#18

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– VOCÊ O QUÊ? – minhas três amigas falaram juntas. Eu apenas sorri.

– Vocês lembram do Matt? Aquele menino que meus pais adotaram antes da minha mãe engravidar...

– Aham – disseram em uníssono.

– Bem, ele veio passar um tempo aqui em casa. Na verdade, ele não é meu irmão mesmo, ele nem mesmo considera meus pais os pais dele...

– Lívia – disse Anna – Conta direito essa história.

Eu respirei fundo, encarei os três pares de olhos curiosos a minha frente, e comecei a falar
– Vamos lá. Tudo começou quando o Matt ligou para avisar que tava embarcando em um vôo para cá...

Passamos umas boas horas sentadas naquele café. Contei tudo o que tinha acontecido, a mudança brusca do meu pai, as loucuras dele, minha aproximação com Matt, o segredo que ele tinha guardado, a carta que ele deixou para mim... Falar sobre tudo parecia tornar cada vez mais real todo o tempo que ele tinha passado ali comigo. Ao mesmo tempo que era gostoso lembrar daqueles dias, uma pontada de dor sempre me atingia. Fazia tempo que eu não tinha uma notícia que fosse do Matt. Depois que ele entrou naquele avião, ele tinha sumido. Nenhum email, sms, carta, nada. Era como se ele tivesse esquecido tudo. Essa distância, essa ausência... Isso me doía mais do que eu imaginava ser possível.

Não vou mentir, eu sabia que havia algo estranho no jeito que Matt foi embora. Ele nunca me abandonaria, e eu soube que ele não estava fazendo isso quando o encontrei no aeroporto. Engraçado como me lembrar do lugar que eu tanto temia agora me fazia sentir um arrepio de saudade. Matt não me ligaria, meu pai trocara o número do meu telefone sem que eu soubesse. Mas existiam outros meios de ele me encontrar. Talvez eu tivesse sendo infantil, mas eu tinha vontade de saber dele a todo tempo, todo instante. Eu daria tudo para estar ao lado dele agora.

As meninas me olhavam com atenção. Aquilo era muito mais do que normalmente eu tinha para contar nas férias. Fiquei esperando uma reação delas depois de terminar de contar tudo, mas demorou um pouco para que processassem tudo o que eu havia contado.

– Eu... – Mika começou a dizer, mas foi interrompida por Tris.

– Você não foi atrás dele?! – ela disse alto

– Eu não pude, Tris... olha só a confusão que tá agora!

– Lily – Anna finalmente disse – Você realmente gosta dele, né?

Eu apenas acenei com a cabeça como resposta. A verdade é que, por mais que eu quisesse ir de encontro a ele nesse exato momento, eu não podia. Eu ainda tinha um tempo até poder responder por mim mesma, eu não podia fazer nada agora. Por mais que meu coração implorasse, eu não sabia de Matt a muito tempo. Eu teria que me acostumar com isso.

A força que minhas amigas me deram foi, de longe, algo surpreendente. Eu não esperava que elas me compreendessem, mas elas o fizeram. Me deixaram confortável, e sabia que poderia contar com elas para qualquer coisa. Talvez não tanto com a Ana e a Mika, que estavam indo para uma faculdade do outro lado do estado, mas Tris tinha se matriculado na mesma faculdade que eu, embora fossem cursos diferentes. Tive certeza de que daria tudo certo.

Voltei para casa me sentindo um pouco melhor. Conversar com as meninas sempre me fazia me sentir mais leve, embora esse assunto não fosse o mais confortável nos últimos tempos. Fugir do fingimento que se instaurara dentro de casa fazia bem para mim.

***

A despedida de casa foi mais fácil do que eu imaginei. Eu não me sentia mais tão confortável ali, então o desapego não se tornou tão difícil. Chegar ao alojamento que me abrigaria pelos próximos tempos me pareceu libertador.

Entre nós e paredesOnde histórias criam vida. Descubra agora