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O silêncio entre eu e Matt tinha sido reinstaurado. Passei meus dias lendo e ocasionalmente saindo, avisando aos meus pais pra não ter mais alguma confusão desnecessária. Por mais que Matheus tivesse sido um babaca no dia que discutimos, eu tentava não causar mais confusão à casa da família Tavares. Sim, porque por mais que fosse difícil de entender aquela estrutura, ali residia uma família.

Meu pai passava a semana trabalhando e vinha direto pra casa. Eu sabia que ele fazia isso pra deixar o mínimo de tempo possível com apenas mamãe em casa. Estava evitando sair mais tarde ou encontrar os amigos no pós–expediente. Minha mãe havia reduzido suas saídas ao mínimo. Até a farmácia, que ficava um pouco depois da esquina da nossa rua, entregava em casa. Essa era uma medida de proteção que eu não só não concordava, como não estava nem um pouco disposta a aceitar, provavelmente vinda de meu pai.

Eu quase não via Matt, e a sensação de que ele estava menos em casa era forte o suficiente para que fosse real. Minha mãe parecia mais tranquila quando ele não estava, e conversava mais comigo sobre banalidades quando isso acontecia.

Era sábado, e eu estava deitada na minha cama. Já estava me sentindo cansada daquela rotina idiota que se instaurara. Peguei meu telefone e acessei o grupo do colégio. Falavam muito e ao mesmo tempo, mas perceberam quando me manifestei confirmando presença no encontro que aconteceria daqui duas horas. Eu precisava fazer algo diferente pra tirar todos aqueles problemas da cabeça, nem que alguma coisa fosse sair com pessoas que eu mal falei em todos aqueles anos de escola.

Eu estava com minha roupa nos braços, saindo do me quarto, quando encontrei Matt. Ele saía do seu cômodo e estava novamente com a jaqueta escura. Usava óculos escuros no estilo aviador, por mais que já estivesse escurecendo lá fora. Continuei andando para o banheiro, enquanto Matt batia a porta e passava por mim apressado.

A praça em que fora marcado o encontro era famosa por ter barraquinhas de comida e uma boa concentração de jovens nas férias. O grupo que estava presente tinha umas cinco garotas e uns dois garotos, sentados em volta de uma mezinha de cimento. Eles acenaram para mim quando estava chegando e eu sorri. Eu não me dava com aquelas pessoas. Eram exatamente o tipo de gente que eu evitava. Estavam todos muito interessados em quantos garotos ou garotas iam beijar aquela noite, enquanto eu pensava o quanto eu deveria ter ficado em casa com meus livros. Em algum momento, a conversa me chamou atenção.

– Ei, vocês já viram aquele grupo de garotos que tem andado por aqui? Eles são tão lindos! – falava uma garota que eu acreditava se chamar Bianca.

A amiga loira, que eu desconhecia e estava bem ao lado dela, se aproximou e falou um pouco mais baixo

– Eu soube que um deles é estrangeiro.

As risadinhas aumentaram.

– Eles estão por aqui hoje, eu vi o Nícolas mais cedo comprando cerveja. – comentou Jessica, uma menina de cabelos vermelhos que tinha feito inglês comigo no último ano.

– Você conhece algum deles?! – foi a vez de Bianca aumentar a voz.

– Ah, não é como se esse lugar fosse tão grande... Nick estudou com meu irmão na faculdade e está passando as férias na casa dos pais. A família dele mora no meu condomínio, não é como se eu realmente o conhecesse.

Elas perceberam meu olhar interessado e me incluíram na conversa.

– Lily, você já viu esses garotos por aí? – Bianca chamou

– Não, eu... Eu não tenho feito muita coisa nessas férias...– respondi um pouco desanimada. Eu realmente não queria estar ali. Por que eu tinha saído de casa?

Entre nós e paredesOnde histórias criam vida. Descubra agora