PRAN
Observo ele atravessar a rua correndo sem nem ao menos olhar para os lados, quando um carro vira a esquina eu ando na sua direção, mas paro assim que ele acelera e chega na calçada do outro lado. Ele vira pra mim e levanta as duas mãos com os polegares levantados, esse cara não devia sair sorrindo desse jeito por aí.
Espero sentado em um banco, mas teria sido melhor ter ido com ele, o grande problema desse lugar é que as pessoas são muito indiscretas, te olham, julgam e comentam sem se importar se estamos ouvindo. Não tinha me incomodado tanto com isso até hoje, porque no meu caso os comentários fora da escola normalmente são mais curiosidades, quem eu sou, de onde vim, porque estou aqui... Mas as coisas que esse rapaz tem que ouvir são realmente ofensivas, ele parece não se importar, mas não vejo como isso não o afetaria, eu mesmo tenho de vontade de dizer algumas verdades para essas pessoas preconceituosas.
A porta abre com um som de sino tocando, o pai do Dean sai com duas sacolas cheias, levanta elas e sorri. Ele definitivamente não devia sair sorrindo assim, as pessoas podem entender errado.
Levanto para ir ajudar, mas ele ignora a minha tentativa e corre na minha direção atravessando a rua sem prestar atenção, fico atento para ver se nenhum carro surge de repente, quando ele para na minha frente levanta as sacolas de novo.
— Cervejas, tudo bem?
— Na verdade...
— A minha casa é por aqui, vem!
É a terceira vez que tento dizer que vou embora, mas ele sempre me interrompe antes que eu consiga, parece estar fazendo de propósito, mas como aparenta ser meio desligado pode ser apenas o seu jeito. Ele para na esquina e faz um sinal com a cabeça me chamando, acho que não vou conseguir me livrar dessa, então é melhor acabar com isso de uma vez.
A casa do Dean não fica longe da loja onde o seu pai comprou as bebidas, em alguns minutos chegamos no portão. O rapaz tenta colocar as duas sacolas em uma mão, mas provavelmente está muito pesado, então ele está tendo dificuldade, quando canso de assistir o seu contorcionismo vou até ele e seguro a sua mão.
— Eu levo as sacolas.
— Não precisa, professor.
— Precisa sim, a não ser que você esteja planejando beber aqui na rua. Eu levo as sacolas e você abre o portão.
Ele olha para as sacolas e acaba dando elas para mim, nós atravessamos um quintal bem grande cheio de brinquedos e vamos até a casa.
Se eu achei que o quintal estava cheio de brinquedos é porque ainda não tinha entrado na casa, a sala é uma completa bagunça, tem carrinhos, avião, bonecos, peças de montar e pelucias por todos os lados.
— Senta professor!
O pai vai até um sofá e tira uma manta que está enrolada, um controle de vídeo game cai, mas ele consegue pegar antes de chegar no chão, então ele vai para um outro comodo e volta de mãos vazias.
— Não precisa ficar parado aí, professor, vem aqui.
Ele segura o meu pulso e me puxa para o sofá, pego um panda de pelúcia, olho em volta pensando em um lugar para colocar, mas acabo sentando com ele no colo, o rapaz senta ao meu lado e coloca as sacolas no chão, pega uma lata de cerveja, abre e me entrega, abre outra pra ele e desbloqueia o celular.
— Do que você gosta, professor?
— O que?
Ele olha pra mim e vira a tela do celular na minha direção.
— Pizza, do que você gosta?
— Ah... Qualquer uma. Na verdade, pai...
— Pat.

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Daddy
Fiksi PenggemarPat, um pai solteiro que enfrenta as dificuldades de criar seu filho sozinho, e Pran, um professor primário recém-chegado que luta para ser aceito em seu novo emprego, têm seus caminhos cruzados quando Pran começa a dar aulas para o filho de Pat. Em...