Abrir o portão do alojamento nunca foi tão difícil para mim. Demorei uns bons dez minutos para fazer a chave funcionar, e saí xingando o pedaço de ferro. Subi preguiçosamente as escadas que levavam ao segundo andar do dormitório, e segui pelo corredor até chegar na porta do meu querido duzentos e seis. Ao abrir a porta, quatro pares de olhos, que estavam espalhados pelo quarto, me encararam com surpresa. Jô, Anna, Tris e Mika me olhavam com as caras mais bizarras possíveis, escondendo a decoração colorida do que seria uma festa para mim ali. A escrivaninha estava lotada com várias sacolas de decoração, e eu imaginei que tivesse uma torta no frigobar, já que a caixa da doceria estava em cima da minha cama. Eu apenas continuei olhando aquilo tudo.
– Mas o que diabos você está fazendo aqui, Lily? – Jô foi a primeira a se manifestar, puxando minha atenção para ela.
– Não rolou a entrevista.
– Como assim 'não rolou'? Isso não estava marcado há semanas? – Tris levantou a voz.
– Na verdade, o que mais me interessa agora é o que vocês todas estão fazendo aqui no quarto.
Anna se jogou na cama, bufando.
– Não está na cara?! Era para ser a sua festa surpresa. Isso sim está marcado há semanas.
Sorri, meio boba.
– Vocês não precisavam fazer nada disso...
– Mas é claro que a gente precisava, Lily! Todo ano a gente comemora o seu aniversário! Por que esse seria diferente? – Mika continuava a colar a decoração de festa que estava em seu colo.
– Eu achei que seria legal fazer dessa forma. – confessou Jô. – Marquei com as meninas faz um tempo. Depois que a gente foi naquela festa com a Tris, achei que seria divertido.
– Vocês são as melhores amigas que eu poderia ter, sabiam? – eu cedi. – Vamos terminar de decorar esse quartinho logo, que mais tarde eu ainda vou para casa dos Tavares.
– Você já sabe a minha opinião total sobre isso. E sabe que Tris e Mika, no fundo, concordam comigo. – despejou Anna, ainda sentada na cama.
– Anna, a gente precisa realmente falar disso agora? – questionei, mandando um olhar fulminante para que mudasse de assunto e deixasse Matt e Jô fora da história.
Jô percebeu o clima e resolveu entrar na conversa também.
– Como assim, Anna?
– Não sei você, Jô, mas para mim a Lily tinha que estar em um avião para Londres o mais rápido possível.
– Ué, mas para quê?
– Para encontrar logo o Matheus, ora! Ela tá se enganando há quase um ano com isso. – completou, inconformada.
Encarei Anna mais uma vez, mas ela nem se importou. Tris e Mika continuavam caladas, apenas observando.
– Por quê você deveria ir atrás do seu irmão, Lily? – Jô perguntou, percebendo que eu tinha omitido algo da história.
– Eu não vou atrás dele – eu disse, não me direcionando a ninguém. – Anna, você não tem direito de falar assim sobre quaisquer assuntos da minha família.
Ela se levantou e chegou mais perto de mim, vendo finalmente o quanto eu estava irritada com aquilo tudo.
– Eu tenho direito de tentar fazer você enxergar o quão você está errada! Lily, olha só como você tem vivido todos esses meses! Todas as vezes que a gente saiu, todas as festas em que algum cara chegava para falar com você, você dispensou todos! TODOS! Você nem ao menos se deu a chance de tentar conhecer alguém. Você tá se enganando muito se acha que esqueceu tudo o que passou com ele. Não seja boba, você ainda é completamente apaixonada pelo Matt! Eu tô cansada de ver você se enganar!
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Entre nós e paredes
RomanceLívia tem 17 anos e acabou de terminar o ensino médio. Filha de uma família muito tradicional, adora livros e música, e passa boa parte do seu tempo livre na sua cama, explorando lugares através das palavras. Essa é a única forma que conhece outros...