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𝐑𝐈𝐂𝐇𝐀𝐑𝐃 𝐑𝐈́𝐎𝐒
DIA SEGUINTE

A luz filtrava-se pelas cortinas empoeiradas, criando um padrão dourado no chão do meu apartamento. Eu acordei com a cabeça pesada, a boca seca e um leve zumbido nos ouvidos. A balança do prazer e da dor se equilibrava, e eu passei a mão pelo rosto, tentando lembrar dos eventos da noite anterior.

O quarto estava uma bagunça. As roupas estavam espalhadas pelo chão, um misto de peças minhas e da mulher que havia passado a noite comigo. Uma prostituta, como tantas outras. De alguma forma, eu sempre acreditei que essas distrações momentâneas eram a solução perfeita para a monotonia da vida. Sem promessas, sem desapontamentos; apenas corpos se entrelaçando sob a luz fraca de um quarto desordenado.

Me levantei, ainda tentando juntar os fragmentos da noite. A lembrança dela era vaga, uma silhueta na bruma da minha mente. Lembrei-me de suas risadas, do jeito que ela se movia, mas o rosto não se fixava. Uma máscara de prazer, talvez. Eu sempre mantinha uma certa distância emocional. Era assim que as coisas funcionavam para mim — uma troca de corpos e depois o retorno à solidão.

A cama estava desfeita, e o cheiro de baseado e perfume barato pairava no ar. A lembrança da noite anterior me fez sorrir, mas também trouxe uma pontada de desconforto. No fundo, sabia que estava apenas evitando encarar a realidade. Enquanto as mulheres se entregavam, eu as manipulava, jogando com seus sentimentos como um maestro regendo uma sinfonia. Era divertido, até que se tornava repetitivo virando mais um vício. Eu não queria um relacionamento sério; não queria me envolver.

Caminhei até a cozinha, sentindo o chão frio sob meus pés descalços. A cafeteira estava desligada, e eu precisava de café. O ritual matinal sempre foi uma forma de me reanimar, de me preparar para o que o dia poderia trazer. Enquanto a água fervia, olhei pela janela e vi o movimento da cidade começando a ganhar vida. Era um lembrete de que a vida continuava, mesmo que eu estivesse preso em um ciclo de distrações.

A noite anterior começou como tantas outras. Uma saída para a balada, um encontro casual com amigos, e depois a atração irresistível de alguém que eu sabia que não deveria me importar. Eu a encontrei no bar, seu olhar provocante me chamando como um ímã. O flerte foi instantâneo, e em pouco tempo, estávamos dançando, a química entre nós elétrica. Eu sabia que era apenas uma questão de tempo até que a noite terminasse em um quarto de hotel ou, como muitas vezes, em meu próprio apartamento.

O que eu não esperava era que, no fundo, a solidão começasse a se tornar insignificante. Enquanto as mulheres que eu usava se entregavam, eu me sentia cada vez mais distante. Era como se eu estivesse construindo uma muralha ao meu redor, me isolando de qualquer conexão genuína. Eu sabia que era um jogo, mas a cada vez que deixava uma mulher para trás, me dava mais vontade de continuar.

O café estava pronto, e eu despejei uma xícara, sentindo o aroma quente me despertar um pouco mais. Sentei-me na mesa, olhando para o caos ao meu redor. O telefone vibrou na mesa, quebrando o silêncio. Um número desconhecido. Ignorei, mas uma parte de mim se perguntou se era uma das mulheres com quem eu havia passado a noite.

Lembrei-me de Maya. O encontro dela tinha deixado uma marca em mim, e eu não conseguia parar de pensar nas palavras dela, na maneira como ela me desafiou. Ela era diferente, e isso me deixava inquieto. Enquanto eu mergulhava em relações superficiais, algo nela me fazia querer mais — mais conexão, mais intensidade. Mas eu sabia que não estava pronto para isso. Não era o que eu queria.

Terminei meu café e me levantei, decidindo que precisava de um banho. A água quente seria um alívio, e talvez me ajudasse a clarear a mente. Enquanto a água escorria pelo meu corpo, senti a pressão da noite anterior se dissolver. Mas a imagem de Maya não saía da minha cabeça. Eu havia me divertido com a prostituta, mas, no fundo, sabia que era apenas uma fuga temporária extremamente gostosa.

Fogo Do Karma. - Richard Ríos Onde histórias criam vida. Descubra agora