#13

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Matt se afastou somente o suficiente para que pudesse falar.

– Você não faz idéia do quanto eu esperei para fazer isso.

Eu mal podia acreditar que aquilo estava realmente acontecendo, então o beijei de novo. Precisava me fazer acreditar que aquilo era real. Quando entreabri os lábios em busca de ar, Matt aprofundou o beijo enquanto descia suas mãos até minha cintura. Eu envolvi meus braços em volta do seu pescoço e o trouxe mais para perto. Era muito melhor do que eu sequer podia imaginar.

Matt tinha um beijo delicado, mas ao mesmo tempo provocativo. Ele me acarinhava e me abraçava, enquanto eu lutava para acreditar naquilo. Era tão certo, tão mágico. Nunca ninguém havia me beijado daquela forma. Se Matt não me segurasse tão firme quanto sentia, eu provavelmente estaria voando. A boca dele tinha gosto de menta e e algo só de Matt. Tudo o que pude saber naquele instante é que era certo. Estar com ele ali era certo. Estar beijando ele era certo. Estar entregando meu coração a ele era certo. Não havia ninguém como Matt. E nunca haveria mais ninguém. Encaixávamos de tal forma que a única coisa que poderia ser é que éramos feitos um para o outro. Tenho quase certeza que o mundo parou de girar durante aqueles minutos, de tão magnífico que era aquele sentimento.
– Eu também não te tirei da cabeça a semana inteira, anjo... – ele disse, ofegante. – Mas eu sabia que quando te visse de novo, não iria conseguir me impedir de fazer isso.

Ele arrastou suavemente o indicador sobre meus lábios, enquanto eu vagarosamente reabria os olhos e encontrava um Matt risonho, feliz.
Estávamos em pé, no meio do quarto, abraçados. Minha respiração estava tão terrível quanto a dele, mas eu não me importava. Eu só precisava que ele ficasse mais um pouco ali, perto de mim.
– Anjo? Fala alguma coisa, por favor... – ele disse, pressionando a testa na minha.
– Eu não... – tentei começar, mas mal consegui dizer essas duas palavras.
Matt me encarou com atenção. Eu sabia que ele estava tentando ler meus olhos, mas duvidava que aquilo daria algum resultado. A verdade é que eu estava confusa, mas ao mesmo tempo extremamente certa do que sentia. Eu nunca conseguiria explicar.
– Eu não sei como falar... – tentei. – Não sei o que te dizer agora.
Ele me sorriu triste, acariciando meu rosto.
– Não precisa falar nada... Eu entendi. Vamos fingir que nada disso aconteceu, certo?
– O quê? Não! – disse, apavorada. Matt estava pensando que eu não tinha gostado do beijo?
– Não? – ele falou, sem entender muita coisa.
– Não! Eu não desgostei disso, não mesmo! Não pense nisso nem por um segundo! – me aproximei ainda mais dele, me apertando em seu abraço. Ficamos assim por um bom tempo, e eu podia sentir seu sorriso fugindo pelos seus lábios.
Depois de algum tempo, finalmente levantei os olhos para ele e falei.
– Por onde você esteve todo esse tempo...?
– Procurando por você, meu anjo.

***

Acordei com o sol incomodando meus olhos. Me revirei na cama, procurando por Matt, mas ele já tinha ido. É claro que já tinha. Nós não podíamos mais ficar a madrugada juntos, e eu já tinha sido muito descuidada indo até ao quarto dele na noite passada.
Matt e eu tínhamos conversado muito. Sabíamos que nós não seríamos aceitos pelos nossos pais. Meus pais. Eu tinha que me lembrar sempre disso. Meus pais não eram os reais pais de Matt. Era por isso que eu e ele poderíamos ficar juntos. Não éramos irmãos de verdade.
Iríamos manter as coisas como estavam. Nos veríamos a noite, quando meu pai já estivesse em seu quarto. Isso me fez pensar em minha mãe. Apesar de tudo, eu queria conversar com a minha mãe. Tinha quase certeza de que ela ficaria feliz se estivéssemos felizes juntos. As coisas eram mais fáceis quando ela estava aqui. Estava com saudades dela, por mais que só fizesse alguns dias que não a via. Ela fazia a casa funcionar melhor. Parecia que, quando ela estava longe, meu pai era mais forte em suas opiniões. E isso acabava me afetando.
Resolvi descer. O quarto já estava me sufocando aquela altura. Todos aqueles pensamentos e tudo que tinha acontecido ontem tinham me deixado mais acordada do que o desejável.

Eu estava tomando café na cozinha quando Matt entrou. Ele olhou a nossa volta e concluiu que estávamos realmente sozinhos. Chegou até mim numa fração de segundos, me aconchegou num abraço apertado, e me beijou de leve.
– Bom dia! – disse ele ao pé do meu ouvido.
– Bom dia, maluco. – respondi, sorrindo. – Acordou cedo, aconteceu alguma coisa?
– Aconteceu. Recebi a visita de um anjo, ontem à noite... – ele afundou o rosto no meu ombro, respirando profundamente.
Eu estava prestes a entrar na pilha dele, quando percebi que estávamos sendo burros. Por mais que estivéssemos de frente para porta, meu pai poderia entrar ali a qualquer momento. Eu odiava ter que fazer isso, mas me afastei dele.
– O que foi? – disse ele, me encarando estranho.
– Não podemos correr esse risco, você sabe... – disse, desanimada.
Matt se endireitou. Ficou de pé ao meu lado e sorriu torto.
– As vezes, eu esqueço que não posso ficar perto de você... Não deveria ser assim.
Ele estava apenas terminando de dizer isso quando meu pai adentrou a cozinha.
– Se afaste dela, Matheus. – ele disse, sério. – Eu não quero você perto da minha filha.
Foi como se uma máscara tivesse tomado conta da figura de Matt ao ressoar daquela voz. Ele mudou completamente em questão de segundos. Não era mais o garoto maravilhoso que eu conhecia. No lugar dele, estava o babaca que ele vestia na primeira semana.
– É falta de educação não falar com as pessoas. Estava apenas cumprimentando minha irmã. – ele cuspiu essas duas últimas palavras.
– Afaste - se. – meu pai disse, encerrando qualquer chance de discussão.
Matt contornou a mesa e foi servir uma xícara de café para si. Meu pai se sentou ao meu lado, desejando bom dia.
Eu me surpreendia como as coisas eram entre esses dois. Não conseguia entender porque davam tanto choque. Eles deveriam ser pai e filho, por mais absurdo que isso poderia soar na atual circunstância.
Eu comia minhas torradas com geléia de blueberry no automático, muito distraída nos pensamentos, quando fui desperta.
– Lívia, você está me ouvindo? – meu pai me encarava.
– Perdão. Eu acabei me distraindo... – disse, recheando mais uma das torradinhas em meu prato. – O que disse, pai?
– Você não pode ficar tão dispersa. Anda lendo demais esses romances bobos. Eu disse que chegaram as correspondências da faculdade. – falou, como se medisse cada palavra. – Já te matriculei no curso de Administração de Empresas.
– Tudo bem. – respondi, respirando fundo. A verdade é que eu não sabia o que queria fazer. Meu pai sempre falou que essa era a melhor opção por ele conhecer o mercado e poder me ajudar a crescer, mas nunca pensei realmente sobre o que gostaria de cursar na faculdade. Precisava conversar sobre isso com Matt. Ele fazia esse curso em Londres, então deveria saber mais informações. Talvez eu até gostasse de cursar Administração.
– Você ao menos perguntou o que ela gostaria de cursar? – Matt declarou, ríspido.
Fui surpreendida por essa atitude dele. Ele quase nunca se referia a mim na presença do meu pai.
– Já havíamos conversado antes. Lívia concordou em cursar essa faculdade e seguir o caminho que abrirei para ela. Isso a dará um futuro brilhante. Diferente do que você fez, é claro. – meu pai respondeu no mesmo tom.
– Como você pode fazer isso com sua própria filha?! – Matt se exaltou. – Ela tem o direito de escolher o próprio futuro. Duvido que essa tal conversa não tenha sido um monólogo seu. Você não pode forçá - la a seguir o que você quer só por um orgulho besta!
Meu pai se preparava para partir para cima de Matt quando percebi alguém entrando na cozinha.
– O que está acontecendo aqui?
– Beatrice? – meu pai parecia surpreso. – Achei que Margo só chegassem amanhã!
– Ora, resolvo fazer uma surpresa e chego com vocês dois discutindo! – disse, ajustando a tipóia no corpo.
Ela finalmente olhou para mim e sorriu.
– Como está, Lily?

Entre nós e paredesOnde histórias criam vida. Descubra agora