#25

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– Ei, o que vocês estão fazendo?! – eu me apavorei quando eles puxaram Matt de perto de mim – Larga ele, seu troglodita! Ele não fez nada, seus loucos! Solta ele!

Eu batia nas costas do policial, sem o mínimo efeito. Matt não forçava a saída, mas me olhava com olhos assustados.

– Anjo, me escuta! Vá encontrar a Bea! Conte a ela o que aconteceu, ela vai saber o que fazer! – ele dizia, enquanto os policiais o empurravam para o banco traseiro do sedã preto, parado na frente do prédio.

Foi tudo muito rápido. Em instantes, o carro já tinha sumido de vista, e eu estava em choque. O Matt foi preso. Preso por sequestro! Eu pedia para que eu estivesse errada, mas aquilo me cheirava muito a merda do meu pai. Subi para o apartamento o mais rápido que pude. Escancarei a porta e revirei a casa atrás do maldito telefone. Disquei o número e esperei. Ouvi o toque do telefone da minha tia por perto. Ela devia estar no corredor. Santo Cristo, ela estava chegando! Antes que ela pudesse terminar de rodar a chave na porta, eu já a tinha aberta, e falava desesperadamente.

– Ow, calma, calma, calma! – tia Bea estava assustada – Respira e me fala de novo o que aconteceu, querida.

– A gente tava voltando, uns dois caras pararam a gente na portaria e prenderam o Matt! – eu já estava com lágrimas nos olhos a esse ponto.

– Como assim prenderam ele? Sob que acusação?

– Sequestro, tia! Sequestro!

– Isso tá muito estranho. Vamos para delegacia esclarecer a situação.

Em toda a minha vida, eu nunca tinha entrado numa delegacia. Aquilo era estranho e assustador para mim, e eu precisava tirar o Matt dali. Antes mesmo que chegássemos ao local, minha tia já havia feito algumas ligações e estava mais a par do que tinha acontecido. Ela não falou muito no carro, mas eu podia perceber que ela estava nervosa. Afinal, quem não estaria?

O homem que nos recebeu se chamava John. Ele nos levou até uma sala mais reservada e pediu que sentássemos. Atravessou a sala e sentou–se atrás da mesa mogno do escritório bem arrumado.

– Senhor, eu creio que tenha havido um engano. Meu sobrinho foi abordado na porta de casa e detido sobre uma acusação absurda de sequestro. – minha tia tentava manter uma voz calma

– Muito bem, senhora...?

– Beatrice. Me chamo Beatrice Maia.

– Bom, dona Beatrice... A acusação existe mesmo. Recebemos uma ligação denunciando o paradeiro do jovem esta tarde.

– Mas quem foi que fez essa atrocidade? O menino não fez nada a ninguém!

– Um senhor fez a denúncia. Ele descreveu o jovem e disse que o mesmo tinha sequestrado sua filha. Aparentemente, a menina desapareceu sexta passada.

– Céus, meu pai só pode ter enlouquecido... – murmurei.

– Perdão, senhorita? – John se dirigiu a mim

– O que você precisa para soltar o Matt? – respondi.

– Não é assim tão simples, menina. A acusação foi grave.

– E é falsa! – me exaltei – É uma acusação falsa! Ninguém me sequestrou! Meu pai só pode ter enlouquecido! Ele faz o que bem entende! Eu estou aqui por vontade própria, moço. Eu mesma comprei minha passagem, eu mesma peguei aquele maldito avião! O Matt nunca soube que eu estava vindo para Londres, eu vim de surpresa justamente para contar para ele as atrocidades que meu pai fez na vida dele!

– Calma, senhorita. Poderia por favor me dizer o seu nome completo?

– Lívia Janne Tavares!

Ele checou alguns papéis e fez uma ligação. Em alguns instantes, ele estava anotando algo em um papelzinho, e em seguida voltou a se dirigir a mim.

– Senhorita Lívia, eu entendo que pense dessa forma, mas no seu país existem leis que restringem o intercâmbio de pessoas menores de vinte e um anos, principalmente mulheres. Como oficial da lei em Londres, eu não posso fazer nada pela senhorita. A denúncia não foi originária daqui, eu estou de mãos atadas. O senhor deixou um telefone de contato – ele disse, me direcionando o papelzinho com o número que eu já conhecia muito bem – Sugiro que a senhorita entre em contato com ele. Quanto a senhora, dona Beatrice, creio que também não possa fazer nada enquanto isso não se resolver com o pai da menina.

Deixamos a delegacia logo após agradecer o atendimento de John. Eu tentei ver Matt, mas ele negou. Hoje, eu não poderia fazer mais nada, já que a noite já estava longa. Acompanhei tia Bea até o carro, a passos vacilantes. Eu não queria deixar Matt ali. Ele não tinha culpa de nada, e mais uma vez meu pai tinha conseguido prejudicá–lo para me antigir.

Antes mesmo de chegar em casa, eu já discava o número do meu pai. Não demorou nem dois toques para que ele atendesse, com uma voz presunçosa. Aquilo tudo já começava a me dar náuseas.

– Está se divertindo nessa sua curta temporada em Londres, Lívia? – eu podia sentir o veneno em suas palavras.

– Me dê pelo menos um bom motivo para não te denunciar para seja lá quem for.

– Você já deveria estar acostumada. Você sabe que eu sempre consigo o que eu quero, filha.

– Não me chame assim! Você é um homem desprezível que eu jamais voltarei a chamar de pai novamente. – eu media cada sílaba, pronta para atacá–lo via telefone, se necessário.

– Não se amargure, querida.

– O que você quer?

– Como?

– O que você quer que eu faça para liberarem o Matt?

– Eu deveria deixar ele apodrecer numa cela só por todo o prejuízo que ele me deu na vida. Mas parece que você finalmente está voltando à sua sanidade, então eu estou prestes a ser generoso. Eu retiro a queixa, mas com uma condição. Volte para casa, volte para a faculdade. Mas, dessa vez, sem aquelas merdas de literatura. Você se forma em Administração Empresarial.

Fiquei em um silêncio assustado por um tempo. Minha tia me encarava do banco do motorista, ouvindo cada palavra minha. Eu pedia para que ela entendesse tudo aquilo, eu só estava tentando fazer o que fosse para libertar Matt. O silêncio durou mais do que devia. Foi o suficiente para encorajá–lo ainda mais.

– O quê? Você acha que eu não sabia? Deixei que você cursasse aquelas matérias apenas como um estímulo, para que você continuasse sua formação. Não falei nada quando aquela professorazinha me ligou perguntando da maldita entrevista de monitoria... Mas olha só como você me retribui! Deixa um qualquer te levar para o outro lado do mundo, abandona toda a oportunidade que eu lhe dei. Dessa vez, não vou ser bonzinho. Você vai seguir a vida que eu planejei para você!

Eu não sabia o que fazer. Ouvir tudo aquilo estava me deixando sem ar e sem chão. Eu não podia deixar Matt trancado em uma delegacia, não podia deixar que ele pagasse por algo que ele nunca fez. A escolha estava bem na minha frente, mas eu estava tendo que escolher entre o futuro de Matt e o meu. Eu o amava o suficiente para não precisar pensar na resposta. Ele me odiaria por isso. Eu o faria me odiar, antes de ir embora. Eu não podia mais deixar aquele homem interferir na vida dele, então já bastava. Eu o tinha metido naquilo e seria eu a tirá-lo de lá.

– Eu vou precisar de alguns dias...

– Eu quero você segunda feira de volta as aulas na faculdade.

– Tá certo. – Eu mal podia pronunciar aquelas palavras – Eu vou voltar para casa.

Entre nós e paredesOnde histórias criam vida. Descubra agora