Capítulo 38

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Estamos chegando na reta final.

Olhei para Nicolo, que mexia no celular distraído, e perguntei casualmente:
— Você não quer almoçar em casa? Minha mãe já queria te conhecer mesmo.

Ele levantou os olhos para mim, visivelmente surpreso.
— Tem certeza? — perguntou com a testa levemente franzida, como se não quisesse incomodar.

— Absoluta. — Sorri, tentando parecer tranquila, mesmo que meu coração estivesse acelerado. Era um grande passo, mas algo em mim dizia que era o momento certo.

No caminho, Nicolo parecia quieto, como se algo ainda estivesse pesando sobre ele. Resolvi não insistir no assunto do advogado ou do pai dele, sabendo que ele precisava de tempo para processar tudo.

Assim que chegamos, destranquei a porta e encontrei minha mãe e Jéssica na sala de jantar, arrumando a mesa com pratos e talheres. Minha mãe usava um avental florido e estava visivelmente ocupada, mas, ao me ver acompanhada, ela parou imediatamente.

— Amanda, você não me disse que teríamos visita! — Ela limpou as mãos no avental e caminhou em nossa direção, analisando Nicolo de cima a baixo. Seus olhos brilharam com curiosidade enquanto estendia a mão para ele. — Quem é esse belo rapaz?

Antes que eu pudesse dizer algo, Nicolo tomou a iniciativa. Ele apertou a mão dela com um sorriso charmoso e disse, com uma tranquilidade que me deixou pasma:
— Sou Nicolo. Namorado dela. Prazer em conhecê-la, senhora.

Senti meu rosto queimar, surpresa pela ousadia dele, e vi minha mãe arqueando uma sobrancelha, com um sorriso que beirava a aprovação.
— Namorado, hein? Não sabia que você estava namorando, Amanda.

Antes que eu pudesse me explicar, Jéssica soltou uma risadinha e cruzou os braços.
— É o famoso Nicolo.O cara que a Amanda não para de pensar.

— Jéssica! — resmunguei, tentando parecer indignada, mas meu rosto já estava vermelho demais para negar.

Minha mãe deu um sorriso caloroso.
— Bem, seja bem-vindo, Nicolo. Espero que goste de comida caseira e brasileira, porque fizemos um banquete hoje.

Ele sorriu educadamente.
— Tenho certeza de que será ótimo. Muito obrigado pelo convite.

Enquanto íamos para a mesa, Jéssica se aproximou de mim e cochichou:
— Ele é muito mais lindo de perto,com todo respeito.

Eu revirei os olhos, tentando não sorrir, mas estava difícil. Nicolo parecia tão à vontade, como se pertencesse ali.

Durante o almoço, minha mãe não poupou perguntas.
— Então, o que você faz? Ainda está estudando? E a família, o que faz da vida?

Vi a mandíbula dele se apertar por um momento, mas ele respondeu calmamente:
— Estou terminando a escola,sou da sala de Amanda. E... bem, minha família tem alguns negócios. Meu pai é um homem de negócios.

— Ah, entendi. — Minha mãe sorriu. — É bom saber que Amanda escolheu alguém com uma boa cabeça.

Jéssica, no entanto, parecia mais interessada em provocá-lo.
— E aí, o que fez para conquistar ela? Porque essa aí é difícil de agradar.

Ele riu de leve e lançou um olhar na minha direção, cheio de algo que eu não sabia se era carinho ou orgulho.
— Acho que foi ela que me conquistou, na verdade.

Minha mãe soltou um "Awn" discreto, e aí que eu quis desaparecer.

O almoço continuou tranquilo, mas por dentro eu sentia uma mistura de nervosismo e algo mais... algo como felicidade. Ver Nicolo interagir com minha mãe e Jéssica era estranho, mas também bom. Por um momento, parecia que tudo estava normal, como se os problemas e segredos não existissem.

Depois que terminamos, ajudei a recolher a mesa enquanto Jéssica e Nicolo conversavam baixinho na sala. Minha mãe se aproximou de mim na cozinha e sussurrou:
— Ele parece um bom rapaz, Amanda. Mas... tem algo nos olhos dele. Uma espécie de tristeza. Você tem certeza de que ele está bem?

Olhei para Nicolo por um momento, vendo-o sorrir enquanto Jéssica fazia alguma piada boba. Suspirei.
— Não tenho certeza. Mas eu quero estar ao lado dele.

Ela acariciou meu rosto com carinho.
— Tudo bem, filha. Só tome cuidado, está bem?

Assenti, e por um momento desejei que a vida fosse sempre assim... calma e cheia de pequenos momentos felizes. Mas no fundo, sabia que o caos nos esperava logo depois daquela porta.

 Mas no fundo, sabia que o caos nos esperava logo depois daquela porta

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Depois do almoço, a casa estava estranhamente tranquila. Minha mãe havia subido para descansar, e Jéssica desapareceu, provavelmente para o quintal ou para seu quarto, me deixando sozinha com Nicolo. Sentamos no sofá da sala, e ele me puxou para o colo dele de forma natural, como se já tivéssemos feito isso mil vezes.

Eu me aninhei ali, me sentindo estranhamente à vontade. Ele traçava círculos suaves no meu braço com a ponta dos dedos enquanto conversávamos sobre coisas aleatórias — a escola, alguns filmes que queríamos ver, e até sobre como a comida da minha mãe era infinitamente melhor do que qualquer restaurante chique que ele conhecia.

Mas não consegui evitar trazer à tona o que ele tinha dito mais cedo. Levantei o rosto para encará-lo e arqueei uma sobrancelha.
— Hum, então quer dizer que sou sua namorada?

Ele parou o movimento no meu braço, um sorriso brincando nos lábios.
— Claro.

Fiquei olhando para ele, tentando entender o que se passava na cabeça daquele garoto.
— Você não acha que deveria ter me pedido antes? — perguntei, tentando soar séria, mas meu tom denunciava a diversão.

Nicolo deu de ombros, como se aquilo não fosse grande coisa.
— Achei que fosse óbvio. — Ele inclinou a cabeça para me olhar mais de perto. — Acha que alguém mais teria coragem de lidar com você?

Revirei os olhos e bati de leve no ombro dele, mas não consegui conter o sorriso.
— Ah, entendi. Então você está me fazendo um favor?

Ele riu e segurou minha cintura com mais firmeza, puxando-me para mais perto.
— Não. Eu que sou sortudo. — Sua voz ficou mais baixa, e o jeito que ele olhou para mim fez meu coração acelerar.

Corei, desviando o olhar, mas senti os dedos dele tocarem meu queixo, levantando meu rosto para que eu o encarasse novamente.
— Você é minha, Amanda. — Ele disse isso com uma intensidade que me deixou sem palavras por um momento. — Não sei como ou por quê, mas você é minha.

Engoli em seco, sem saber como reagir. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, o som de passos ecoou no corredor, e eu rapidamente me levantei do colo dele, ajeitando meu cabelo como se nada tivesse acontecido.

Minha mãe apareceu na porta, sorrindo.
— Espero que não estejam fazendo bagunça aí, hein?

Nicolo, sempre rápido, respondeu com um sorriso inocente:
— Claro que não, senhora.

Ela riu e voltou para a cozinha, deixando-nos sozinhos novamente. Ele me puxou de volta para o sofá, mas dessa vez fiquei sentada ao lado dele, minha cabeça encostada no ombro dele.

— Sabe, — comecei, ainda tentando processar tudo. — Você é um pouco mandão, sabia?

Ele riu baixinho e me beijou no topo da cabeça.
— Alguém tem que ser.

E por um momento, senti que talvez as coisas pudessem dar certo... mesmo com tudo que ainda estava por vir.

Tra il Sole e il Mare (Sem Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora