1 - O começo do fim???

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Início da manhã. Não há nada que eu odeie mais. No entanto, aqui estou eu ao alvorecer no Electric Sound Studio, esperando encontrar outro substituto para Mick. É a terceira vez nesta semana que Nani arrasta nossas bundas para fora da cama e nos diz para irmos ao estúdio, e essa merda está nos esgotando.
Já se passaram quase sete meses e meio desde que nosso ilustre vocalista saiu durante uma sessão de gravação, e mais sete meses desde que decidi que o odiava até o seu âmago.
Mick Knox abandonou a banda e seus companheiros no pior momento possível. Nós tínhamos acabado de sair de uma turnê mundial que foi um sucesso gigantesco e estávamos voltando para o estúdio de gravação, quando ele decidiu que precisava ir "se encontrar". Enquanto isso, o resto de nós tinha ficado com o rabo entre as pernas.

Sim, mencionei que eu o odeio até seu âmago?

“Bright?”
Nani, baixista da banda e meu amigo de longa data, corta meus pensamentos não tão agradáveis e volta minha atenção para a razão pela qual estou acordado antes do meio-dia. “Está pronto?”

Eu mal resisto ao impulso de revirar os olhos. Pronto? Considerando que nunca esperei estar nessa posição em primeiro lugar, a resposta seria um firme não. Mas não posso dizer isso para ele depois de tudo que passamos, e se ele quer tentar encontrar alguém para substituir Mick, quem sou eu para impedi-lo?

“Eu acho...” É a minha resposta menos do que entusiasmada.

Um bufo do outro lado da sala me faz olhar para Dew, nosso baterista, que está esparramado no sofá de veludo vermelho girando suas baquetas pelos dedos.

“Sim, você parece muito animado.”

“Foda-se.”

“Você bem que gostaria disso, não é?”
Dew replica, ao que eu lhe mostro o dedo do meio.

“Os últimos três não foram tão ruins...”
Nani diz, tentando amenizar ao máximo a situação de merda em que estamos.

“Não foi tão ruim não vai funcionar, cara.” Digo. “Por mais que eu odeie admitir, Mick era espetacular no palco...”

“Aquele babaca de merda...”
Dew resmunga, o que concordo. O babaca era um filho da puta, e me certifico de falar isso para todos que me perguntam sobre ele.

Mas estou desviando do assunto, algo que acontece sempre que eu penso sobre o modo como meu sonho parou por causa de uma maldita pessoa.
Vou até Nani e digo:

“Quem passar por aquela porta precisa ser capaz de se igualar a Mick. Você sabe disso e eu também não vou me conformar com menos.”

Sendo sincero, eu quero alguém ainda melhor. Quero o maldito vocalista perfeito, se existir. Assim nós poderemos mandar Mick ir pro inferno.

“Você está certo.”
Nani olha para Kai e depois para o relógio. “Onde está o Natt?”

“Cara, eu não sei. Foi buscar seus sapatos engraxados? Pagar sua limpeza a seco? Faça sua aposta. Sabe que se precisar dele em algum lugar, tem que dar um aviso antecipado de mais de duas horas para que ele fique apresentável para o público.”
O comentário de Dew provoca uma risada minha, mas Nani balança a cabeça.

Desde a nossa ascensão à fama, o nosso tecladista, Natt, desenvolveu uma grande afinidade com as coisas boas da vida. Roupas melhores, carros mais agradáveis e, como ele diz, mulheres lindas.
Considero que a única coisa mais aprazível que gosto nos dias de hoje é o meu álcool. Agora eu me contento com uma dose do que quer que esteja à mão para me ajudar nas próximas horas ouvindo alguns aspirantes a cantores fazerem covers de nossos sucessos.

“Envie uma mensagem de texto para ele e veja onde ele está, ok?”
Nani olha para o telefone, checando uma mensagem e depois acrescenta:
“Win deve estar aqui a qualquer momento.”

Fallen AngelsOnde histórias criam vida. Descubra agora