Capítulo 19

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Nicolo

Do meu lugar, meus olhos insistiam em seguir cada movimento dela. Amanda estava sentada, com a cabeça baixa, anotando alguma coisa no caderno, mas eu sabia que algo estava errado. Podia sentir sua frustração, sua raiva, mesmo à distância. A forma como ela se mantinha ereta, tensa, como se quisesse criar uma barreira entre nós, só me deixava mais inquieto.

Eu não conseguia tirá-la da cabeça. Desde aquela noite, o gosto dos seus lábios,seu corpo nu não saiam da minha mente. Tinha achado que, ao tê-la só uma vez, isso acalmaria o que eu sentia, que meu desejo por ela ia finalmente se dissipar. Mas, ao contrário, só fez aumentar. Eu queria mais. Precisava de mais. E isso estava me enlouquecendo.

Enquanto a observava, vi quando ela disfarçou um suspiro e ajeitou o cachecol no pescoço, escondendo as marcas que eu deixei. Ela estava magoada, talvez até envergonhada. E eu sabia por quê. Ignorei-a no corredor de propósito, mesmo sabendo que isso a machucaria. Mas foi necessário. Eu estava fazendo isso para o bem dela. Meter Amanda no meu mundo só iria complicar as coisas. Ela não era como eu, não era alguém que poderia suportar os pesos que eu carrego.

Ela era pura.

Inocente de tantas coisas que eu enfrentava diariamente. Merecia alguém que compartilhasse dessa pureza, alguém que a respeitasse e a amasse da maneira certa. Não alguém como eu. Mas, ao mesmo tempo, só de pensar nela com outro cara, alguém que não fosse eu, um ódio profundo se formava dentro de mim.

Eu era egoísta. Sempre soube disso.

Queria Amanda para mim, mas não podia lhe dar nada de bom em troca. Eu a desejava, mas não podia prometer segurança, carinho, ou qualquer coisa parecida com amor. Minha vida era bagunçada demais, sombria demais para ela. Mas a ideia de vê-la com outra pessoa? Isso simplesmente não era uma opção. Só de imaginar um outro homem tocando-a, beijando-a, sendo o foco do sorriso dela, fazia meu sangue ferver.

A verdade era que eu estava preso. Preso entre o desejo de protegê-la e o desejo de tê-la para mim, de qualquer maneira possível. Isso me deixava louco. Eu nunca fui bom em deixar as coisas passarem, em abrir mão do que eu quero, e Amanda não era exceção. Mesmo sabendo que eu deveria mantê-la longe, não conseguia. Ela estava no centro dos meus pensamentos, controlando cada decisão que eu fazia, cada ação que eu tomava.

Ela ficava chateada porque eu a ignorei. Eu sabia disso. Amanda achava que eu estava sendo frio, indiferente, mas não era isso. Era o oposto. Eu estava tentando poupá-la. Estava tentando evitar que ela se machucasse mais do que já tinha se machucado. Mas ela nunca entenderia isso. Não podia entender, porque ela não conhece a escuridão que me cerca.

E eu? Eu não sabia o que fazer. Não podia deixá-la ir, mas também não conseguia trazê-la para o caos que é minha vida. Então, ficava preso nesse meio-termo, observando-a, desejando-a, mas mantendo distância. Tentando convencê-la, com ações contraditórias, que o melhor para ela seria me esquecer.

Mas, no fundo, sabia que não podia deixá-la esquecer. E talvez... talvez fosse por isso que continuei jogando esse jogo.

○○○

O motor da moto ainda vibrava sob minhas pernas quando estacionei na garagem. Desci com um movimento rápido, tirando o capacete e sacudindo os cabelos desgrenhados pelo vento. O ar fresco da tarde ainda grudava na minha pele, mas aqui, dentro de casa, o ambiente era outro: silencioso, frio e impecavelmente arrumado, como sempre.

Passei pela entrada, empurrando a pesada porta de madeira, e o aroma familiar do lugar me envolveu. Assim que coloquei os pés no mármore polido do hall, ouvi passos apressados vindo em minha direção. Não demorou para ver Ippolita, a empregada da casa, surgindo com um sorriso acolhedor. Ela estava com o avental branco, o cabelo bem preso em um coque baixo, e seus olhos sempre atentos notaram imediatamente minha presença.

Tra il Sole e il Mare (Sem Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora