Enviada de Deus ( Concluído)

Capítulo 1

"E aqueles que foram vistos dançando
foram julgados insanos por aqueles
que não podiam escutar a música"
— Friedrich Nietzsche

Londres era mais fria do que eu imaginava, o casaco de lã junto com a calça que eu estava não supriam o frio daquela cidade maravilhosa em Janeiro, claro né? Era inverno, meu subconsciente me repreendeu, assim que desembarquei me arrependi de não ter escutado minha mãe e ter colocado um casaco mais quente, um gorro ou um cachecol, mas quer saber, nada vai estragar meu primeiro dia aqui, nem mesmo o frio, e com esse pensamento um sorriso bobo escapou de meus lábios, eu queria gritar para que todos ouvissem, "EU CONSEGUI". Desde meu 10 anos quando soube da universidade de dança em Londres eu pirei, faço balé desde que me entendo por gente, e eu sou completamente apaixonada por danças, qualquer tipo, apenas pelo soar de uma bela melodia meu corpo todo se desperta e eu não consigo ficar parada, já fiz todos os tipos de danças possíveis, de salão, de rua, até poli dance, no entanto eu acabei por decidi ir mais a fundo no balé, aqueles passos lentos, as histórias que cada uma daquelas danças significavam, era espetacular, Gisele, pássaro azul, Lago dos Cisnes, lembro-me da primeira vez que interpretei as gêmeas cisne negro e branco, foi como se eu realmente vivesse a história, infelizmente nunca foi muito valorizada a dança, todos ao meu redor que sabiam sobre meu sonho de dançar, ou caçoavam ou ficavam chocados, porque? Porque dançar não pode ser visto como uma profissão igualitária a todas as outras? Felizmente minha mãe sempre me apoiou, seu sonho era que eu me formasse em advocacia, mas ela nunca me proibiu de seguir meu próprio sonho e eu a admiro demais por isso, ela sempre esteve ali por mim, até mesmo quando meu pai nos deixou, ela foi forte, e acho que é isso que sempre tentei ser, forte e decidida como ela e Deus sabe que eu não seria ninguém sem sua ajuda, mas ainda assim Londres era o meu segundo sonho, musica e danças que são o primeiro, não são minhas únicas paixões, amo ler, Clássicos da literatura, em especial a inglesa e eu quero conhecer todos os locais citados nos livros, cada pedaço onde se passou a vida de Romeu e Julieta e até mesmo de Heatcliff e Catherine, o morro dos ventos Uivantes, bem não é dos meus preferidos, acho uma história muito egoísta e trágica, porém ainda me atrai, Itália está no roteiro de um dos locais ao qual quero visitar, mas nada chega aos pés de Londres e quando eu soube que a universidade de dança daqui é uma das melhores eu juntei tudo e comecei a batalhar atrás de meu sonho, aos 16 anos me formei profissionalmente em bailarina e aos 18 viajei para Rússia e fiquei 6 meses apenas apresentando, foi um sonho e devo dizer que me ajudou bastante financeiramente, nunca tive uma classe financeira ruim, mas nada muito alto também, porém com isso ganhei alguns troféus e concursos de balé, o maior prêmio foi em uma excursão da Rússia para França em que ganhei 300 mil euros, ficando em primeiro lugar, em balé clássico, foi difícil, mas eu venho vencendo e batalhando por todos meus sonhos, então qual é minha surpresa ao voltar para casa e minha mãe me entregar a carta de aceitação na faculdade de dança de Londres? Comemoramos, e bem, tudo o que eu sei é que devo toda a minha felicidade a Deus, sei que ele sempre esteve ao meu lado, sempre me ajudou em minhas escolhas e sem ele eu nao seria nada, sou cristã desde que me entendo por gente, minha mãe nunca foi muito religiosa mas, meu pai me apresentou a igreja e bem, ao menos uma coisa boa ele me fez, mas estou aqui, não me agüentando de alegria e conhecendo Londres pela primeira vez, isso é muito mais do que um dia sonhei para mim e nem acredito que estou realizando tudo, só pude perceber que eu estava parada no meio da rua olhando para o nada enquanto pensava em minha vida, para minha alegria e êxtase vi passarem vários ônibus vermelhos, eu era louca para andar em um, só não pegava um agora porque tinha muitas malas, mas teria tempo para andar neles, e foi então que o primeiro arrepio percorreu meu corpo, foi algo estranho, meu corpo inteiro se arrepiou, e minha cabeça latejou, o frio gélido me percorreu e por um segundo tive a sensação de estar sendo observada, me virei e olhei ao meu redor atentamente, tinham várias pessoas ao meu redor, mas nenhuma delas pareciam sequer me ver ali, balancei minha cabeça, estava ficando paranóica, parei o primeiro taxi que achei e dei o endereço da universidade, o taxista sorriu para mim.