O carro seguia silencioso pelas ruas pouco movimentadas da cidade. Nicolo dirigia com aquela calma habitual, os olhos fixos na estrada, enquanto Jéssica estava no banco de trás, olhando pela janela com uma expressão distante. Eu a observava pelo retrovisor, notando como aquele silêncio destoava da pessoa que ela costumava ser.
— Tá tudo bem aí, Jéss? — perguntei, virando o rosto de leve para trás.
Ela desviou o olhar da janela e deu um sorriso fraco, tentando disfarçar o que realmente sentia.
— Tô, amiga... Só tô meio triste, sabe? Parece que passou rápido demais.
— É porque passou mesmo — respondi, soltando um suspiro. — Você pisca e pronto: as férias acabam.
Nicolo continuava quieto, apenas ouvindo nossa conversa enquanto mantinha o foco na estrada. Ele sempre teve essa habilidade de ficar no meio da situação sem parecer deslocado, como se estivesse lá, mas ao mesmo tempo observando de longe.
— A gente vai sentir sua falta, sabia? — continuei. — A casa vai ficar sem graça sem você enchendo meu saco todos os dias.
Jéssica riu de leve, o som ainda carregado de saudade.
— Ah, Amanda, pelo amor, você que adora que eu fico no seu pé. Nem vem!
Eu sorri, porque era verdade. As férias com ela tinham sido uma bagunça gostosa, cheia de risadas e memórias boas.
— Quando você volta? — perguntei.
— Ah, queria vir no ano que vem, se der tudo certo.Meu tio vai conseguir um emprego pra mim,até lá consigo um money. — respondeu ela, desviando o olhar para fora novamente. — Meu ano letivo tá diferente do de vocês, então eu não posso nem inventar desculpa pra voltar antes.
— Que saco — murmurei, cruzando os braços.
Nicolo, ainda calado, lançou um olhar pelo retrovisor, como se estivesse acompanhando a conversa sem se intrometer. Então, depois de um tempo, ele finalmente disse algo:
— Se precisar de alguma coisa, pode mandar mensagem. Qualquer coisa.
O tom dele era calmo, mas firme, carregado daquela seriedade típica dele. Jéssica levantou o olhar, surpresa com a frase inesperada vinda dele, e sorriu de leve.
— Obrigada, Nicolo. Pode deixar.
Assim que chegamos ao aeroporto, Nicolo estacionou o carro e pegou as malas de Jéssica no porta-malas. Eu o ajudei com uma das bolsas menores, e juntos fomos entrando no saguão, o som abafado das conversas e dos anúncios de voos ecoando ao nosso redor.
— Ainda não tá na hora do seu voo, né? — perguntei, olhando o relógio.
— Não — respondeu Jéssica, suspirando. — Mas eu não gosto dessa espera, dá um nervoso.
Nos sentamos em um banco próximo ao painel de partidas. O clima estava leve, como se tentássemos ignorar que aquela era uma despedida. Conversávamos sobre coisas aleatórias, rindo de algumas piadas e lembrando momentos das férias. Nicolo estava mais quieto, como sempre, mas tinha um meio sorriso no rosto enquanto nos ouvia.
Foi então que notei uma figura familiar parada perto de um banco mais à frente. Lorenzo. Ele estava lá, com aquele ar meio desleixado e ao mesmo tempo confiante, olhando ao redor como se procurasse alguém. Minha expressão deve ter mudado na hora, porque Jéssica percebeu e franziu o cenho.
— O que foi? — perguntou, baixinho.
Antes que eu pudesse responder, ela seguiu meu olhar e viu Lorenzo. O rosto dela mudou na hora; os olhos se arregalaram de leve, e ela virou o rosto rapidamente como se isso fosse suficiente para despistá-lo.
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Tra il Sole e il Mare (Sem Revisão)
RomansaAmanda, uma carioca de alma livre, vê sua vida virar de cabeça para baixo quando descobre que sua mãe vai se casar com seu padrasto italiano e a leva para uma nova vida na encantadora Florença. Longe do sol e das praias do Rio, ela precisa se adapta...