Capítulo 44 - Refúgio

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O peso da notícia me atingiu como uma onda gigante, arrastando-me para o fundo de um mar escuro e sufocante. Meu celular escorregou das mãos e caiu no chão com um baque seco, mas eu mal percebi. Era como se o mundo ao meu redor tivesse sumido e restasse apenas um vazio insuportável, uma dor crua que crescia dentro de mim, espalhando-se por cada parte do meu corpo.

Eu cambaleei até o sofá, mas minhas pernas falharam no meio do caminho. Caí de joelhos no chão da sala, o peito arfando em busca de ar. Tentei respirar fundo, mas só consegui soltar um gemido entrecortado, como se alguém estivesse apertando minha garganta. Lágrimas começaram a escorrer pelos meus olhos, silenciosas no começo, mas logo se transformaram em uma enxurrada incontrolável.

A dor me engoliu inteira.

— Por quê...? — sussurrei entre soluços, mas a palavra morreu no ar, perdida na casa vazia.

Meu corpo inteiro começou a tremer, como se estivesse quebrando por dentro. Uma sensação de desespero se apossou de mim, e eu me curvei, abraçando meus próprios joelhos como se isso pudesse segurar as peças do meu coração que estavam desmoronando. Os soluços vinham fortes, sacudindo meu corpo a cada tentativa frustrada de respirar.

Meu peito ardia. A dor era física agora. Era como se cada batida do meu coração fosse uma faca cravada mais fundo.

— Maite... não... — sussurrei entre lágrimas, apertando as mãos contra o rosto, tentando sufocar a dor, mas não havia nada que pudesse conter aquilo.

Meus pensamentos se atropelavam, confusos e desesperados. Como ela pôde fazer isso? Como pôde dizer aquilo? Não era só o beijo, mas as palavras. As palavras cruéis, cortantes, como se ela tivesse se vingado de mim, de nós.

Comecei a hiperventilar, o ar preso na garganta. Senti meu corpo fraquejar, e um gosto amargo subiu na boca, como se eu estivesse à beira de vomitar. 

Não conseguia parar de chorar. As lágrimas vinham sem controle, pesadas e incessantes. Minha respiração estava descompassada, entrecortada por soluços que sacudiam todo o meu corpo. 

Minhas mãos tremiam tanto que mal conseguiam segurar meu rosto, e uma sensação de impotência me dominava. Tudo desmoronava. Todos os sonhos, todas as promessas que construímos. Nosso bebê. Nosso casamento. A nossa casa. Tudo parecia evaporar diante daquela imagem, daquela notícia... daquele beijo.

E, então, a pior parte: eu a amava. Mesmo com toda a dor, com o peito em pedaços, eu sabia que a amava desesperadamente. E isso fazia tudo doer ainda mais.

Senti uma pressão no peito tão forte que parecia que meu coração iria explodir. O ar continuava falhando, os soluços não paravam, e eu me sentia afundar mais e mais em um abismo sem fim. Tudo o que eu queria era acordar daquele pesadelo, mas não era um sonho.

Era real. E a dor era insuportável.

Com a cabeça girando e o coração em frangalhos, enxuguei as lágrimas como pude, mas elas insistiam em cair. Cada vez que lembrava da imagem de Maite e Andrés, parecia que uma nova onda de dor se erguia e me afogava de novo. Eu precisava sair dali. Precisava respirar, fugir daquele ambiente que, até então, era nosso refúgio, mas agora parecia sufocar.

Levantei-me do chão com dificuldade, as pernas trêmulas e os olhos inchados. Ir para o apartamento parecia a única coisa que fazia sentido. Talvez minha mãe estivesse certa o tempo todo. Talvez ela tivesse sentido que as coisas estavam indo rápido demais e eu não quis ouvir. Talvez aquilo fosse um aviso.

Fui até o quarto rapidamente, evitando olhar para os espaços que guardavam memórias nossas. A cama desfeita com o perfume da Maite nos lençóis, as roupas dela no armário misturadas às minhas... Tudo parecia zombar da dor que me consumia.  Meu único pensamento era sair dali.

Olá, férias! SAVIRRONIOnde histórias criam vida. Descubra agora