Capítulo 31

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Amanda

No intervalo, sentei-me na mesa de sempre com meus amigos. Estávamos rindo e comentando sobre a última aula, até que um movimento do meu lado me chamou a atenção. Nicolo se aproximou, e sem pedir licença ou dizer nada, sentou-se ao meu lado. Senti o rosto esquentar de imediato - ele nunca tinha feito algo assim antes, principalmente na frente de todos.

Chiara, Andreia e Roberta olharam surpresos, claramente tentando entender o que estava acontecendo. Andreia, com uma expressão mista de curiosidade e desgosto, arqueou uma sobrancelha e perguntou:

- Você não vai sentar com os seus amigos?

Ele apenas deu de ombros, sem parecer se importar com o tom dela.

- Prefiro sentar aqui - respondeu calmamente, olhando em minha direção.

Eu só queria me esconder. Sentia meus amigos me encarando, como se esperassem que eu desse alguma explicação, mas não sabia o que dizer. Meus olhos fixaram-se no meu lanche enquanto tentava fingir que tudo estava normal. Só que a sensação de um olhar intenso nas minhas costas logo me fez levantar a cabeça. Quando me virei discretamente, encontrei Valentina me encarando do outro lado do refeitório. Ela tinha os olhos cravados em mim com um ódio quase palpável, como se estivesse prestes a me fulminar ali mesmo.

Tentei ignorar, mas aquilo só fazia meu coração bater mais rápido.

Enquanto tentava agir normalmente, Chiara soltou a pergunta que eu mais temia naquele momento:

- Então...vocês estão finalmente namorando?

Meu rosto esquentou na mesma hora, e eu podia sentir os olhares fixos em nós. Nicolo, ao meu lado, permaneceu em silêncio, olhando para a mesa sem expressar nada. Engoli em seco e, tentando manter a calma, respondi baixinho:

- A gente... está se conhecendo.

Mal terminei de falar, vi Andreia levantar-se bruscamente, com uma expressão de pura frustração, e sair da mesa sem uma palavra. Meu peito apertou. Andreia era meu amigo, e eu sabia que ele estava chateado, talvez até magoado.

Levantei-me para ir atrás dele, mas Nicolo segurou meu braço.

- Deixa ele - disse, com o tom firme de sempre.

Olhei para ele, lutando contra a confusão e a culpa que cresciam dentro de mim.

- Nicolo, o Andreia é meu amigo - respondi, puxando meu braço suavemente de volta.

Antes que ele pudesse reagir, saí em direção ao corredor, com um peso no peito e a esperança de resolver as coisas com Andreia.

Alcancei Andreia no corredor, e ele se virou, a expressão amarga.

- Por que tinha que ser ele? - perguntou, com uma voz carregada de frustração.

Respirei fundo, tentando escolher as palavras certas.

- Eu não sei... - murmurei, sincera. - Meu coração escolheu ele, e eu não posso controlar isso.

Ele soltou uma risada amarga.

- Não é justo, Amanda. Você está me usando, como se eu fosse qualquer um! Achei que você era diferente, mas você é só mais uma - disse, as palavras carregadas de ressentimento.

Senti meu rosto queimar, entre a raiva e a tristeza que suas palavras me causaram. Inspirei fundo, tentando manter a calma.

- Entendo que você esteja magoado e vou relevar o comentário, mas não vou aceitar que fale de mim assim.

Ele riu de novo, a expressão sombria.

- Não ligo, Amanda. Você não passa de uma qualquer que na primeira oportunidade deu para o Nicolo.Enquanto eu estive lá e a única coisa que consegui foi um beijo amargo.

As palavras dele me atingiram como um golpe. De repente, tudo fez sentido - ele estava me vendo como um prêmio de alguma competição imaginária entre ele e Nicolo. Mas eu não era um troféu de ninguém.

- É sério que tudo o que você fazia para mim era sempre com segundas intenções?Eu poderia esperar isso de outra pessoa,mas de você?!- respondi, com a voz firme e repleta de raiva, antes de me virar e sair dali sem olhar para trás.

Entrei no banheiro, meu coração ainda acelerado da discussão. Liguei a torneira, deixando a água correr fria enquanto tentava clarear a mente e acalmar a raiva. Me inclinei, molhando o rosto para refrescar os pensamentos. Foi quando ouvi um clique atrás de mim. A porta tinha sido fechada.

Ao me virar, encontrei Valentina e suas amigas paradas ali, formando uma barreira entre mim e a saída. Um arrepio passou pela minha espinha. O olhar dela era de puro desprezo, e as outras duas carregavam sorrisos maldosos.

- Finalmente você vai aprender seu lugar - Valentina falou, a voz baixa e ameaçadora. - E dessa vez, sem o Nicolo pra intervir.

Ela deu um passo à frente, os olhos cintilando de raiva e orgulho.

- Eu não preciso dele pra lidar com você - disse, tentando ignorar o medo.

Valentina estreitou os olhos, e eu soube que ela estava levando a sério.
Assim que me vi cercada, tentei me esquivar, mas uma delas conseguiu me agarrar pelo braço. Senti o estalo de um tapa forte de Valentina queimando minha bochecha, e antes que ela tentasse de novo, eu me desvencilhei, dando uma cotovelada na outra garota que tentava me segurar. A adrenalina tomou conta, e o próximo tapa foi meu.

Caímos no chão, e a briga se tornou um borrão de puxões de cabelo, tapas e insultos abafados. Eu agarrei os cabelos dela com força, e ela gritou:

- Solta! Meu cabelo custou caro!

- Pois devia se envergonhar de brigar por macho - respondi, dando mais um puxão antes de largá-la e me levantando com rapidez.

As amigas dela ficaram paradas, olhos arregalados, como se não acreditassem no que tinham acabado de ver. Ergui a sobrancelha e olhei para cada uma delas.

- Vocês querem levar também? - perguntei, meu peito subindo e descendo com a respiração pesada.

Elas deram um passo para trás, balançando a cabeça, e eu saí dali sem olhar para trás, ainda sentindo o gosto da vitória e ignorando a dor pulsando no meu rosto.

Assim que entrei no refeitório, vi as meninas arregalando os olhos ao notar o hematoma que certamente já começava a aparecer na minha bochecha. Roberta se aproximou com cuidado.

— O que aconteceu? — ela perguntou, visivelmente preocupada.

— Relaxa, meninas, eu tô bem — tentei amenizar, mesmo sentindo a dor aumentar. — Onde está o Nicolo?

Roberta fez uma careta antes de responder.

— Ele saiu daqui parecendo que ia explodir, soltando "fumaça do nariz".

Suspirei, frustrada. Hoje realmente não era o meu dia.

— Estou tão cansada de lidar com esses homens — desabafei, passando a mão pelo rosto.

Roberta riu, tentando aliviar o clima.

— É nessas horas que me sinto sortuda por ser bissexual, assim eu posso lidar só com mulheres se quiser.

Chiara riu, e acabei rindo também. De repente, o peso do dia parecia um pouco mais leve.

Fomos para a sala, e como prometido, sentei-me no novo lugar ao lado de onde Nicolo costumava sentar. Só que ele não estava lá; pelo visto, tinha ido embora.

Olhei para a cadeira vazia e soltei um suspiro magoado. Não sabia o que esperava dele, mas aquele vazio ao lado parecia refletir bem como eu me sentia.

Tra il Sole e il Mare (Sem Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora