𔓘ֹ⠀Em andamento.
- taennie, livro um.
꒰ long fic ꒱
Jennie está de luto e tem vivido como uma sombra desde o acidente que levou os seus pais.
Taehyung é o melhor amigo do seu irmão mais velho, e, quando ele concorda em levá-la para sua casa durante...
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NAQUELA TARDE, TIVE QUE IR A UMA CIDADE VIZINHA CONVERSAR COM ALGUNS clientes. Quando cheguei em casa, Jennie estava guardando as tintas. Olhou para mim do outro lado da sala e pegou a folha em que estava desenhando.
Deixei na mesa os cadernos que estava carregando.
— Ei, o que você está fazendo? Posso ver?
As palavras dela me frearam.
— Não. Esse... não. Esse é meu — explicou.
Maldita Jennie, ela sabia que eu era como um gato curioso e que não suportava não saber de tudo. Fiquei ali fascinado olhando para o rosto dela. Estava com uma mancha de tinta vermelha na bochecha direita e eu tive que me segurar para não limpá-la com os dedos. Fui até a cozinha, dizendo a ela que ia preparar o jantar.
Havia se passado uma semana desde que tínhamos feito as pazes.
Jennie não tocou mais no assunto do beijo, embora isso não me fizesse pensar menos nele. Era complicado, porque ela estava mais bonita, mais viva, mais ela. E… ou eu estava ficando louco, ou ela estava usando camisetas cada vez mais curtas e vestidinhos que me faziam perder a cabeça. E eu não estava acostumado a me conter, a me reprimir. Eu tinha passado a vida inteira fazendo o que me dava vontade, sem pensar demais. Ter que pisar no freio era frustrante.
Necessário, mas frustrante.
Relaxei enquanto preparava o jantar, apesar de não ter conseguido parar de imaginar o que ela teria desenhado à tarde enquanto eu estava fora. Era muito bom saber que ela estava começando a sentir necessidade de pintar. Eu tinha inveja disso. Do fato de que ela tinha tanto para mostrar ao mundo, enquanto eu tinha tão pouco. De que as emoções, para ela, transbordavam, enquanto, para mim, era difícil encontrá-las e mantê-las em um local bem seguro.
— O que está fazendo? — perguntou.
— Tofu frito com molho de tomate.
— Hummm… poderia ser pior — brincou.
Ela pegou os pratos e eu servi a comida antes de sairmos para a varanda. Ela disse que estava “muito gostoso” e não falamos muito mais enquanto comíamos.
Depois preparei meu chá, coloquei uma música e, com um livro na mão, deitei na rede.
Jennie quebrou o silêncio depois de um tempo.
— O que você está lendo? — perguntou.
— Um ensaio. Sobre a morte.
Segurei a vontade de me levantar, ajoelhar ao lado dela e abraçá-la. Isso era o que talvez eu tivesse feito durante os dois ou três primeiros meses. Agora a ideia de tocá-la me parecia distante, quase impossível.
— E por que você quer ler isso?
— Por que não? — respondi.
— Ninguém quer falar sobre isso...
— E você não acha que é um erro? — Eu estava pensando nisso havia meses...
— Não sei.
Deixei o livro de lado.
— Também tenho lido sobre a morte em outras culturas. E fico me perguntando se a maneira como lidamos com as coisas é algo que aprendemos ou se ela nasce de forma instintiva. Você entende o que quero dizer? — Jennie negou com cabeça. — Estou falando das diferentes maneiras que as pessoas têm de encarar e experimentar um mesmo fato. Por exemplo, alguns povos aborígenes australianos colocam os cadáveres em uma plataforma, cobrem-nos com folhas e galhos e os deixam lá. Quando há alguma celebração importante, eles untam a pele com o líquido do cadáver apodrecido ou pintam os ossos de vermelho para usá-los como ornamentos, para lembrar sempre de seus entes queridos. Em Madagascar, os magalches tiram os corpos dos túmulos a cada sete anos, os enrolam em mortalhas e dançam com eles. Depois passam um tempo conversando com eles ou tocando-os, antes de enterrá-los de novo por mais sete anos.
— Porra, Taehyung, isso é nojento. — Jennie fez uma careta.
— É exatamente daí que vem a minha dúvida: por que algo é horrível para nós enquanto para outros é reconfortante e faz com que eles se sintam bem? Sei lá, imagina se fôssemos ensinados, desde crianças, que a morte não é uma coisa triste, apenas uma despedida, algo de que se fale naturalmente…
— A morte é natural — ela concordou.
— Mas a gente não vê dessa forma. A gente não aceita.
O lábio inferior de Jennie estremeceu.
— Porque dói. E é assustador.
— Eu sei, mas é sempre pior ignorar uma coisa e fingir que ela não existe. Especialmente quando todos nós vamos passar por isso, não acha? — Levantei da rede e me agachei diante dela. Segurei o queixo dela entre meus dedos. — Você tem consciência de que eu vou morrer?
— Não fala isso, Taehyung...
— O quê? A realidade mais óbvia de todas?
— Eu não consigo nem pensar nisso...
Abri a boca, disposto a continuar apertando a corda, mas desisti quando vi a expressão dela. Eu me perdi em seu olhar assustado e não segurei o impulso de me inclinar e dar um beijo em sua testa antes de me afastar rapidamente. Voltei para a rede e peguei o livro de novo.
Fiquei lendo até tarde, até depois que Jennie se despediu e me deu boa noite, e fiquei pensando, pensando em tudo…
Era curioso e ilógico que durante anos aprendêssemos matemática, literatura ou biologia, mas não a lidar com algo tão inevitável como a morte...
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𖹭
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