#26

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Depois da ligação de Henrique, tudo se passou como um borrão. Ao chegarmos em casa, minha tia fez algumas ligações e eu me tranquei no quarto de Matt. Não vi o outro dia chegar, apenas sei que não dormi. Em algum momento, tia Bea me avisou que Matt seria liberado no fim da tarde. A queixa tinha mesmo sido retirada. Ela me questionou quanto a isso, mas eu não respondi. Continuei encostada na parede, abraçando o travesseiro. Eu tinha pouco tempo para fazer tudo que precisava, e ia precisar de muita força para que fosse feito da forma certa. Eu precisava ser convincente.

Matt entrou em casa e veio direto para o quarto. Aparentemente, nem com tia Bea ele falou direito. Apenas senti ele me tomar em seus braços e me segurar firme. Eu tive que me segurar para não reagir aquilo. Senti tanto a falta dele nessas horas em que ele esteve longe... Tudo o que eu queria era poder abraçar ele de volta, mas eu não podia. Eu tinha que ser forte. Já era tempo de o livrar dessa família infeliz.

– Ah, como eu senti sua falta... – Ele sussurrou para mim.

– Matheus, a gente precisa conversar.

Ele enrijeceu, e puxou meu rosto para encará–lo. Seu rosto refletia o estranhamento por eu chamá–lo pelo nome.

– O que é isso?

– Eu preciso te contar a verdade. Foi o que eu vim fazer em Londres, e já passou mais do que da hora de fazer isso.

– Nós realmente precisamos fazer isso agora? Eu não quero ficar nem um segundo sem te tocar...

Eu me levantei da cama e me desvencilhei de seus braços. Foi uma das coisas mais difíceis que já fiz.

– Eu vim aqui para te contar que o tal de Andrews, que você contratou para buscar sua família, é mais um dos capangas do meu pai. Ele inventou isso tudo.

– O que diabos você tá falando, anjo?

– O Henrique armou isso tudo para te tirar de perto de mim. Você não achou muito estranho de repente você receber a ligação do detetive na noite que o Henrique descobriu sobre nós?

– Você tá enganada, meu amor. Não tem como o Henrique ter armado nada, ninguém sabia disso. – Matt começava a me encarar com desespero. Eu apenas me afastava mais e mais dele.

– É você que não tá entendendo, Matheus. Tudo isso foi uma grande mentira, entendeu? Te enganaram! O tal do Patrick é só um cara que foi pago para te contar uma historinha triste. Meu pai fez isso, entendeu?!

– Isso é impossível, Lily! Uma pessoa não tem como fazer isso do outro lado do mundo!

– Ele fez, Matt. E eu vim aqui para te contar essa merda toda. Você tinha que saber de qualquer jeito.

– Você tá errada! – Matt puxou o telefone do bolso. – E eu vou te provar! Vou ligar agora mesmo para o Patrick e nós vamos encontrar com ele. Ele vai te explicar, te contar a história dele...

Matt digitou um número correndo e colocou o telefone na orelha. Eu pude ouvir a gravação ao fundo, e vi toda a incredulidade estampada em seus olhos.

"O número para o qual você ligou mudou ou não existe. Contate a operadora para mais informações"

Ele encerrou a chamada e tentou novamente. Eu assistia de camarote ao seu desespero e via o despedaçar de seu coração. O mesmo aconteceu quando ele tentou o número de Andrews.

– Não... isso não pode ser verdade! Lily, não pode ser! – eu via as lágrimas brotando em seus olhos.

– Eu te disse que era verdade. – tentei ser o mais seca o possível.

Entre nós e paredesOnde histórias criam vida. Descubra agora