadas, e agora eu esperava pelo inevitável resultado. Será que encontraríamos mais pedaços podres no tecido social, ou algum indício de redenção? Assim que pisei na delegacia pela manhã, fui recebida por Naiane. Seu olhar já me dizia que o dia seria longo, talvez mais do que eu desejasse. Havia duas prisões em flagrante aguardando minha inquisição, e eu, como quem adia um encontro incômodo com a realidade, protelava o quanto podia. Mas, como sempre, meu trabalho não falhava — ele apenas me perseguia, implacável.
Sentei-me frente aos dois meliantes. Eles mal me olhavam nos olhos, já cientes de que a lei era algo que sempre flertava com a ineficiência. Nos primeiros cinco minutos, minha paciência se esvaía como a fumaça de um cigarro. Era inevitável: minha vontade era resolver ali mesmo, com minhas próprias mãos, a eliminação de dois problemas que pesavam no mundo. Eu sabia, porém, que a violência não era a solução. A justiça, por mais imperfeita que fosse, não se fazia no impulso de um segundo, mas na racionalidade da lei. "Ainda não é minha função eliminar o câncer da sociedade", pensei com cinismo. A polícia, afinal, não foi feita para resolver os problemas do mundo de forma tão simples.
A manhã se arrastava. Quase sentia o cheiro da liberdade quando estava prestes a sair para buscar Rosamaria e almoçar. Mas, como o destino cruel de todo servidor público, a paz nunca vem sem interrupção. Naiane voltou à minha sala, seu rosto carregando uma nova carga de problemas. O tempo parecia brincar comigo, adiando o pouco de sossego que eu havia planejado. Com uma mescla de resignação e cansaço, me preparei para o próximo capítulo deste longo dia.

Aberratio IctusOnde histórias criam vida. Descubra agora