#24

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Acordei com a cabeça de Matt sobre minha barriga, os braços dele envoltos em mim como se tivesse garantindo que eu não iria fugir. Abri um sorriso bobo no rosto. Fazia tempo que eu não dormia tão bem. Tentei me desvencilhar dos braços dele sem o acordar, mas foi um ato falho. Antes que eu pudesse me mover, ele já estava esfregando os olhos e dirigindo–os para mim.

– Bom dia, anjo. – sorriu.

– Bom dia – resmunguei, ainda sonolenta

Matt me beijou de leve e se levantou. Eu ainda estava recostada na cabeceira da cama, de preguiça. O observei abrindo uma das gavetas do armário e puxando uma camiseta escura de lá. Ele não se importou de buscar uma bermuda e já abria a porta do quarto, quando chamei depressa.

– Ei! Como é que você vai andar na casa assim? E tia Bea?

Matt deu um sorriso presunçoso e respondeu voltando na minha direção

– O que é isso que eu vejo? Ciuminho? – ele me puxou para a beirada da cama pelas pernas. Abaixou na minha frente, fazendo nossos olhos ficarem na mesma altura. – Relaxe, Bea com certeza não está em casa. Ela só volta no final da tarde da produtora.

– Ok, então minha tia trabalha numa produtora. Isso é novidade para mim.

– Não, Lily. Bea não trabalha em uma produtora. Ela é dona da produtora. – ele me encarou espantado – Você ainda tem muito o que aprender por aqui, anjo.

Depois de alguns minutos na cozinha, enquanto eu trocava de roupa no quarto, Matt decidiu que comeríamos na rua. Ele cismou que eu precisava conhecer, pelo menos, umas 7 cafeterias. Combinamos que cada dia iríamos em uma, e que não repetiríamos os pedidos. Essa seria uma boa forma de começar a conhecer a cidade.

A coisa mais maravilhosa de você estar em uma cidade do outro lado do oceano de onde você viveu a vida inteira é que as pessoas não conhecem você. Nós tínhamos descido do prédio, e logo quando alcançamos a calçada, Matt jogou o braço por cima do meu ombro. Estávamos andando abraçados, como um casal de verdade, em público. Aquela sensação foi indescritível. Eu quase voava a cada passo. Viver sem me esconder com ele, sem precisar medir as palavras, sem precisar esconder meu coração e nossos carinhos furtivos era, de longe, a melhor sensação do mundo. Eu nunca estivera tão feliz como agora. Eu queria que aquilo durasse para sempre.

***

Ainda que estivesse aproveitando meu tempo com Matt , eu não tinha me esquecido completamente do porquê da minha vinda a Londres. Mesmo com toda a felicidade transbordando de mim, com todos os passeios que estávamos fazendo juntos, eu tentava a todo o tempo buscar uma forma de contar tudo a ele. Eu estava ali por causa disso, mas eu não conseguia falar nada cada vez que eu via aquele sorriso em seu rosto. Sempre que eu achava que era o momento certo a começar a abordar o assunto, ele se empolgava falando de alguma outra coisa, ou mudávamos tão repentinamente de assunto que eu acabava me perdendo.

Ver o Matt falando todo empolgado sobre suas descobertas quanto à família biológica me fazia revirar o estômago. Eu sabia que nada daquilo era verdade. Era tudo uma grande farsa que meu pai tinha inventado para manter ele longe de mim. A cada vez que ele citava o tal Patrick, meu coração doía. Eu tinha uma missão muito difícil pela frente. Contar para ele que, não só todas as suas descobertas eram falsas, como também que meu pai tinha feito aquilo tudo para que ele ficasse longe de mim... Eu tinha certeza que, quando eu conseguisse tirar o bolo da minha garganta e falar toda a verdade, ele estaria em pedaços.

Era quarta feira, e estávamos andando sem rumo pela cidade. Eu sempre me encantava com a beleza daquele lugar, mesmo quando Matt e eu não saíamos de casa. Uma simples olhada pela janela e eu já sorria. Foi então que percebi que Matt não estava tão sem rumo assim, já que me puxou pela mão em direção a uma imensa roda gigante. Ele estava me levando à London Eye. É claro que eu já tinha ouvido falar da gigantesca roda gigante de vista panorâmica de Londres, mas estar ali pertinho fez meu estômago sentir calafrios. Travei no chão feito um dois de paus. Matt se voltou para mim, com um sorriso bobo no rosto. Aquele sorriso que me encantava e me fazia ter medo de contar tudo para ele.

Entre nós e paredesOnde histórias criam vida. Descubra agora