A primeira semana com Matt em casa foi exatamente como eu imaginei que seria: estranha. Ele apenas me cumprimentava quando nossos pais estavam por perto. Fora isso, não havia mais nenhuma interação. Eu continuei no meu quarto, afogada nos meus livros, como ainda fazia antes mesmo de ele aparecer nessa casa. Não mudei minha rotina. Na verdade, eu só realmente me lembrava que Matt estava em casa quando eu esbarrava com ele em algum canto da casa, ou seja, quase nunca.
Eu estava no meu quarto, respondendo mais uma dúzia das mensagens das minhas amigas. A verdade era que eu já estava me cansando. Eram sempre a mesma coisa: "Amiga, saudades!" "Você deveria estar aqui com a gente" "Porque você não vem agora e aproveita o restante das férias?"
Não. Definitivamente, não. Eu já tinha há muito tempo desistido de viajar, pra qualquer lugar que fosse, que incluísse um avião. Não. Elas poderiam tentar não forçar tanto.
Resolvi que ficar no meu quarto naquele momento não era o que eu precisava, então eu iria fazer alguma coisa. Coloquei uma roupa qualquer, calcei meus All–Stars e saí do quarto. Quando cheguei a sala, Matt estava esparramado no sofá assistindo um filme aleatório na TV. Ele nem ao menos olhou para trás, apenas disse:
– Eles saíram. Algo a respeito de uma reunião de moradores.
– Eles disseram quando voltam? Faz quanto tempo que saíram?
– Um pouco mais de uma hora. De resto, sei tanto quanto você.
– Hm. – Não entendi muito bem o porquê dos meus pais não avisarem que estavam me deixando sozinha em casa com Matt. Como se tivesse me escutado pensar, Matt concluiu:
– Parece que a primeira semana de paz fez com que eles perdessem o medo de te deixar em casa comigo. – ele riu e bebeu um gole da latinha de soda em sua mão.
Aquela risada mexeu comigo. Depois de tanto tempo na casa, ainda não tinha o visto rir. Ele parecia menos perigoso quando ria.
– Eu estou saindo. Quer vir comigo? – aparentemente, aquele sorriso tinha me dado coragem suficiente para cometer loucuras.
– E o que te faz pensar que eu, em algum momento, iria sair com você? – ele respondeu seco – Não é porque te deixei em paz durante essa semana que quer dizer que estou disposto a qualquer outra coisa. Não se acostume com a tranquilidade. Ela não dura pra sempre.
Não me dei o trabalho de responder aquilo. Não precisava passar por isso. Simplesmente peguei minha chave e saí pela porta, batendo – a atrás de mim.
Caminhei por três quarteirões, apenas para arejar a cabeça. Fazia tempo que não saía de casa. O dia estava ensolarado, por mais que a temperatura não estivesse acima dos vinte graus e eu usasse um casaco fino por cima da roupa. Eu estava sozinha na cidade, então não ligaria pra ninguém. Também não havia ninguém do ensino médio com quem eu quisesse falar ou meramente encontrar na rua. De toda forma, a caminhada acabou me levando ao shopping. Pelo menos, lá tinha sorvete. Não daqueles sorvetes comuns e chatos. Sorvetes de verdade, de chocolate belga, cereja, flocos com chocolates gigantes em vez daquela micharia que vinha dentro dos potes de dois litros do supermercado.
Entrei na sorveteria e me servi generosamente pelo balcão. Paguei e levei meu pote tamanho grande para uma mesinha livre na praça de alimentação. Eu costumava fazer esse passeio com as meninas, mas elas nunca demoravam mais de 15 minutos em uma livraria. Eu poderia passar horas. Muitas horas. Comia meu sorvete sem pressa, avaliando o avanço que tinha feito na pilha de livros que tinha pra ler. Ela estava quase no fim, assim como minhas bolas derretidas com calda no fim do pote.
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Entre nós e paredes
RomanceLívia tem 17 anos e acabou de terminar o ensino médio. Filha de uma família muito tradicional, adora livros e música, e passa boa parte do seu tempo livre na sua cama, explorando lugares através das palavras. Essa é a única forma que conhece outros...