Capítulo 45 - Vamos pra casa

35 4 4
                                    


Ali, no colo de Maite, eu me sentia tão protegida, como se todo o caos ao nosso redor não pudesse mais nos alcançar. Os braços dela me envolviam com firmeza e carinho, e a forma como me olhava, com tanto amor, fazia meu coração doer ainda mais. Como eu pude duvidar dela?

Olhei para seu rosto — os traços delicados que eu tanto amava, agora marcados pelo cansaço e pela tristeza. Seus olhos vermelhos e inchados eram evidências de que ela também havia chorado muito. A culpa pesava em meu peito. Como eu pude ser tão impulsiva, tão imatura a ponto de sair de casa sem dar uma chance para ela se explicar?

Lembranças dolorosas vieram à tona. Quando saíram as notícias de que eu tinha beijado meu "(ex)-namorado(?)" logo depois de chegar ao Brasil, Maite também ficou desconfiada. Ela não escondeu seus sentimentos, mas falou comigo, conversou, enfrentou aquilo "ao meu lado". Ela não fugiu. Não me acusou sem provas, nem me abandonou. E ainda assim, eu fui incapaz de fazer o mesmo por ela agora.

A vergonha e o arrependimento me engoliam por dentro. Como eu pude ser tão covarde? Eu amava Maite mais do que tudo, mas na primeira tempestade, ao invés de lutar por nós, eu corri.

— Me desculpa — sussurrei, a voz fraca e embargada, mal conseguindo olhar para ela. — Eu não devia ter fugido assim... Eu devia ter confiado em você.

Maite me apertou ainda mais contra seu peito, sua mão acariciando lentamente meu cabelo. 

— Eu te entendo, meu amor. Quando saiu aquela notícia sua com o Paco, eu também fiquei muito mal — Maite disse com a voz baixa, enquanto continuava acariciando meu cabelo.

Meus olhos encheram de lágrimas novamente, e um nó se formou na minha garganta.

— Mas você não fugiu de mim como eu fiz. Eu fui muito imatura... — sussurrei, sentindo o peso da culpa me esmagar.

Maite inclinou o rosto, tocando minha bochecha com delicadeza e me obrigando a encará-la. Seus olhos estavam cheios de ternura, sem nenhum traço de julgamento.

— Você está grávida, meu amor. — Ela falou com um tom tão suave, tão acolhedor, que minhas defesas desabaram por completo. — Não precisa ser perfeita o tempo todo... Eu sei que está assustada, e sei que a gente ainda está se ajustando a tudo isso. É muita coisa pra processar de uma vez.

Ela limpou uma lágrima que escorreu pelo meu rosto com o polegar e me deu um pequeno sorriso, aquele sorriso sereno que sempre me fazia sentir que tudo ficaria bem.

— Mas eu tô aqui, tá? — continuou. — Não importa o que aconteça, a gente vai passar por isso juntas.

Eu me inclinei para ela, finalmente permitindo que o peso do cansaço e das emoções desaguasse por completo. Enterrei o rosto em seu pescoço, deixando escapar um soluço abafado.

— Desculpa por tudo, Mai... Eu amo tanto você.

— Eu também te amo, meu amor — ela sussurrou, apertando-me mais forte. — E nada nem ninguém vai nos separar.

Ouvimos uma batida na porta, e Maite suspirou suavemente antes de me tirar de seu colo. Ela se levantou com cuidado, lançando um último olhar afetuoso para mim antes de caminhar até a porta. Ao abrir, lá estavam o porteiro e o chaveiro, ainda esperando. Pareciam desconfortáveis, mas também curiosos sobre o desfecho da situação.

O porteiro segurava uma sacola de comida, que ele entregou a Maite com um sorriso tímido.

— Trouxeram a comida — ele disse, sem jeito. — E só queríamos saber se está tudo bem agora.

Maite lançou um olhar rápido para mim antes de responder com um sorriso discreto. Eu, ainda encolhida no chão, limpei o rosto com as costas da mão e tentei parecer menos devastada.

Olá, férias! SAVIRRONIOnde histórias criam vida. Descubra agora