UNIDENTIFIED NUMERUS

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Capítulo no ar como prometido! Um pouco de paz ou não? Até quando? Muitas perguntas e ainda, resposta nenhuma. Comentem muito, VOTEM e até breve.

Beijos...
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O sol despontava no horizonte, anunciando um novo dia. Um daqueles dias em que o céu é vasto e sem nuvens, como se o universo inteiro estivesse em harmonia. Dentro do apartamento, o calor era acolhedor, intensificado pela cena de Caroline e Rosamaria entrelaçadas na cama, imersas numa paz silenciosa, quase sagrada. Havia algo mágico na tranquilidade compartilhada naquele quarto; duas almas, num refúgio íntimo, onde o tempo parecia desacelerar. Hoje seria diferente. Hoje, elas partiriam rumo a Nova Trento, em busca de algo que só o silêncio do interior poderia proporcionar: descanso, reconexão, entrega.
Caroline, em sua mente, já havia decidido — deixaria para trás as preocupações, as dúvidas que rondavam seus pensamentos nos últimos dias. Prometera a si mesma que faria daqueles dias um verdadeiro mergulho no presente, onde a única coisa que importaria seria fazer Rosamaria sentir-se amada, segura. A vida, com todas as suas incertezas, poderia esperar. O agora seria dedicado à simplicidade do amor, à doçura de momentos sem pressa.
Rosamaria, no entanto, acordara um pouco mais cedo. A ansiedade pela viagem não a deixara permanecer deitada por muito tempo. Levantou-se, com um misto de excitação e tranquilidade, e caminhou até o banheiro. Diante do espelho, refletida na imensidão daquele espaço que pertencia à sua companheira, ela se deparou com os pequenos detalhes que faziam de Caroline quem ela era. Sobre o balcão mármore, um recipiente de porcelanato, as jóias dentro dele, espalhadas, pareciam contar histórias. Brincos, pulseiras e anéis que a loira usava no dia a dia, cada um com seu significado, com sua carga emocional.
Rosa, em um impulso silencioso, pegou o anel de Caroline. Não sabia ao certo o motivo, mas guardou-o na bolsa com a sutileza de quem faz algo importante sem precisar de palavras. Era um gesto carregado de intenções ainda não completamente claras, como se ela estivesse selando ali um compromisso invisível, uma promessa íntima que só o futuro revelaria.
De volta ao quarto, encontrou Caroline ainda dormindo, estirada na cama como se fosse parte da paisagem tranquila. Havia algo cômico e, ao mesmo tempo, terno naquela cena. Rosa, então, iniciou o ritual de acordá-la: beijos suaves, carinhos delicados, toques que se intensificavam na medida certa, até que, lentamente, Caroline abriu os olhos. A rotina de preparação para o dia começava, mas agora havia uma expectativa palpável no ar.
Em pouco tempo, ambas estavam prontas, de malas feitas e corações leves, a caminho do aeroporto de Confins. Lá, sentadas com o primeiro café do dia, sorriam uma para a outra, cúmplices do que estava por vir. A viagem prometia mais do que apenas paisagens e descanso. Prometia ser um reencontro de si mesmas, uma renovação de votos silenciosos entre elas e o mundo ao seu redor. Em Nova Trento, o destino não era o lugar, mas o espaço que cada uma ocupava no coração da outra.

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CAROL GATTAZ ON

A manhã foi uma tempestade em um copo d'água. Tudo estava agitado, como se o universo conspirasse para testar meus limites. Contudo, o caos não tomou proporções ainda maiores graças a um desses milagres sutis e inesperados: Rosamaria acordara mais cedo. Por algum mistério insondável, ela conseguiu organizar grande parte do que parecia ser impossível de ser feito em tão pouco tempo. Em meio à correria, eu me via puxada de um lado para o outro, tentando manter a cabeça no lugar, mas era como tentar segurar areia com as mãos.
Já no aeroporto, sentadas numa cafeteria, o ambiente finalmente pareceu desacelerar. Enquanto aguardávamos o voo, me vi presa em meus próprios pensamentos, revistando mentalmente cada canto da casa, tentando lembrar onde havia colocado o anel que meu pai me deu. Aquele anel era uma parte de mim, um elo entre o presente e um passado que carrego diariamente. Senti a ausência dele no meu dedo, quase como se faltasse algo mais do que apenas uma joia. E, por mais que tentasse rememorar onde poderia tê-lo deixado, a resposta sempre vinha a mesma: estava junto das outras jóias, aquelas que, ironicamente, são tão cotidianas que quase passam despercebidas.
Meus pensamentos foram interrompidos pelo som de uma risada. Rosamaria ria, sua atenção voltada para uma cena simples, mas profundamente cativante: uma criança brincava com seu pai. Ele dava alguns passos para trás, e então a criança, sem hesitar, corria em direção a ele, jogando-se em seus braços, confiando plenamente que seria erguida ao céu. A gargalhada da criança ecoava com uma alegria que não podia ser ignorada, e por um breve momento, minha mente me levou a lugares onde raramente permito que ela vá. Pensei em como seria ter uma criança na minha vida novamente. Ariele me veio à mente. E, surpreendentemente, o pensamento não trouxe a dor habitual. Não, desta vez, não doeu.
Mas foi quando comecei a imaginar essa cena com Rosamaria que meu coração quase parou. A possibilidade de compartilhar com ela algo tão profundo quanto criar uma nova vida juntas me encheu de uma mistura de emoção e medo. Ali, naquele momento, entre o ruído do aeroporto e as lembranças perdidas, compreendi que alguns amores transcendem o ordinário. Rosamaria não era apenas parte do meu presente, mas era também o futuro que eu não sabia que estava esperando. Ela era o amor que, de forma inesperada, tinha se tornado essencial para a minha vida. Entendi que o destino, com sua estranha sabedoria, às vezes nos leva a lugares onde o que parece um caos se revela uma descoberta. E, naquela manhã agitada, a maior descoberta foi que o amor da minha vida estava bem ali, ao meu lado.

Aberratio IctusOnde histórias criam vida. Descubra agora