Capítulo 24 - A Suspeita

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Era o penúltimo dia antes das aulas voltarem. O sábado estava mais frio do que os dias anteriores e o sol preferiu se esconder por trás das nuvens cinzas que carregavam o céu da região do Castelo de Sorin.

Ian caminhava por um dos corredores e se dirigia para a Sala da Regência. Suas bochechas, costumeiramente salpicadas de vermelho, estavam mais visíveis com aquele clima gélido. Um casaco e um gorro o ajudavam a combater o frio.

O menino não dormira bem na última noite. O terceiro olho o incomodara bastante e agora estava ali, membro permanente de seu corpo. Ian ainda se percebia olhando para cima às vezes para tentar vê-lo, como se isso fosse possível.

Outro detalhe que tinha percebido foi que as pessoas nos corredores olhavam para ele – e para seu terceiro olho, que estava fechado – sem disfarçar, desde que saíra do quarto. Era uma sensação estranha. Na escola sempre passava despercebido – quando não era alvo da zombaria de alguém – e o mesmo acontecia com sua vida rotineira.

Ali em Terraforte ele ganhara mais exposição, ainda que muitos não soubessem que era herdeiro de Erin. Isto é, até aquele momento. O fato de estar perambulando sozinho o incomodava ainda mais. Não tinha falado com nenhum dos outros quatro desde o dia anterior, quando treinara enfrentando a salamandra.

— Ian! – a voz de Mabel soou atrás dele.

Quando ele virou, a menina não conseguiu disfarçar a surpresa ao olhar para a testa dele.

— Uau! Isso é um olho? – ela perguntou tão alto que algumas pessoas próximas olharam. Sem jeito, Ian confirmou.

O menino começara a contar o que tinha acontecido quando Higino e Norah apareceram.

— E aí, como foram de treinamento? – perguntou o magricela.

— Bem – disse Mabel. – alguns arranhões, mas nada grave. — O que é isso na sua... – Higino quase finalizou a pergunta ao notar a testa de Ian, mas foi interrompido por Mabel.

— Um terceiro olho! – completou a menina. – não é incrível?

— Acho que ela está mais empolgada com ele do que eu – Ian respondeu para o amigo, rindo.

— Você consegue abrir? – perguntou Higino.

— Sim – disse Ian. – mas prefiro fazer isso em outro lugar. Aqui vai chamar muito a atenção. As pessoas não param de olhar para mim.

— Te entendo – disse Norah, com um ar de superioridade que não incomodou nenhum dos outros três.

— Acostume-se, amigão! Agora você é oficialmente uma celebridade aqui – disse uma voz alta, se aproximando deles.

Napoleon estava diante dos quatro com um curativo na cabeça e sua arrogância característica.

— O que você quer dizer? – perguntou Mabel.

— Não sejam burrinhos. Se apenas os descendentes têm heranças, imagina o que acontece quando elas ficam aparentes... – disse ao movimentar os braços e pernas metálicos. – todos os olhares viram para você. Dou menos de uma semana para seu nome correr por esse lugar. E os de vocês também – ele disse ao apontar para o trio. – já que são descendentes e estão sempre juntos. Agora que esse... – ele parou para analisar. – terceiro olho surgiu, dê adeus à uma vida discreta por aqui.

Os Descendentes e a Ferida da Terra (Livro Um)Onde histórias criam vida. Descubra agora