Na manhã seguinte, desci as escadas da casa, já vestida para a escola. O cheiro de café fresco preenchia o ar, um aroma que normalmente me acalmava, mas hoje eu estava inquieta. Minha mente ainda estava presa aos eventos da noite anterior, tentando encontrar algum sentido no que havia acontecido.Minha mãe já estava na cozinha, preparando o café da manhã. Ela olhou para mim assim que entrei, seu olhar cheio de curiosidade e, talvez, um pouco de preocupação.
— Bom dia. — Sua voz era suave, mas eu já podia sentir a pergunta vindo. — E aí, como foi a festa? Eu ouvi a porta abrir mais cedo ontem... você voltou mais cedo do que eu esperava,aconteceu algo?
Eu sabia que ela estava desconfiada. Minha mãe sempre tinha uma intuição afiada, mas eu não queria discutir os detalhes daquela noite. Forçando um sorriso, disfarcei:
— Foi ótima. — Peguei uma xícara de café, tentando parecer o mais casual possível. — Eu só não queria voltar tão tarde.
Ela franziu o cenho, obviamente não convencida, mas para meu alívio, não insistiu. — Entendo. — Sua voz estava neutra, mas ainda havia uma leve sombra de dúvida em seus olhos. — Só não se esqueça de que você pode me contar qualquer coisa, tá bom?
Assenti, tentando afastar a sensação de culpa por não ser completamente honesta com ela. Terminamos o café da manhã em silêncio, e logo eu estava a caminho da escola.
Ao chegar na sala de aula, notei que havia algumas pessoas já presentes. Não era comum eu chegar e encontrar a sala parcialmente cheia, mas não foi isso que me surpreendeu. Ao me sentar, vi Lorenzo entrar na sala. Ele estava diferente. Um olho roxo inchado e o lábio levemente cortado, claramente resultado de uma briga ou algo parecido.
Ele me viu, e para minha surpresa, caminhou até mim, com a cabeça ligeiramente abaixada. Quando parou em frente à minha mesa, ele parecia hesitante, quase constrangido. — Amanda... eu... — Ele murmurou, as palavras saindo baixas, como se fossem difíceis para ele. — Desculpa pelo que aconteceu ontem.
Eu o encarei, surpresa e ainda cheia de ressentimento pelo que ele tinha feito. Mas ao vê-lo ali, ferido e vulnerável, algo dentro de mim hesitou. No entanto, eu não tinha vontade de responder, então fiquei em silêncio. Ele pareceu entender, assentiu de leve e se afastou, voltando para o seu lugar.
Enquanto ele caminhava, eu não pude deixar de me perguntar o que teria acontecido com ele.
Alguns minutos depois, Nicolo entrou na sala. Ele estava tão imponente como sempre, com aquela expressão séria que parecia não mudar. Seus olhos varreram a sala até encontrarem os meus. Por um segundo, ele hesitou, como se estivesse considerando se deveria vir falar comigo ou não. Mas eu, decidida a manter a distância, simplesmente olhei para frente, fingindo que ele não estava lá.
Ele se moveu para o seu lugar, e eu senti seus olhos em mim por um instante antes de ele desviar o olhar. Uma tensão silenciosa pairava no ar, mas eu estava determinada a não deixar isso me afetar. Tinha sido uma noite difícil, mas eu estava ali, de pé e seguindo em frente. Isso era o que realmente importava.
°°°
Enquanto estávamos sentados à mesa, Roberta, Chiara, e Andreia comentavam sobre o que havia acontecido na noite passada. A conversa girava em torno de Nicolo e Lorenzo, e eu ainda sentia um misto de raiva e humilhação ao lembrar dos eventos.— Nicolo foi um babaca, como sempre, — disse Roberta, cruzando os braços e revirando os olhos.
— Lorenzo... bom, ele é previsível, — comentou Andreia, balançando a cabeça em desaprovação.
Tentei focar no meu lanche, mas minha mente estava distante, ainda processando tudo. De repente, o sino tocou, sinalizando o fim do intervalo. Enquanto começávamos a nos levantar, Andreia se virou para mim com um sorriso amigável.
— Ei, o que acha de tomarmos um gelato depois da aula? Eu conheço um lugar ótimo.
Eu hesitei por um segundo. Parte de mim queria recusar e simplesmente ir para casa, mas a outra parte queria esquecer o que aconteceu e tentar me enturmar.
— Claro, pode ser.— respondi, com um sorriso.
Chiara olhou para mim com um sorriso malicioso, claramente se divertindo com a situação. Mas antes que eu pudesse pensar muito nisso, senti algo molhado escorrendo pela minha camisa. Olhei para baixo e vi que minha camisa estava manchada de líquido. Levantei a cabeça rapidamente e vi Nicolo parado à minha frente, com um olhar impassível.
— Você deveria prestar mais atenção por onde anda, — ele disse, sem o menor sinal de arrependimento na voz.
A fúria tomou conta de mim instantaneamente. Minha paciência com ele já havia se esgotado. Com a voz cheia de raiva, eu retruquei:
— Vá se ferrar, Nicolo! Essa camisa foi cara!
Ele apenas deu um sorriso cínico e se afastou sem dizer mais nada, como se tudo aquilo fosse um jogo para ele. Meu coração estava disparado, mas eu me recusei a deixar que ele visse o quanto aquilo me afetava.
Chiara e Andreia vieram até mim, tentando ajudar com a mancha, mas eu estava tão irritada que mal consegui prestar atenção. No fundo, eu sabia que estava sendo testada, mas não iria recuar.
Furiosa e frustrada, fui direto para o banheiro. A raiva pulsava em minhas veias enquanto desabotoava a camisa, ficando apenas de sutiã. A mancha escura era um lembrete da humilhação que Nicolo havia acabado de me infligir. Respirei fundo, tentando controlar minha respiração, mas a irritação era quase palpável.Não iria arriscar tudo por causa de um babaca.
Chiara me observou por um momento antes de falar:
— Vou ver se encontro algo nos achados e perdidos. Talvez haja uma camisa que você possa usar enquanto isso. — Ela saiu apressada, deixando-me sozinha no banheiro.
Com um suspiro, virei-me para a pia e comecei a esfregar a mancha com força. A água corria, mas a mancha parecia teimosa, assim como o sentimento de frustração que eu sentia. Minhas mãos tremiam levemente enquanto esfregava a blusa, tentando não deixar que as lágrimas de raiva se formassem.
O banheiro estava silencioso, o som da água sendo o único ruído que preenchia o espaço. Cada movimento meu refletia a mistura de emoções que estava lutando para controlar — a raiva por Nicolo, a vergonha por ter sido alvo de seu desprezo, e a frustração por sentir que não pertencia a esse lugar.Eu não sabia por quanto tempo fiquei ali, tentando em vão limpar a camisa e me acalmar, mas parecia uma eternidade. Minha mãe ia reclamar.
Chiara voltou alguns minutos depois, com uma camisa branca na mão, um pouco amarrotada, mas pelo menos limpa.
— Achei essa aqui. Não é nada de mais, mas vai servir. — Ela estendeu a camisa para mim com um sorriso solidário.
Agradeci, tentando ignorar o desconforto que ainda pairava sobre mim. Vesti a camisa,ficou um pouco apertada nos seios,mas vai ter que servir.
Enquanto eu vestia a camisa, senti um arrepio percorrer minha espinha. A sensação de estar sendo observada me fez parar por um segundo. Instintivamente, olhei em direção à porta do banheiro. Ela estava levemente entreaberta, e uma inquietação se instalou em mim.
— O que foi? — perguntou Chiara, percebendo minha hesitação.
— Você deixou a porta encostada? — perguntei, tentando esconder o tom de preocupação na minha voz.
— Não, eu fechei quando entrei — Chiara respondeu, franzindo a testa enquanto olhava para a porta.
Um silêncio desconfortável pairou no ar enquanto eu me esforçava para ignorar a sensação estranha que ainda me incomodava. Tentando parecer mais tranquila do que me sentia, dei de ombros e terminei de abotoar a camisa.
— Deve ter sido o vento — murmurei, mais para mim mesma do que para ela, tentando afastar o desconforto.
Chiara olhou para mim por um instante antes de caminhar até a porta e fechá-la completamente. Ela me deu um olhar tranquilizador.
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Tra il Sole e il Mare (Sem Revisão)
Storie d'amoreAmanda, uma carioca de alma livre, vê sua vida virar de cabeça para baixo quando descobre que sua mãe vai se casar com seu padrasto italiano e a leva para uma nova vida na encantadora Florença. Longe do sol e das praias do Rio, ela precisa se adapta...