#10

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Eu despertei com o barulho da tv, a poucos metros de mim. Esfreguei os olhos por alguns instantes, tentando me localizar no tempo. Quando finalmente abri os olhos, uma cabeça pairava sobre mim.

– Boa noite, bela adormecida. – ele disse. Tinha um sorriso besta no rosto.

Eu pisquei mais algumas vezes. Matt. Ele estava ali. E eu estava deitada no sofá. Tudo voltou à minha mente em um instante.

– Mamãe já deu alguma notícia? – perguntei, minha voz saindo estranha pelo sono recém interrompido.

– Ainda não. – o sorriso dele se esvaiu. – Eu acredito que ela deve ter ido direto para o hospital. Ela vai ligar quando souber dos detalhes, com calma.

Matt parecia preocupado. O v entre suas sobrancelhas estava mais acentuado nas últimas horas. Eu também devia estar aparentando preocupação, mas eu estava feliz de ter ele ali comigo, sendo ele mesmo. Sem fingir para ninguém, porque éramos só nós ali na sala. Na casa.

Eu levantei mais rápido do que deveria, e isso acabou me dando tonteira. Ele me segurou pelo braço, me dando apoio.

– Ei, você tá bem?

– To. Que horas são? – isso saiu mais seco do que deveria, mas não me importei naquele momento. Tinha algo mais importante para resolver.

– Perto de meia noite, eu acredito. Você dormiu a tarde inteira e boa parte da noite.

– Cacete. Eu dormi tanto assim? – eu comecei a andar.

– Eu não quis te acordar, você tava tão tranquila dormindo... – ele começou a me seguir – Você vai me dizer o que tá acontecendo? Lily?

Eu parei e me virei na direção dele.

– Eu. Estou. Morrendo. De. Fome.

Ele riu.

– Não ria, é sério.

– Eu sei. – ele disse, ainda rindo. – Vá em frente, pode ir.

Eu entrei pela porta da cozinha e parei. No mesmo instante, fui arrebatada pelo cheiro do molho de tomate temperado que fervia no fogo baixo do fogão. Em cima da bancada estava uma travessa com macarrão tipo talharim, acompanhada de um cestinho com almôndegas fritas. Eu quase chorei.

– Eu posso declarar meu amor eterno para você agora, se quiser. – eu disse, olhando para porta onde ele estava recostado, me olhando.

– Por mais que isso seja tentador, espere até depois de provar, anjo.

– E isso pode ser agora? Porque eu sou capaz de comer tudo isso sozinha, sabe.

– Desculpe, eu não esperei por você. Mas pelo menos eu tentei, eu juro.

– Ah, que insolente... – eu me servia, enquanto Matt forrava a mesinha da cozinha com um jogo americano.

– Senta aqui, vem. – ele servia um copo de refrigerante para mim.

Eu coloquei meu prato na mesa e me sentei. Matt estava sentado a minha frente. Eu enrolei o talharim no garfo e comi. Desejei fazer aquilo pelo menos mais mil vezes na minha vida. Era o melhor talharim que já tinha comido em toda a minha existência.

– Eu te a... – comecei a dizer com a boca cheia.

– Não, não agora. Coma tudo, primeiro. – disse, roubando um gole do refrigerante no meu copo.

Entre nós e paredesOnde histórias criam vida. Descubra agora