Capítulo 38 - O futuro é agora

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Fui até a sala da professora, mas vi que cheguei lá atrasada. Umas cinquenta pessoas estavam ao redor dela, quase a sufocando-a. Eu ri com a cena e depois notei que ela tentava dividir as pessoas em áreas. Mas com todo mundo falando ao mesmo tempo, era impossível ela anotar.

- Eu quero ficar na área de edificações!

- Eu quero ir para área de moda!

- Eu quero cantar!

- Calma, calma, calma um de cada vez! - ela falou e começou a gritaria de novo. Ela se levantou e caminhou até um mural, na frente da sala. - Aqui, vou deixar os papéis de cada setor neste mural, quem quiser, coloca seu nome onde quiser. Eu não quero ficar maluca antes dos quarenta.

Uma multidão de gente se acotovelava para colocar seus nomes ali. Eu apenas me encostei na parede, com os braços cruzados, esperando que ficasse menos cheio. Esperei por incontáveis cinco minutos, para que finalmente conseguisse chegar perto do mural. Peguei a caneta e olhei indecisa entre a área de música e edificações. Eu amava cantar, mas eu tinha uma queda por arquitetura também. Tinha medo de colocar nomes nas duas áreas e depois não dar conta. Fiquei ali, indecisa por alguns instantes até que alguém chega perto de mi. Me viro e é apenas a Dani.

- Você tá indecisa - ela falou logo que viu o meu estado.

- É, eu não sei se coloco para arquitetura ou música. - dei a caneta para que ela escrevesse e ela colocou o nome na área de coreografias.

- Se você gosta das duas coisas, coloca o nome nas duas. É só você se esforçar um pouquinho mais. - ela sorriu para mim e me devolveu a caneta.

- Tudo bem, vou colocar nas duas. - escrevi o nome nas duas áreas rapidamente, para não mudar de ideia. - Oh god, eu tenho que começar meu projeto agora mesmo!

Saí correndo enquanto ouvia-a rir de mim. De acordo com o papel que eu tinha pegado lá, eu tinha que fazer um projeto que conseguisse mostrar do que eu era capaz. Um prédio, uma sala, um jardim, qualquer coisa. Eu sabia que a maioria das pessoas ia fazer casas, prédios e eu queria fugir um pouco disso. Mas o que eu faria? Pensa Letícia, pensa. Uma biblioteca! Isso mesmo, uma biblioteca divina! Porque não juntar meu amor pelos livros com meu amor pela arquitetura? Eu preciso de lápis e papéis rápido!

Aproveitei que era o último horário e corri para casa para começar a planejar. Fiquei até tarde desenhando como seria e acabei pegando no sono por cima da mesa mesmo. Resultado: Um grande torcicolo no dia seguinte. Lembrete mental: Nunca mais dormir em cima da mesa do seu quarto se quiser virar a cabeça de um lado para o outro no dia seguinte.

Nós praticamente não tivemos mais aulas até o festival. Eu trabalhava na maquete da biblioteca pela manhã e à tarde, ensaiava a música que eu iria cantar. Tínhamos direito a cantar duas músicas, e eu tinha que treinar bastante. Os vocais eram difíceis, mas nada que eu não conseguisse. Tinha escolhido duas músicas bem legais, uma que falava bem do que eu estava passando e outra nem tanto.

Os meninos tinham decidido formar uma boyband e algumas vezes eu os via ensaiando. Danielle e mais duas outras garotas tinham sido encarregadas de fazer toda a coreografia do show de quem iria cantar. Era uma responsabilidade e tanto. Teríamos três noites para fazer alguém nos notar. As outras áreas dividiam o dia entre si, mas as noites eram apenas para a Música e a Moda. Alison estava eufórica por poder produzir um desfile com suas próprias criações e eu soube que a Olívia e a Eleanor iam desfilar. Logan se inscreveu na área de saúde, queria ser cardiologista. Mas eu não achava que daria muito certo, porque o coração da maioria das meninas disparava quando ficava muito perto dele e assim, ele ia sempre achar que tinha um problema com elas. Ah, vai ser bonito assim no inferno cara. Fica desconcentrando as pessoas. Coisa feia.

Eu estava no ensaio, ensaiando a minha música de entrada, brisando novamente. Tinha uma maldita nota que eu não conseguia alcançar de jeito nenhum. Tentei de novo, mas nada.

- Você tem certeza que não é melhor escolher outra música Lê? - Dani me perguntou, se levantando do chão onde ficava me analisando.

- Não, eu vou conseguir. Só preciso de um pouco mais de treino.

- Ok, então descansa um pouco, toma uma água. Eu e as meninas vamos ver o que podemos fazer para a sua entrada triunfal! - ela falou animada e nós rimos. Me dirigi á uma salinha onde ficavam os figurinos, onde sabia que não seria interrompida.

Precisava de um tempo sozinha para terminar o projeto e a planta baixa para a apresentação. Comecei a aprimorar os desenhos, e algum tempo depois, Dani apareceu lá, para dizer que já estava indo. Disse a ela que iria ficar mais um pouco. Ela alertou -me para me apressar e não correr o risco de ficar trancada no auditório. Nós rimos e eu assenti. Fiquei lá por mais algum tempo até que eu finalmente terminei. Eu não era profissional nisso, só tinha feito alguns cursos extras que a escola tinha oferecido e sabia o básico. Mas até que estava apresentável. Fiquei encarando o papel por alguns instantes, admirando a minha obra prima quando eu bocejo. Fecho os olhos por um instante, coçando-os com as costas da mão e quando os abro, não consigo enxergar nada.

Sim, estava tudo escuro. Eu peguei os papéis no meu colo e guardei na minha bolsa. Depois de passar um sufoco tentando achar o zíper. Coloquei-a nas costas e saí da sala, vendo que o corredor também estava escuro. Mas não podia dizer que estava vazio porque não conseguia ver um palmo á frente do meu nariz. Minha nossa senhora, esqueceram-se de mim! Eu estava mortificada de medo, do que poderia ter naquele corredor sinistro e escuro. A cada coisa que eu esbarrava, era um grito que eu dava. Meu celular não fazia muita diferença ali, só iluminava uns dois passos á minha frente. Já falei a vocês que eu tenho um puta medo de escuro? Se não falei, estou falando agora. Estou quase me cagando de tanto medo aqui. Se aquilo fosse uma brincadeira daqueles viados eles iriam ver. Nunca mais olhava na cara de nenhum deles. Corri um pouco para chegar à entrada e sair. Em vão. A porta estava trancada. Tentei empurrá-la, mas ela não se movia de jeito algum. Tentei gritar, mas ninguém me ouviu. E se me ouviu, resolveu ignorar. Afinal, pra que ligar para um pedido de socorro de uma garota desesperada?

Me virei para o auditório que parecia mais fantasmagórico com as luzes apagadas. Encostei-me na porta e me sentei no chão, assim, se houvesse alguém lá comigo, eu não seria pega de surpresa. Tentei ligar para alguém, mas a bateria do meu celular acabou. Droga, droga, droga, mil vezes droga. É meus caros a Lei de Murphy existe pra valer. Abracei meus joelhos e tentei ficar calma. Até que ouvi um barulho de algo caindo. Não, o barulho de alguém derrubando alguma coisa. Puta merda, puta merda, puta merda mil vezes. Agora sim, eu me cago de medo. Tinha alguém lá comigo.

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