Prólogo

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Cansado, ele encarava um lago que não era feito de água.

Já havia passado tanto tempo que nem tinha dado conta. Era natural que deixasse de contar os dias após um período tão longo.

Parado e de pé, forçava a memória a lembrar de rostos, nomes e cenários que já estavam quase perdidos.

De fato, havia passado tempo demais.

Encostou a mão em uma das paredes de pedra alaranjada, perfeitamente esculpidas pela chuva e pelo vento suave.

Esculpidas também pelo tempo. E por algo mais, que ele evitava pensar.

A iluminação abundante era derramada no ambiente vinda das laterais e do alto. Entrava em feixes de tamanhos distintos, agressivos, vindos de um céu azul sem nuvens e de sol escaldante. As partículas de terra dançavam em cada risco de luz.

Estava em um grande salão natural, sem qualquer outro indício de vida, exceto a dele.

Deixou escapar um pesaroso suspiro enquanto projetou o corpo para sentar-se em outra pedra, larga o suficiente para acomodar uma pessoa. Tornou a encarar o lago e a pequena ponte que o cruzava, igualmente rochosa. Demorou alguns minutos para notar que uma parte da atadura que usava estava solta. Ele a amarrou com mais força em torno do peito e de um dos ombros.

O tecido cobria algo escuro.

Ele deitou, e ainda que sentisse uma dor excruciante de cima a baixo, sofrimento algum comparava-se ao desespero que era experimentado pela alma. Distraiu-se com a imensidão daquele lugar, tão vibrante quanto solitário. O pensamento andava em círculo e por mais que ele buscasse a solução para sua tormenta, não encontrava respostas satisfatórias.

Restava, então, a dádiva de fechar os olhos e adormecer.

Perdido naquele cenário, conseguiu dormir, depois de extensa meditação. Pela primeira vez, desde aquele dia.

O dia em que tudo mudara.

O dia que tempo algum apagaria de sua lembrança.


Os Descendentes e a Ferida da Terra (Livro Um)Onde histórias criam vida. Descubra agora